Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC4.14 - Rede de Atenção à saúde do Trabalhador

50945 - SOBRECARGA DE TRABALHO, SAÚDE MENTAL E A REDE DE CUIDADOS DE CUIDADORES INFORMAIS DE SOBREVIVENTES DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL: ESTUDO DE MÉTODOS MISTOS.
WERLLANIA STHEFFANNYE VELOSO SANTOS - UFPI, MANOEL BORGES DA SILVA JUNIOR - UFPI, MANOELA GOMES REIS LOPES - UFPI, ERISONVAL SARAIVA DA SILVA - UFPI, LARIZA MARTINS FALCÃO - UFPI, JOSÉ WICTO PEREIRA BORGES - UFPI


Apresentação/Introdução
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é considerado um problema de saúde pública em todo o mundo e representa a segunda causa de morte e a terceira de incapacidade funcional. Sobrevivendo a um AVC, as sequelas podem repercutir sobre a capacidade funcional, logo, após a alta hospitalar haverá a exigência de um cuidador, geralmente informal, que desempenha papel fundamental no atendimento das necessidades humanas básicas e no processo de reabilitação do sobrevivente. Assim, a Rede de Atenção à Saúde, através da Atenção Primária à Saúde (APS), deve implementar estratégias e intervenções eficazes no sentido de minimizar os efeitos da sobrecarga e do sofrimento mental advindos desse cuidado, tanto relacionadas ao ambiente físico, quanto na condução do cuidado com o sobrevivente, visando melhoria na qualidade de vida desses cuidadores informais, muitas vezes invisibilizado. Com isso, a Ergonomia da Atividade (EA) na saúde tem como objetivo avaliar as mudanças nas condições de trabalho e no ambiente que o cuidador está inserido, seja na condição física, psíquica ou econômica do trabalho de cuidador e a partir de então realizar aprimoramentos ou adaptações para o adequado desempenho do trabalho.

Objetivos
Avaliar a saúde mental, a sobrecarga de trabalho e a rede de cuidados de cuidadores informais de sobreviventes de AVC.

Metodologia
Trata-se de um estudo de métodos mistos, no qual os dados foram coletados simultaneamente. Realizou-se, uma pesquisa censitária, onde a população do estudo foram os cuidadores informais de pacientes sobreviventes de AVC de 76 participantes. O estudo qualitativo foi conduzido através de entrevistas semiestruturadas individuais com amostra de 11 participantes. Para investigar o sofrimento mental utilizou-se o instrumento Self Reported Questionnaire (SRQ-20). E para investigar a sobrecarga de trabalho utilizou-se o instrumento de Zarit, que avalia a sobrecarga do cuidador. A mostragem foi intencional e o número de participantes foi estabelecido por meio de saturação teórica, assim, as coletas foram interrompidas com o alcance de 11 entrevistas. A coleta foi realizada de maio a julho de 2023 e os dados armazenados e analisados no SPSS. Realizou frequências absoluta e relativa, medidas de tendência central e dispersão e o estudo qualitativo pela Análise de Conteúdo de Bardin. Teve aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, parecer nº 5.981.191. A participação foi voluntária, mediante Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados e Discussão
A caracterização socioeconômica e demográfica e associação entre as escalas SRQ-20 e Zarit se verificou que 76,3% eram sexo feminino, 63,2% tinham entre 20 e 59, 60,5%, tinha companheiro, 72,4% analfabetos e 69,7% sem ocupação, 2,6% recebem renda para cuidar, 85,5% residem com o sobrevivente, 23,7% exercem outra profissão, 97,4% têm parentesco com o sobrevivente, 52,6%, com renda individual mensal ≥1 salário mínimo, 53,9% têm comorbidade e 52,6% tomam medicamentos. Observou-se a associação do sofrimento mental com ter comorbidade e estes possuem 2,371 mais chances de ter sofrimento mental. Para a sobrecarga de trabalho não foi observada nenhuma associação. A Rede de Cuidados revelou-se falha, pois segundo os cuidadores, quase sempre necessitam envolver outras pessoas, sejam vizinhos ou parentes, para possibilitar uma ida à UBS para cuidar de si: “Para eu ir ao postinho é uma luta porque eu tenho que arrumar uma pessoa pra ficar aqui em casa, chamo minha filha pra ficar aqui pra eu possa ir fazer uma consulta, um exame.” [P07], “É sempre um inferno porque não tem ninguém, às vezes eu peço a vizinha que graças a Deus ela fica, nem sei o que fosse de mim sem ela, até pra me cuidar é complicado.” [P09]. Quanto à visitas domiciliares realizadas pela APS, a maioria relatou que apenas o doente recebe consultas e orientações: “Aqui só anda o ACS, faz umas perguntas e vai embora, ele faz pouco, as vezes nem entra em casa, para de frente e faz algumas perguntas e vai embora” [P08]. A assistência multiprofissional ainda é insuficiente para esses cuidadores, deixando evidente sua invisibilidade frente às suas necessidades de saúde. O ACS é o profissional que mais acolhe e dá assistência e são a eles que os cuidadores recorrem quando necessitam de assistência.

Conclusões/Considerações finais
Evidenciou-se ligeira sobrecarga na maioria dos cuidadores informais e os domínios na esfera biopsicossocial foram os mais afetados, com destaque para questões físicas e emocionais como as fragilidades mais presentes. Desta forma, a AB e a equipe multiprofissional devem propor ações voltadas para essa população visando fortalecer a rede de cuidados para esse público com vistas a redução dos níveis de sobrecarga e sofrimento mental e consequentemente a melhoria da qualidade de vida.

Referências
MACHADO, V. S. et al. Conhecimento da população sobre acidente vascular cerebral em Torres RS. Rev Bras Neurol, v. 56, n. 311-4, jul/ago/set. 2020. DOI:
https://doi.org/10.46979/rbn.v56i3.38210
SILVA, J. V.; REIS, R. D.; ORLANDI, F. S. Impacto da sobrecarga em cuidadores informais de pessoas idosas. Enferm Bras, v. 22, n. 1, p. 64-78, 2023. DOI: 10.33233/eb.v22i1.5228.
DINIZ M. A. et al. Comparative study between formal and informal caregivers of older adults. Cien Saude Colet, v. 23, n. 11, p. 3789-98, 2018. DOI: 10.1590/1413- 812320182311.16932016.
CRESWELL, J. W. (org.). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. John W. Creswell; tradução Magda Lopes; consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição Dirceu da Silva. 3. ed. Porto Alegre. Editora Artmed, 2010. 296p.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. 1. ed. São Paulo: Editora Edições 70, 2016. 282 p.


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