51021 - IMPACTO DA PANDEMIA DA COVID-19 NO ACESSO À REALIZAÇÃO DO EXAME CITOPATOLÓGICO DO COLO DO ÚTERO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (APS) NÍDIA OLIVEIRA BEZERRA - UEFS, MARISTELA DOS SANTOS SANTANA - UEFS
Apresentação/Introdução O câncer de colo do útero ocupa a terceira posição entre os cânceres que acometem mulheres no Brasil, e a quarta causa no que tange à mortalidade desta população (Brasil, 2023). A primeira forma de prevenção consiste na diminuição do contágio do papilomavírus humano (HPV) através do uso de preservativos e pela vacinação contra o HPV. Secundariamente, tem como estratégia o seu rastreamento através do exame citopatológico, conseguindo assim o diagnóstico precoce. Tais medidas contribuem para que as chances de cura com o tratamento nas fases iniciais sejam de 100% (Tallon et al., 2020). Desde que a pandemia da Covid-19 foi decretada pela Organização Mundial de Saúde, em 11 de março de 2020, muitas medidas de controle da doença foram introduzidas, como isolamento e distanciamento social (Aquino et al., 2020). Neste cenário, destaca-se a suspensão de consultas agendadas na Atenção Primária à Saúde (APS), como a coleta de material para colpocitologia oncótica do colo do útero. As equipes da APS ficaram dedicadas a atender os casos suspeitos de síndrome gripal e demandas consideradas urgentes. Como consequência, observou-se o quanto a pandemia fragilizou os atendimentos, consultas e exames dos usuários da APS, favorecendo a curto, médio e longo prazos a evolução de doenças, a exemplo do câncer de colo do útero, o que pode impactar negativamente na saúde/vida das mulheres.
Objetivos Identificar o impacto da pandemia da Covid-19 no acesso à realização do exame citopatológico de colo do útero na APS, em um município de pequeno porte da Bahia;
Conhecer as estratégias e tecnologias utilizadas pelo município para proporcionar/viabilizar o acesso das usuárias ao exame citopatológico de colo do útero no contexto de distanciamento social.
Metodologia Estudo de abordagem qualitativa, do tipo exploratório, tendo como campo de estudo um município de pequeno porte da Bahia, pertencente a Macrorregião de Saúde Centro-Leste, com foco na APS. As participantes do estudo foram enfermeiras das equipes de Saúde da Família e gestoras do SUS, que atuavam desde março de 2019 no município, ou seja, período anterior ao início da pandemia da Covid-19. A técnica de coleta de dados foi a entrevista semiestruturada. Foram entrevistadas 06 participantes, todas com formação em Enfermagem, com tempo de atuação no município variando entre 08 a 22 anos. O método de análise dos dados foi a Análise de Conteúdo, baseado em Minayo (2014). O estudo respeitou os aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos, regulamentados nas Resoluções 466/2012 e 510/2016. Portanto, a participação das enfermeiras e gestoras esteve condicionada à aceitação e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), e a entrevista só ocorreu após a aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), sob o número do Parecer: 6.102.259 / CAAE: 67257623.1.0000.0053.
Resultados e Discussão Foram muitos os desafios enfrentados pelos profissionais da APS no contexto de pandemia, sendo necessárias estratégias como o espaçamento de horários entre os atendimentos; suspensão de alguns serviços; o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde; e o uso do aplicativo WhatsApp, para conseguir manter o contato e o acesso dos usuários aos serviços de saúde. A pandemia da Covid-19 representou um cenário de medo e insegurança para os usuários do serviço de saúde e para os profissionais. Manter o acesso aos serviços exigiu dos profissionais e dos gestores do município coragem e criatividade diante do que era novo e incerto. Mesmo com medo, carência de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e de capacitações, estes tiveram que atuar. A pandemia fragilizou os atendimentos da APS, favorecendo a curto, médio e longo prazos a evolução de doenças, a exemplo do câncer de colo do útero (CCU). Tendo em vista que no Brasil surgem cerca de 16.000 novos casos do CCU por ano, com uma mortalidade em torno de 5.700 óbitos (SBOC, 2018), o impacto da pandemia sobre o acesso à realização do exame preventivo, pode influenciar negativamente no rastreamento precoce do CCU, que quando realizado de forma adequada, tem um alto potencial de salvar vidas e reduzir custos no sistema de saúde. Isso porque o exame é capaz de detectar lesões precursoras do CCU na fase inicial, contribuindo significativamente para a redução da morbimortalidade associada à doença (Ferreira et al., 2022). A sua procura na APS antes da pandemia já era baixa, o que vem se repetindo no período pós pandemia, devido, principalmente, à demora na entrega dos resultados. A interrupção do serviço durante a pandemia, bem como a baixa procura pelo exame, antes e após a pandemia, podem contribuir para o desenvolvimento do CCU.
Conclusões/Considerações finais Na pandemia da Covid-19, as atividades da APS tiveram que ser reorganizadas para que fosse possível a continuidade do cuidado e a manutenção das atividades consideradas essenciais, enquanto outras tiveram que ser temporariamente suspensas. Apesar do risco de contágio pelo vírus SARS-CoV-2, os profissionais de saúde atuaram em meio ao medo de contaminação, carência de EPI, dúvidas e incertezas sobre a nova realidade de saúde. Muito pouco foi publicado sobre os impactos da pandemia da Covid-19 no acesso aos serviços da APS. Estudos ainda precisam ser ampliados para mensurar os impactos causados pela suspensão de serviços de saúde, e consequente ausência de prevenção, promoção e recuperação da saúde, levando a mortes preveníveis, a exemplo do CCU. Assim, as fragilidades da APS, evidenciadas durante a pandemia, precisam ser trabalhadas/superadas, para que tenhamos uma APS fortalecida, capaz de manejar de forma correta os impactos sofridos neste período, evitando, assim, morbimortalidades.
Referências AQUINO, E. M. M. L. et al. Medidas de distanciamento social no controle da pandemia de COVID-19: potenciais impactos e desafios no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, Supl. 1, p. 2423-2446, 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Câncer do colo do útero. Conteúdo atualizado em 06 jul. 2023.
FERREIRA, M. C. M. et al. Detecção precoce e prevenção do câncer do colo do útero: conhecimentos, atitudes e práticas de profissionais da ESF. Ciência & Saúde Coletiva, v. 27, n. 6, p. 2291-2302, 2022.
MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14 ed. São Paulo: Hucitec, 2014.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ONCOLOGIA CLÍNICA (SBOC). Notícias: SBOC divulga que 52% não fazem exame ginecológico preventivo de câncer. 2018.
TALLON, B. et al. Tendências da mortalidade por câncer de colo no Brasil em 5 anos (2012-2016). Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 44, n. 125, p. 362-371, abr./jun. 2020.
Fonte(s) de financiamento: Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica da Universidade Estadual de Feira de Santana (PROBIC/UEFS).
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