Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC4.13 - Rede de Atenção às pessoas com Condições Crônicas

53505 - REPERCUSSÕES SOCIAIS EM PESSOAS COM DOENÇA RENAL CRÔNICA EM HEMODIÁLISE NO PERCURSO PANDÊMICO
QUEUAM FERREIRA SILVA DE OLIVEIRA - UNEB, ELAINE GUEDES FONTOURA - UEFS, DARCI DE OLIVEIRA SANTA ROSA - UFBA, ADRIANA BRAITT LIMA - UEFS, MARLUCE ALVES NUNES OLIVEIRA - UEFS, GILBERTO TADEU REIS DA SILVA - UFBA, INGREDY NAYARA CHIACCHIO SILVA - UFBA, RAÍSA CORREIA DE SOUZA NOGUEIRA - UEFS, ANDRESSA SILVA AZAEL LIMA ARAÚJO - UNEB, CRISTIANO OLIVEIRA DE SOUZA - UFBA


Apresentação/Introdução
O enfrentamento da pandemia da COVID-19 foi um importante desafio para as pessoas com Doença Renal Crônica (DRC) em terapias renais substitutivas. O processo de adoecimento renal crônico causa importante repercussão na pessoa afetada, uma vez que há mudanças nos hábitos de vida, transformando o cotidiano de quem se torna dependente de cuidados terapêuticos para sobreviver. A doença crônica não pode ser curada, e a cura almejada pode se transformar em mito perigoso. Todavia, em momentos de desespero, desânimo e descrença a pessoa muitas vezes idealiza e gera inúmeras expectativas, vivendo uma ambuiguidade de sentimentos e emoções nessa experiência¹. Os sentimentos manifestam a clareza do quão difícil é suportar a carga de uma doença crônica².
As doenças crônicas têm caráter psicossomático importante. Identificar possibilidades para contribuir no seu entendimento é elemento formidável nas práticas em saúde. Frankl retrata que apesar de tudo, há possibilidade de modificar uma situação de sofrimento em crescimento e superação pela vontade de sentido ao dizer sim em cada situação vivida³.
Nesse contexto, a partir dos estudos de Frankl, escolhe-se a logoterapia como referencial que possibilita a busca do sentido da vida, por ser esta sustentada pelos pilares: liberdade da vontade humana, vontade de sentido e sentido da vida4.


Objetivos
Descrever as repercussões sociais em pessoas com DRC em hemodiálise durante a pandemia da COVID-19. Acredita-se que este estudo possa contribuir com o desenvolvimento de estratégias e dispositivos para o cuidado cotidiano às pessoas com DRC.

Metodologia
Trata-se de um estudo fenomenológico, fundamentado na logoterapia e análise existencial de Viktor Frankl, utilizando o método de análise fenomenológica proposta por Martins e Bicudo5, na perspectiva da pesquisa qualitativa. Neste estudo, emerge a compreensão sobre o cuidado às pessoas em hemodiálise no contexto da pandemia da COVID-19. A amostra foi constituída por 06 pessoas em tratamento de hemodiálise, utilizando-se entrevista fenomenológica em um centro vinculado à rede pública de saúde, SUS municipal na região centro norte Bahia, no período de novembro de 2020 a março de 2021. O encontro empático com os participantes aconteceu após emissão de Parecer de aprovação do projeto de pesquisa nº 3.931.376 pelo Comité de Ética e Pesquisa (CEP), consentimento dos entrevistados e autorização da instituição. A determinação do número de participantes se deu pela repetição dos conteúdos dos depoimentos, causando saturação teórica de dados e atendimento aos seguintes critérios de inclusão e exclusão. A organização dos dados para análise foi guiada pela técnica de Análise fenomenológica proposta por Martins e Bicudo5, que se constitui em análise ideográfica e análise nomotética.

Resultados e Discussão
Foram apreendidas entre as necessidades afetadas, sentimento de culpa e impotência, o sofrimento pela falta de fé, dor, tristeza, angústia, vazio, palpitações e tremores, o medo da morte, dentre outras, assim como as necessidades e dificuldades daqueles que acompanham essas pessoas em tratamento hemodialítico. A pandemia da COVID-19 provocou em toda a humanidade, reflexões existenciais e sobre valores humanos. Para as pessoas em tratamento de hemodiálise, a dependência do tratamento, sem a possibilidade de isolamento social provocou medo e insegurança.
O sucesso terapêutico de pessoas que tiveram COVID - 19, em condições assintomáticas durante o tratamento de hemodiálise, possibilitou aprender significados positivos no enfrentamento da crise vivenciada. Cacto e Umbuzeiro expressaram autossatisfação por terem superado e sobrevivido ao coronavírus. A intersubjetividade do cuidado deve ser considerada para o contexto de pandemia da COVID-19. Valorizar o sentido da própria vida e da vida do outro em sua complexidade é respeitar o ser humano em suas dimensões, possibilita ao ser humano o acolhimento e o cuidado afetivo, principalmente por profissionais da saúde, com destaque as enfermeiras, que ao ajudarem no cuidado possibilitam o resgate da dignidade humana, vivida, sentida e expressas em alegria e dor ao cuidar das pessoas com COVID-19.

Conclusões/Considerações finais
A pandemia trouxe repercussões na vida dos pacientes que fazem tratamentos de hemodiálise possibilitando momentos de reflexões sobre o sentido da vida, a finitude da vida, a responsabilidade face a aproximação com situações de risco à vida. A população em estudo, apesar de apresentar vulnerabilidade à COVID 19 enfrentaram a finitude da vida, o vazio existencial em sua singularidade pela ajuda e cuidado recebido da enfermeira, bem como aos aspectos multidimensionais que envolvem além da dimensão biológica, atenção às questões sociais, ambientais e espirituais possibilitaram o sair de si mesmo, a fé e a vontade de sentido, apesar de todos os riscos.
Obstante ao medo da morte, sofrimento e riscos relatados, a fé expressa-se como importante força motivadora, de modo singular em experiências únicas e distintas realidades, possibilitando o enfrentamento como mola propulsora de possibilidades de superação e motivação.


Referências
1. Fontoura, F.A.P. A compreensão de vida de pacientes submetidos ao transplante renal: significados, vivências e qualidade de vida. 2012. 124f.
2. Knihs, N. S.; Sartori,. D. L.; Zink, V.; Roza, B. A.; SCHIRMER, J. A vivência de pacientes que necessitam de transplante renal na espera por um órgão compatível. Texto contexto - enfermagem, Florianópolis, v. 22, n. 4, p. 1160-1168, dezembro de 2013. Disponível em: . Acesso em 15 de novembro de 2021.
3. Frankl, V.E. O sofrimento de uma vida sem sentido. São Paulo: Editora é Realizações; 2015. 128 p.
4. Frankl, V. E. Um sentido para a vida. (V. Lapenta, Trad.). Aparecida, SP: Santuário. (Originalmente publicado em 1978).Editora ideias & letras, 2005, 159p.

Fonte(s) de financiamento: Fomento da Bolsa Mestrado-Cotas, FAPESB - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia


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