50246 - GÊNERO, CUIDADO E MATERNIDADE: EXPERIÊNCIA DAS MULHERES TRABALHADORAS DE ENFERMAGEM NO PERÍODO DA PANDEMIA STEPHANIA MENDES DEMARCHI - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, JEREMIAS CAMPOS SIMÕES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, ERIKA MARIA SAMPAIO ROCHA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, RITA DE CÁSSIA DUARTE LIMA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, JEANINE PACHECO MOREIRA BARBOSA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, SUSANE PETINELLI SOUSA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, ELIANE DE FÁTIMA ALMEIDA LIMA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, MARIA ANGÉLICA CARVALHO ANDRADE - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
Apresentação/Introdução As mulheres na sociedade capitalista, encontram-se em poucas posições de liderança e são a maioria entre os mais pobres, e isso é consequência de um sistema econômico falho e sexista, no qual o lucro está acima do cuidado, seu trabalho é explorado, e os seus direitos via de regra não são garantidos. As ocupações associadas aos atos do cuidado como: cuidar de outras pessoas, cozinhar e limpar, entre outros, geralmente não são remunerados ou são mal pagos, e são exercidos majoritariamente pelas mulheres em todo o mundo. Entretanto, essas formas de cuidar tem se constituído historicamente na base imprescindível para a produção, e manutenção do bem-estar da sociedade patriarcal, para as comunidades e para a sustentação das economias, independente dos regimes sociopolítico econômico (OXFAM INTERNACIONAL, 2020). Vale destaca que dos grupos de mulheres que cuidam, destacaremos para a pesquisa as mulheres trabalhadoras da equipe de enfermagem. Uma vez que estavam duplamente atingidas ora como mulheres da sociedade que enfrentavam desafios do seu meio social, ora como mulheres trabalhadoras e produtoras do trabalho em saúde/ enfermagem. Destacando-se assim importância de apreender as experiências e narrativas vivenciadas no transcurso do cuidar à época da pandemia, aqui delimitada para o período dos anos de 2019 a 2022.
Objetivos Este artigo tem como objetivo identificar as experiências das profissionais de enfermagem de um hospital universitário no contexto da pandemia de Covid-19 em relação a gênero, cuidado e maternidade.
Metodologia Esta pesquisa, baseia-se em uma abordagem qualitativa e descritiva utilizando a análise de conteúdo (Bardin, 1977) para análise dos dados.
A obtenção de dados se deu utilizando-se esse método, e isso foi realizado após a aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética do Centro de Ciências da Saúde da UFES. Número do parecer 5.469.019. Os critérios de inclusão foram ser profissionais da enfermagem, do sexo feminino, serem funcionárias efetivas da instituição e estiveram trabalhando no período da pandemia. Seguiram-se os seguintes critérios de exclusão: Profissionais afastadas antes da pandemia (licença sem vencimento, licença por motivo de saúde) e profissionais de outras categorias que não aquelas incluídas na população elegível. As entrevistas foram realizadas entre dia 20 de julho de 2022 a 12 de outubro de 2022. Foram entrevistadas 40 mulheres profissionais de enfermagem. Optou-se por utilizar entrevistas com roteiro semiestruturado e diário de campo.
Resultados e Discussão Os resultados são apresentados a partir dos múltiplos impactos gerados pela austeridade sobre as mulheres, classificados didaticamente em quatro aspectos: a) A intensificação do trabalho das mulheres; b) A privatização da responsabilidade; c) A intensificação do patriarcado; e d) O reforço dos estereótipos tradicionais e sua intersecção com outras desigualdades (GALVÉZ-MUÑOZ, 2013).
No contexto de crise, a intensificação do trabalho feminino é um dos efeitos que chama mais atenção, tanto em termos da sua incorporação ou manutenção no mercado de trabalho, como em termos de trabalho doméstico não remunerado e de cuidados (GALVÉZ-MUÑOZ, 2013). Assim, a dupla ou tripla carga de trabalho é um aspecto fundamental a ser considerado na análise da relação entre trabalho e gênero, na qual as mulheres são afetadas de formas desiguais pela responsabilização e pela vida na crise de Covid-19. Mesmo as mulheres que possuíam um trabalho remunerado regular, como a enfermagem, ainda desempenharam o papel principal no trabalho doméstico e no cuidado dos filhos (ANDRADE; BARBOSA; SIQUEIRA, 2022).
O aumento do volume de trabalho é um relato comum entre as mulheres no período da pandemia, isto deve-se a exigências do trabalho, além da sobrecarga provocada pelo confinamento da pandemia que elevou os cuidados com a casa e com os filhos, por parte daquelas que são mães (LEMOS; BARBOSA; MONZATO, 2021). Mulheres com filhos pequenos que demandam ainda mais atenção e cuidado vivenciaram sobrecargas de ordem emocional, nas relações em sociedade, no cuidado dos filhos, na realização de tarefas domésticas, que foram ampliadas pelas demandas da pandemia e sobrecarga financeira (IWAMOTO; PETINELLI-SOUZA, 2024).
Conclusões/Considerações finais Diante das desigualdades dos papéis de gênero, concluiu-se que ficaram ainda mais evidenciados no período da pandemia de Covid-19, quando as mulheres ficaram ainda mais sobrecarregadas com os afazeres em relação ao cuidado com a casa e os filhos, além das demandas aumentadas de trabalho das mães/ trabalhadoras da enfermagem. Assim, se faz necessário refletir sobre a criação de políticas públicas voltadas para a promoção e proteção da qualidade de vida das mulheres. Políticas que sejam capazes de conduzir uma nova sociedade que seja capaz de inovar práticas e cultura de gênero favoráveis às mulheres. Além disso, considerando que a maioria do corpo de trabalhadores da enfermagem é feminino, os direitos garantidos pelo estado a esta categoria é também melhorar a qualidade de vida de um gênero.
Referências Oxfam Internacional. Tempo de cuidar: o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade [Internet]. Oxfam Brasil; 2020.
Galvéz- Muñoz, L. Una lectura feminista del austericidio. Revista de Economía Crítica. 2013; 15: 80-110.
Andrade MAC, Barbosa JPM, Siqueira LAR. Acontecimentalizar: entre a austeridade e os femininos, tentemos o (im)possível! In: Filippon J, Sodré F, Andrade MAC, Siqueira CE. Capitalismo, austeridade e saúde no Brasil: perspectivas da economia política. 1° edição. São Paulo: Hucitec; 2022. Pág. 251-281.
Lemos AHC; Barbosa AO; Monzato PP. Mulheres em home office durante a pandemia da covid-19 e as configurações do conflito trabalho-família. Revista de Administração de Empresas. 2021; 60, 388-399.
Iwamoto HM; Petinelli-Souza S. Trabalho reprodutivo na COVID-19: um estudo com mães. Contribuciones A Las Ciencias Sociales. 2024; 17(1), 425-447.
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