Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC4.13 - Rede de Atenção às pessoas com Condições Crônicas

51566 - A INFLUÊNCIA DO CONTEXTO SOCIOAMBIENTAL NAS AÇÕES DIRECIONADAS ÀS PESSOAS COM HIPERTENSÃO E DIABETES EM RECIFE
KESIA VALENTIM DO NASCIMENTO DUARTE - IAM/FIOCRUZ - PE, EDUARDA ANGELA PESSOA CESSE - IAM/FIOCRUZ - PE, REBECCA SOARES DE ANDRADE - IAM/FIOCRUZ - PE, MARIANA DE FARIAS GOMES - IAM/FIOCRUZ - PE


Apresentação/Introdução
As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) representam as principais causas de morbimortalidade no Brasil e, devido à sua natureza complexa e multicausal, se apresenta, na atualidade, como um dos principais problemas de saúde pública a ser enfrentado no território. A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e o Diabetes Mellitus (DM) se destacam dentre as DCNT, por serem fatores de risco para outros agravos e por atingir significativamente a população. Esses agravos também perpetuam as desigualdades sociais, pois implicam em altos custos, sobrecarregando especialmente as famílias mais vulneráveis. O trabalho em equipe surge como dimensão essencial do cuidado desses usuários e exige a interlocução de diferentes recursos internos e externos, onde o território e os elementos que o compõem proporcionam contextos que direcionam comportamentos, de maneira a estabelecer qualidade de vida. A análise do contexto externo da implantação de uma intervenção permite uma compreensão mais global dessa, pois ao se formular políticas públicas o ideal é conhecer tanto a quem se destina quanto o território. Entretanto, as intervenções não são adotadas e avaliadas conforme o contexto socioambiental, o que permitiria a superação em definitivo do modelo da “caixa-preta” em estudos avaliativos e a proposição de uma agenda que atenda satisfatoriamente às demandas reais de necessidades da população.

Objetivos
Analisar o contexto socioambiental referente às ações de alimentação, nutrição e atividade física do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) às pessoas com hipertensão e diabetes da saúde da família em Recife, Pernambuco, Brasil, em 2019.

Metodologia
Estudo de caso transversal, qualitativo e avaliativo, realizado em Recife, capital de Pernambuco, seguindo a análise de implantação, conforme o componente 1b proposto por Denis e Champagne. Foram conduzidas entrevistas semiestruturadas com hipertensos e diabéticos (8) cadastrados na saúde da família até a saturação dos dados, com o sistema tecnológico HCMaps® que permite a inserção do roteiro, gravação e geolocalização dos equipamentos sociais. Essas foram submetidas à análise de conteúdo temática de Bardin e avaliadas por uma Matriz de Análise de Julgamento (MAJ), validada em comitê tradicional com especialistas, em três dimensões, oito subdimensões e 102 indicadores. A triangulação das fontes de evidência permitirá identificar se o contexto socioambiental influencia a implantação das ações de alimentação, nutrição e atividade física do NASF, tendo como referencial a geografia social de Santos, da determinação social da saúde de Breilh e a definição de acesso de Giovanella e Fleury. O estudo foi aprovado pelo Comitê Permanente de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Instituto Aggeu Magalhães e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados e Discussão
O perfil dos usuários foi 75% de mulheres, a maioria idosa (62,5% >65 anos), com 87,5% sendo tanto hipertensas quanto diabéticas. Quanto à escolaridade, os usuários tinham no máximo o ensino fundamental completo, com casos de analfabetismo funcional. Quase metade (48%) recebia algum benefício governamental de transferência de renda, e a renda per capita média foi de R$836,00 (abaixo do salário mínimo da época, R$997,00). Para profissionais e gestores que desejam impactar no controle desses agravos, o conhecimento dessa situação deve orientar ações de segurança alimentar e nutricional. O contexto socioambiental favorável às práticas alimentares mostrou que a preferência por alimentos in natura, adquiridos em feiras livres próximas, facilitou o acesso aos equipamentos sociais no território. Aqueles que compartilhavam refeições eram mais propensos a ingerir alimentos saudáveis, destacando a importância das questões socioculturais e econômicas nas práticas alimentares que deve ser negociada e adaptada às necessidades dos usuários. Por outro lado, o contexto desfavorável às práticas de atividade física revelou que, na maioria dos casos, os usuários não recebiam orientações sobre essas práticas, além de relatarem redução da mobilidade ou falta de ofertas de outras práticas corporais. Recife não possui profissionais de educação física inseridos nos NASF e, embora todas as unidades de saúde estejam ligadas a polos da academia da saúde, nenhum dos usuários os frequentava. Reconhece-se a importância desses polos, mas o funcionamento por demanda espontânea, e não por busca ativa, resulta no desconhecimento de problemas de mobilidade e impede o redirecionamento do cuidado profissional para outras formas de práticas corporais por aqueles que mais necessitam.

Conclusões/Considerações finais
O cuidar em saúde dos usuários da saúde da família hipertensos e diabéticos é também conhecer os equipamentos sociais presentes no território, assim como suas redes de apoio para identificar os modos de vida, as dificuldades de saúde e, principalmente, articular e compartilhar o cuidado desses usuários com outras redes na construção da integralidade. Ao reconhecer as potencialidades de movimentação entre os fluxos e as formas nos lugares onde se vive, é possível identificar os aspectos favoráveis ou não à implantação das ações de alimentação saudável e prática de atividade física, e assim elaborar estratégias fundamentais para melhorar a qualidade de vida. Busca-se portanto, oferecer subsídios capazes de contribuir para a redução das iniquidades em saúde de hipertensos e diabéticos, como a construção e manutenção de vínculos com a Atenção Básica, bem como suporte social adequado e de espaços públicos inclusivos.

Referências
BRASIL. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis. Vigitel 202023: Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília: Ministério da Saúde, 2023, 131 p.
BREILH, J. Critical Epidemiology and the People 's Health. Londres: Ed OUP USA, 2021.
DENIS J; CHAMPAGNE F. Análise da implantação. In: HARTZ, Z. A Avaliação na área da Saúde: Conceitos e Métodos. In: HARTZ, Z. M. (Org.) Avaliação em Saúde: dos Modelos Conceituais à Prática na Análise da Implantação de Programas. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2021, p. 49-88.
GIOVANELLA, L; FLEURY, S. Universalidade da atenção à saúde: acesso como categoria de análise. In: Eibenschutz C, organizador. Política de saúde: o público e o privado. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1996. p. 177-198.
SANTOS M. A urbanização brasileira. São Paulo: EdUSP, 5ª edição, 176 p., 2020.

Fonte(s) de financiamento: Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE)


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