Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC4.15 - Estudando uma emergência global (Covid-19)

52705 - ANÁLISE DAS RESPOSTAS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA NO ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA DA COVID -19 NA DIMENSÃO DA CLÍNICA AMPLIADA
TIAGO FEITOSA DE OLIVEIRA - UFPE E UNICAP, BERNADETE PEREZ COELHO - UFPE, GABRIELLA MORAIS DUARTE DE MIRANDA - UFPE


Apresentação/Introdução
Diante da complexidade e do caráter desafiador da atuação da APS e do SUS, esta pesquisa ouviu trabalhadores e usuários em situação de vulnerabilidade social, durante a pandemia pelo SARS-Cov-2, buscando identificar a analisar sua compreensão acerca da história de sua relação com a saúde e com o SUS, com foco nas mudanças ocorridas durante a pandemia e ainda avaliar como foi a reorganização da Clínica no atendimento das pessoas. Assim, a pergunta que norteia esse trabalho: quais as respostas da Atenção Primária no enfrentamento da pandemia da COVID - 19 `luz da Clínica Ampliada?A hipótese principal foi o entendimento de que por meio de investimentos na dimensão psicossocial, na clínica ampliada e compartilhada e na democracia institucional, a atenção primária amplia sua capacidade de resolver problemas individuais e coletivos.

Objetivos
Analisar as respostas da Atenção Primária no enfrentamento da pandemia da COVID-19 na dimensão da Clínica Ampliada. Especificamente: analisar as concepções e práticas dos usuários e trabalhadores da APS sobre o cuidado em saúde antes e durante a pandemia; compreender a dinâmica dos processos subjetivos e sociais no cuidado em saúde; analisar os dispositivos e ferramentas da Clínica no enfrentamento dos problemas de saúde no contexto da pandemia.


Metodologia
Pesquisa qualitativa, analítica que utilizou entrevistas em profundidade com dois usuários e dois trabalhadores da Atenção Primária à Saúde em 08 Unidades de Saúde da Família, totalizando 32 pessoas em 4 municípios da Região Metropolitana do Recife, incluindo a capital. O período de referência do estudo foram os anos de 2020 e 2021, que compreenderam o momento de estabelecimento da crise sanitária e do aprofundamento da crise social que a sucedeu. A entrevista em profundidade permitiu aos pesquisadores entrarem em contato com as vivências do informante em um diálogo intenso e reflexivo. a interlocução possibilitou a condução da linha de questionamentos formulando questões, refazendo perguntas e suscitando outras A entrevista gravada e transcrita, facilita a extração e categorização das opiniões e experiências vivenciadas em eixos temáticos para análise e interpretação posterior. No material produzido é possível enxergar a expressão do coletivo através da visão individual dos sujeitos que vivem as mesmas condições históricas, socioeconômicas e culturais.


Resultados e Discussão
O atendimento presencial das pessoas com síndrome gripal ocorreu mediante encaminhamento aos SPAs, emergências, hospitais de campanha; houve falta e posterior restrição de EPIs; restrição do acesso, com orientação para suspensão dos atendimentos, triagem feita pelas equipes à revelia das orientações; SAMU atuou,, ainda que com sobrecarga, testes tardios, centralizados em unidades de referência, suspensão das visitas domiciliares. Atendimento remoto em todas as unidades pelo wpp da equipe, a maioria mediante forte vínculo terapêutico entre equipe e população; monitoramento dos casos suspeitos e confirmados por telefone, a maior parte sem protocolo de acompanhamento. Atendimento presencial e remoto às pessoas com agravos crônicos e continuidade do cuidado com forte restrição de acesso, com diferenças na orientação, longitudinalidade prejudicada, avaliação de risco/vulnerabilidade priorizando idosos e gestantes. Não participaram da elaboração de protocolos, com pouco treinamento e utilização na unidade de forma heterogênea e tardia. Suspensão de consultas eletivas especializadas, restrição/suspensão de exames e dispositivos diagnósticos e terapêuticos, ausência de retaguarda em rede e piora da fila de espera. Ausência da coordenação do cuidado nas pessoas com covid e demora para retomada em pacientes com agravos crônicos - a maior parte após 2022.


Conclusões/Considerações finais
As evidências caminham na necessidade de fortalecimento da APS partindo da combinação de ações próprias da vigilância à saúde, juntamente com ampliação do acesso, avaliação de vulnerabilidades e apoio matricial para ampliar a capacidade de realizar diagnósticos, monitorização e avaliação de ações de saúde no âmbito coletivo. A clínica ampliada, a diversidade de dispositivos terapêuticos, de base comunitária, a necessária ampliação da cobertura para alcance da universalidade apoiam a capacidade de resolver problemas individuais e coletivos. Portanto, para além do conjunto de agravos infecciosos, a violência, o planejamento das cidades, a mobilidade urbana, os agravos em saúde mental, as doenças e agravos não trasmissíveis e o apontamento para um devir de novas emergências sanitárias, necessitam de ação articulada com outras áreas de atuação.


Referências
CAMPOS, GWS. Um método para análise e cogestão de coletivos. 2ed. SP: Hucitec, 2005.
COÊLHO, BP; COUTO, GA. O modelo de atenção e gestão em Recife: a dupla tarefa da produção de saúde e da produção de sujeitos no Sistema Único de Saúde. Divulgação
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COÊLHO, BP et al. O Modelo Recife em Defesa da Vida e a aposta na Atenção Básica à Saúde como estratégia de organização da rede de saúde: política, subjetividade e invenção de práticas. Divulgação em Saúde para Debate, Rio de Janeiro, n. 47, p. 39-45, maio 2012.
HORTON, R. COVID-19 is not a pandemic. Lancet 2020; 396:874.
JUNIOR, JPB; SANTOS, DB. COVID-19 como sindemia: modelo teórico e fundamentos para a abordagem abrangente em saúde, Cadernos de Saúde Pública 37 nº.10, Rio de Janeiro, Outubro 2021.
MINAYO, MCS. O Desafio do Conhecimento - Pesquisa Qualitativa em Saúde - 11a Ed. Hucitec; 2010.

Fonte(s) de financiamento: FACEPE

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