Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC4.15 - Estudando uma emergência global (Covid-19)

51296 - CUIDADO DE SAÚDE À COVID LONGA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO: UM ESTUDO DE MÉTODOS MISTOS SOBRE NECESSIDADES, BARREIRAS E OPORTUNIDADES
BÁRBARA CALDAS - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA/FIOCRUZ, MARGARETH PORTELA - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA/FIOCRUZ, SHEYLA LIMA - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA/FIOCRUZ, MÔNICA MARTINS - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA/FIOCRUZ, CARLA ANDRADE - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA/FIOCRUZ, BRENDA RODRIGUES - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA/FIOCRUZ, MICHELLE BERNARDINO - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA/FIOCRUZ, LETÍCIA SOARES - PATIENT-LED RESEARCH COLLABORATIVE, FLORA CORNISH - LONDON SCHOOL OF ECONOMICS AND POLITICAL SCIENCE, EMMA-LOUISE AVELING - HARVARD T H CHAN SCHOOL OF PUBLIC HEALTH


Apresentação/Introdução
A pandemia da COVID-19 exacerbou as disparidades de saúde no Brasil, com maior exposição e piores resultados afetando grupos socioeconomicamente vulneráveis(1). A COVID longa (CL), ou síndrome pós-COVID, é uma condição que pode se desenvolver após uma infecção aguda por SARS-CoV-2, durando ao menos quatro semanas até anos(2); faz parte de um grupo de doenças crônicas associadas à infecção(3). A CL afeta milhões de pessoas em todo o mundo, com impactos substanciais na qualidade de vida, no emprego e na participação social. Dadas as dimensões da pandemia da COVID-19 no Brasil, estima-se que a CL afete milhões de brasileiros, com um impacto desproporcional nas populações marginalizadas que já enfrentam desafios no acesso a cuidados de saúde de qualidade. Cuidado público de saúde adequado à CL é essencial para combater e prevenir a exacerbação das iniquidades socioeconômicas e de saúde. No entanto, o diagnóstico e a coordenação do cuidado à CL no Sistema Único de Saúde (SUS) são desafiadores devido à limitada conscientização do público sobre a doença e ao fato de a CL ser uma doença multissistêmica com etiologia e história natural complexas, incluindo múltiplos mecanismos fisiopatológicos que se sobrepõem e sintomas variáveis e flutuantes.

Objetivos
Com foco na cidade do Rio de Janeiro, este estudo interdisciplinar e envolvendo acadêmicos e pesquisadores-pacientes teve como objetivo estimar a prevalência de CL e avaliar as percepções de pacientes e de profissionais do SUS sobre os cuidados à CL, a fim de construir uma base de evidências para informar a política de saúde centrada na equidade para a CL no SUS.

Metodologia
Parte quantitativa. Em um estudo de coorte com amostra probabilística, pesquisamos 651 adultos hospitalizados por COVID-19 no SUS na cidade do Rio de Janeiro entre dezembro de 2020 e novembro de 2022. Avaliamos prevalência de sintomas de CL, efeitos da CL na qualidade de vida relacionada à saúde e no emprego, bem como necessidades, utilização e barreiras de acesso ao cuidado de saúde.
Parte qualitativa. Entrevistas semiestruturadas com usuários do SUS que vivem com CL e profissionais do SUS. Amostragem intencional dos participantes para abranger experiências diversas, incluindo 29 profissionais envolvidos com planejamento, monitoramento e prestação de cuidados à CL, desde gestores no nível central a profissionais da ponta em diversos bairros; e 31 usuários do SUS que vivem com CL, recrutados por diferentes estratégias buscando incluir perspectivas e experiências diversas (p.ex., idade, gênero, raça, situação laboral). Análise temática das entrevistas para identificar experiências de vida com CL, busca e uso de cuidados para CL, fluxos de cuidado existentes no SUS, e barreiras e oportunidades para o cuidado centrado no paciente para CL no SUS.


Resultados e Discussão
A pesquisa quantitativa indicou alta mortalidade dos pacientes que receberam alta (12,4%) e alta prevalência de sintomas de CL, com 91,2% dos participantes relatando ao menos um sintoma e 39,3% se autoidentificando como tendo CL, mas apenas 8,3% com diagnóstico de CL por um profissional de saúde. Os sintomas mais comuns foram: fadiga, mal-estar pós-exercional, artralgia, alterações no sono e comprometimento cognitivo. Quase 50% dos participantes relataram ter precisado de cuidados para problemas de saúde que surgiram ou pioraram após a COVID-19 nos seis meses anteriores à pesquisa, porém, apenas 62,6% destes utilizaram os serviços especializados que relataram precisar, sobretudo no setor privado.
Os desafios para acessar cuidados adequados para CL foram elaborados nas entrevistas qualitativas. Enquanto os pacientes enfrentavam dificuldades para acessar à atenção primária e longas esperas para atenção especializada, os profissionais se sentiam sobrecarregados, tendo que fazer escolhas difíceis ao empregar recursos insuficientes, por vezes limitando a investigação de queixas relacionadas à CL. Concepções equivocadas, falta de conhecimento sobre CL e pouca orientação quanto ao diagnóstico e fluxos de cuidado contribuíram ainda mais para o subdiagnóstico, o subtratamento e a percepção de falta de demanda, reforçando a despriorização da CL na política e no planejamento. Embora profissionais tenham relatado consultas não preenchidas nas clínicas pós-COVID, apesar da alta necessidade que nosso estudo demonstra, os pacientes, no geral, lutavam para entender sintomas ou acessar o cuidado. Os impactos negativos em suas vidas foram significativos: participantes relataram não conseguir mais trabalhar o suficiente para se sustentar e/ou participar de atividades sociais como antes.


Conclusões/Considerações finais
Apesar da alta prevalência de sintomas e da enorme necessidade de saúde não atendida entre os pacientes com COVID longa, nossos resultados indicam que a COVID longa está sendo apagada em um sistema de saúde público sobrecarregado. Nossa pesquisa identifica oportunidades para melhorar o reconhecimento das necessidades e da demanda relacionadas à COVID longa e as implicações para a promoção de cuidados equitativos para doenças crônicas associadas à infecção.

Referências
1. Portela MC, Martins M, Lima SML, De Andrade CLT, De Aguiar Pereira CC. COVID-19 inpatient mortality in Brazil from 2020 to 2022: a cross-sectional overview study based on secondary data. Int J Equity Health. 2023;22(1):238.
2. CDC. Centers for Disease Control and Prevention. 2024 [citado 7 de junho de 2024]. Post-COVID Conditions. Disponível em: https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/long-term-effects/index.html
3. Choutka J, Jansari V, Hornig M, Iwasaki A. Unexplained post-acute infection syndromes. Nat Med. 2022;28(5):911–23.

Fonte(s) de financiamento: Programa de Fomento ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Ensp/Fiocruz e Harvard University Lemann Brazil Research Fund.


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