52896 - A PANDEMIA DA COVID-19 E O PROCESSO DE TRABALHO DA EQUIPE DE SAÚDE BUCAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE EM UMA CAPITAL DO NORDESTE ADRIELE SOUZA CASTRO CALDAS - UFBA, SANDRA GARRIDO DE BARROS - UFBA
Apresentação/Introdução A pandemia pela doença causada pelo coronavírus 2019 (covid-19) iniciou em março de 2020, afetando as práticas em saúde por causa da transmissão do vírus SARS-CoV2, também presente na cavidade oral afetando diretamente o processo de trabalho dos cirurgiões-dentistas. Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde construíram protocolos com diretrizes para orientar as instituições de saúde dos países quanto ao enfrentamento do vírus. No Brasil, o Ministério da Saúde criou normativas para orientar as práticas de saúde no SUS, incluindo a Atenção Primária à Saúde, havendo manutenção dos procedimentos de urgência e emergência e a suspensão dos atendimentos eletivos. Nesse sentido, houve a reorganização na biossegurança e nas medidas preventivas específicas para o ambiente odontológico. A incorporação das novas normativas ocorreu em diferentes cenários no mundo e no Brasil. Nesse sentido, a condução na atenção à saúde bucal pode ter ocorrido de diferentes formas nos municípios diante das mudanças preconizadas e com o deslocamento da equipe de Saúde Bucal (eSB) para apoiar o enfrentamento à pandemia no âmbito da APS ou não. Por outro lado, esse deslocamento para outros espaços e a participação em atividades diversas pode ter contribuído para um olhar mais ampliado dos eSB enquanto integrante da APS e do seu papel no processo de trabalho em saúde.
Objetivos O presente trabalho teve por objetivo geral analisar a (re)organização do processo de trabalho das equipes de saúde bucal na APS na pandemia da covid-19 em uma capital do nordeste; e como objetivos específicos analisar a inserção da equipe de Saúde Bucal (eSB) no processo de trabalho na APS durante a pandemia de covid-19; analisar o perfil profissional dos agentes envolvidos e as práticas adotadas na reorganização do processo de trabalho da saúde bucal na APS.
Metodologia Foi realizado um estudo de caso, de abordagem quantitativa e qualitativa, no período de março de 2020 a janeiro de 2023 com cirurgiões-dentistas (CD) em uma capital do nordeste. Na perspectiva quantitativa, foi realizado um estudo de corte transversal, com aplicação de questionário estruturado com os CD da APS, enquanto na perspectiva qualitativa foram realizadas entrevistas semiestruturadas tanto com CD da APS quanto da gestão. O quadro teórico de referência da pesquisa tem como luz a ‘Teoria do Processo de Trabalho em Saúde’ e os Modelos de Atenção à Saúde. Foi aplicado o questionário autoaplicável online e complementado por entrevistas semiestruturadas com dentistas selecionados a fim de identificar o perfil dos profissionais e as práticas de saúde bucal realizadas antes e durante a pandemia. Foi realizada ainda entrevista semiestruturada com a coordenação de saúde bucal municipal, entre março de 2020 até março de 2022, a fim de apreender o papel da gestão nas mudanças nas práticas de saúde bucal durante o período em estudo. Para análise estatística, foi utilizado o pacote Minitab 17. As questões abertas e as entrevistas semiestruturadas foram analisadas quanto ao seu conteúdo.
Resultados e Discussão Participaram do estudo 46 cirurgiões-dentistas da APS e 1 da coordenação de saúde bucal do município. A maioria dos profissionais tinham entre 20 a 25 anos de formados, possuíam pós-graduação em nível de especialização, atuavam no município há aproximadamente 10 anos e eram servidores públicos estatutários. Observou-se que, antes da pandemia, os dentistas realizavam procedimentos assistenciais, ações de promoção e prevenção de uma maneira mais equânime. Entretanto, durante a suspensão dos atendimentos eletivos na pandemia, houve um foco na realização das ações para o enfrentamento a covid-19 dentro e fora das unidades de saúde e nos atendimentos de urgências odontológicas. Com o retorno dos atendimentos eletivos, houve um aumento expressivo dos procedimentos curativos, com retorno gradual de ações coletivas de promoção e prevenção. Apesar de haver uma prática em saúde que dialoga com distintos modelos de atenção à saúde antes da pandemia, ainda prevalece a reprodução do modelo médico-assistencial privatista (odontologia de mercado) após o retorno dos atendimentos eletivos, com uma ênfase maior na realização de procedimentos curativos, com uma organização do processo de trabalho da equipe de saúde bucal que se distancia do preconizado pela política nacional de saúde bucal e outras diretrizes da atenção primária à saúde no Brasil.
Conclusões/Considerações finais Observou-se maior incorporação pelos dentistas de ações voltadas ao enfrentamento da pandemia junto com a equipe multiprofissional, durante a suspensão dos atendimentos eletivos, como realização de teste para covid-19, monitoramento dos usuários sintomáticos e também de procedimentos assistenciais odontológicos de urgência. A maioria dos profissionais participantes são servidores públicos, com especialização, com vínculo maior que 10 anos nas Unidades de Saúde, na maioria, com Estratégia da Saúde da Família. Entretanto, este fator não possibilitou identificar uma ruptura maior com o modelo hegemônico biomédico no cenário municipal. Cabe destacar que, mesmo com o avanço da inserção da equipe de saúde bucal no processo de trabalho em saúde antes da covid-19, ainda há desafios a serem enfrentados, como a demanda historicamente reprimida agravada pela suspensão dos atendimentos eletivos e com os carecimentos herdados da pandemia da covid-19, que demandam a reorganização de toda a APS.
Referências ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Nota Técnica GVIMS/GGTES/ANVISA No 04/2020. Orientações para vigilância, identificação, prevenção e controle de infecções fúngicas invasivas em serviços de saúde no contexto da pandemia da COVID-19, p. 118, 2021; CARRER, F. C. de A, et al. A COVID-19 na América Latina e suas repercussões para a odontologia. Revista Panamericana de Salud Publica, [S. l.], v. 44, p. 1–2, 2020; GIOVANELLA, L., et al. A contribuição da Atenção Primária à Saúde na rede SUS de enfrentamento à Covid-19. Saúde em Debate, [S. l.], v. 44, n. spe4, p. 161–176, 2020; MENDES-GONÇALVES, Ricardo Bruno. Práticas de saúde: processos de trabalho e necessidades. São Paulo. 53 p.; PAIM, Jairnilson Silva. Modelos de atenção à saúde no Brasil. Em: FIOCRUZ (org.). Políticas e sistema de saúde no Brasil. 2nd. ed., Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2012. p. 459–491.
Fonte(s) de financiamento: Financiamento próprio.
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