53991 - COMO MEDIDAS DE RESTRIÇÃO DE MOBILIDADE E REORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19 INFLUENCIARAM A REALIZAÇÃO DE CIRURGIAS? ELZO PEREIRA PINTO JUNIOR - CIDACS/FIOCRUZ-BA, PEDRO DE OLIVEIRA SILVA - ISC/UFBA, MARIANNA SILVA DOS SANTOS - ISC/UFBA
Apresentação/Introdução Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o aumento do número de COVID-19 como uma Emergência de Saúde Pública Internacional, alertando os governos sobre a necessidade de conter a propagação do novo coronavírus (SARS-COV-2) e desenvolver estratégias para atendimento à população durante a pandemia. Esse cenário impactou profundamente a cadeia de serviços de saúde, especialmente no âmbito hospitalar, influenciando a realização de cirurgias em todo o mundo.
A necessidade de leitos para pacientes com COVID-19 reduziu a capacidade disponível para pacientes cirúrgicos, obrigando os hospitais a priorizar casos graves de COVID-19 e limitando a disponibilidade de leitos pós-operatórios. Protocolos rigorosos de controle de infecção foram implementados, incluindo testes pré-operatórios e uso extensivo de equipamentos de proteção individual (EPI) resultando em atrasos e redução na capacidade cirúrgica.
As medidas de restrição de mobilidade também desempenharam um papel significativo. O fechamento de fronteiras e restrições de viagem dificultaram o acesso de pacientes a tratamentos especializados e reduziram a capacidade de hospitais em realizar cirurgias eletivas. Muitos hospitais foram convertidos em centros exclusivos para tratamento de COVID-19, limitando ainda mais a disponibilidade de salas cirúrgicas e recursos para outras condições de saúde.
Objetivos Avaliar como as medidas de restrição de mobilidade e reorganização dos serviços de saúde durante a pandemia de Covid-19 influenciaram a ocorrência e as características dos procedimentos cirúrgicos realizados em hospitais vinculados ao Sistema Único de Saúde, em Salvador-Bahia.
Metodologia Estudo epidemiológico com microdados desidentificados e de acesso público a partir de consulta ao Sistema de Informação Hospitalar do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS). A população do estudo foi composta por todos os indivíduos, independentemente do sexo e faixa etária, residentes em Salvador-Bahia, que passaram por procedimentos cirúrgicos em instituições de saúde vinculadas ao SUS. Foram analisados os procedimentos cirúrgicos realizados de janeiro de 2018 a dezembro de 2022. A análise dos dados ocorreu em duas etapas: estatística descritiva, com cálculos de médias móveis de três meses e letalidade hospitalar, e realização de teste estatístico de Kruskal-Wallis para comparar as medianas das características das internações para realização de procedimentos cirúrgicos. As análises foram realizadas no software Stata, versão 15.0. Por se tratar de um estudo com dados secundários, desidentificados e de domínio público, não foi necessária submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa.
Resultados e Discussão De Janeiro de 2018 à Dezembro de 2022 foram realizados 564.498 procedimentos cirúrgicos em residentes de Salvador-BA. Desse montante, 15,0% foram cirurgias do sistema osteomuscular. A análise das médias móveis evidenciou queda substancial a partir de Março de 2020 na quantidade de hospitalizações para realização de procedimentos cirúrgicos. Nesse mesmo período, também foi possível observar aumento na proporção de atendimentos de urgência, quando comparados aos eletivos. Na análise por tipos de procedimentos cirúrgicos específicos, foi possível observar que o segundo trimestre de 2020 foi marcado por uma redução substancial na quantidade procedimentos cirúrgicos do sistema osteomuscular, do aparelho circulatório e cirurgias oncológicas. Na análise do indicador relacionado aos procedimentos obstétricos, essa queda foi menor e surgiu apenas no primeiro trimestre de 2021. Após a realização do Teste de Kruskall-Wallis, foi possível observar que nos primeiros meses da pandemia (Março a Agosto de 2020) houve redução estatisticamente significante ao nível de 95% na realização de procedimentos cirúrgicos totais, eletivos, cirurgia do sistema osteomuscular, do aparelho circulatório e oncológica. Ao analisar a letalidade hospitalar, foram observadas diferenças estatisticamente significantes apenas na realização de procedimentos cirúrgicos totais, do aparelho circulatório e oncológicos.
Conclusões/Considerações finais Este estudo demonstrou redução na quantidade de procedimentos cirúrgicos realizados em Salvador-BA nos primeiros meses após o início da pandemia de COVID-19, sendo mais proeminente naqueles procedimentos relacionados ao aparelho circulatório e cirurgias oncológicas. Além disso, a letalidade hospitalar, que marca a gravidade dos casos e complicações após a realização desses procedimentos, também aumentou.
O adiamento das cirurgias durante o início da pandemia produziu uma série de desafios para o sistema de saúde. A demanda reprimida por procedimentos cirúrgicos aumentou as filas de espera para uma série de intervenções, sobrecarregando ainda mais os hospitais. Em termos de efeitos a longo prazo, o adiamento das cirurgias pode resultar em uma piora da qualidade de vida dos pacientes, bem como em um aumento da morbidade e mortalidade associadas às condições subjacentes para as quais as cirurgias foram originalmente indicadas.
Referências Alshibli, A. K., Teklehaimanot, M. G., Seyoum, et al. (2022). Changes in Surgical Volume and Outcomes During the Coronavirus Disease 2019 Pandemic at Two Tertiary Hospitals in Ethiopia: A Retrospective Cohort Study. Anesthesia and analgesia, 134(6), 1297–1307. https://doi.org/10.1213/ANE.0000000000005946
Aquino, E. M. L., Silveira, I. H., Pescarini, J. M., et al. (2020). Social distancing measures to control the COVID-19 pandemic: potential impacts and challenges in Brazil. Medidas de distanciamento social no controle da pandemia de COVID-19: potenciais impactos e desafios no Brasil. Ciencia & saude coletiva, 25(suppl 1), 2423–2446. https://doi.org/10.1590/1413-81232020256.1.10502020
COVIDSurg Collaborative (2020). Elective surgery cancellations due to the COVID-19 pandemic: global predictive modelling to inform surgical recovery plans. The British journal of surgery, 107(11), 1440–1449. https://doi.org/10.1002/bjs.11746
|