53265 - A “GESTÃO DO ACOLHIMENTO” COMO PRÁTICA TERAPÊUTICA HUMANIZADA E LIBERTADORA THIAGO SOUSA FELIX - UECE, JOSÉ JACKSON COELHO SAMPAIO - UECE
Apresentação/Introdução Refletir sobre a pertinência do Sistema Único de Saúde-SUS e a qualidade dos seus serviços nos leva a considerar uma atitude essencial no contexto de cuidado a que se propõe o sistema brasileiro, na sequência do acesso universal: o acolhimento.
Ancorado na Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão em Saúde-PNH, de 2003, o acolhimento ganha definição. Associada às demais diretrizes, todas esclarecidas conceitualmente, definem práticas capazes de qualificar os processos de cuidado no cotidiano de todos os programas, redes e serviços de saúde que compõem o SUS, no amplo, diverso e desigual território brasileiro.
O acolhimento é um dispositivo de cuidado coerente com os princípios do SUS e faz parte de todas as suas esferas: desde políticas gerais até as estratégias específicas como as da Reforma Sanitária e da Reforma Psiquiátrica, sendo preconizado, na perspectiva do acolhimento, o tratamento de pacientes graves e de ex-internos de hospitais psiquiátricos na Rede de Atenção Psicossocial-RAPS.
A gestão em saúde é aqui entendida como a define Guimarães e Sampaio (2016), ou seja, uma “prática social, operacionalizada por sujeitos situados em contextos históricos e políticos, os quais determinam os modelos, as técnicas e os processos operacionais”.
A gestão deve ser um ato consciente, ordenado, considerando as reais demandas da comunidade no território.
Objetivos Compreender até que ponto a gestão é parte inicial e essencial dos processos de acolhimento nos serviços de saúde.
Identificar se e como o planejamento pode qualificar a “gestão do acolhimento”.
Assimilar, dentre os elementos determinantes e constituintes da construção do acolhimento, o fator comunicação.
Metodologia Tendo em vista integrar os conhecimentos advindos da literatura especializada e textos oficiais, buscou-se método que conciliasse essas leituras de naturezas distintas. Optou-se pela Revisão Narrativa, posto que esse método, além de agregar informações sobre o fenômeno em estudo, possibilita a realização de uma análise crítica a partir da complementação entre percepções dos autores e os dados levantados.
Resultados e Discussão Entendendo o acolhimento como parte inerente ao processo de trabalho do cuidar, indo além da prática de triagem ou recepção (SAMPAIO, GUIMARÃES, DE ABREU, 2019) é um elemento essencial do trabalho da saúde, com o qual se estrutura o vínculo e se inicia o próprio processo de cura e reabilitação ou qualquer que seja o objetivo da assistência: preventivo, interventivo ou seguimento posterior.
Considerando a complexidade dos fatores que compõem a construção de uma Política de Humanização em Saúde efetiva e os elementos para um acolhimento eficaz, enfatizamos o fator comunicação. Compreende-se que a discussão envolve e demanda uma análise da comunicação dentro do serviço, entre os mesmos, com a gestão imediata e local.
Esse fenômeno é entendido por Watzlawick, Beavin e Jackson (2018) em seus efeitos, ou seja, nos impactos que um indivíduo gera em seu semelhante por meio da comunicação e de como esse indivíduo responde a esse comportamento. De maneira que é impossível não se comunicar, sendo sua realização possível de várias maneiras (além da verbal, por exemplo).
O processo de construção da saúde vai além da aplicação de uma técnica (HABERMAS, 1987). O acolhimento, por exemplo, tem sua dimensão ético-política e afetiva, o que inclui capacidades como a empatia, dentre outros.
No prólogo da obra A Condição Humana, Hannah Arendt (2007) afirma o que faz do homem um ser político: o discurso. Nessa reflexão a autora sugere que os homens só podem experimentar o significado na possibilidade de falar e ser inteligível.
A comunicação é um dispositivo complexo que integra intenção de emissor, linguagem e meio, e interpretação do receptor. A própria comunicação, como integrante do acolhimento, se desdobra em diálogo assistente/assistido e assistente/gestão.
Conclusões/Considerações finais O acolhimento faz parte do planejamento estratégico da política, do programa, da rede e do serviço, de uma concepção ampliada de clínica e de atenção, das atitudes e direcionamentos da gestão, conscientes ou não.
Essa premissa de um entendimento sistêmico do acolhimento faz do profissional um sujeito e um ator criativos, superando passividade e rotina burocrática, pois, mesmo em situações adversas e sem planejamento “macro”, deve ser assertivo e empático com a população que assiste em sua intervenção no “micro”.
Entende-se a gestão como dispositivo, disparador e operacionalizador de qualquer prática nos serviços públicos de saúde, em particular, e nos serviços públicos referentes às políticas sociais, em geral. No caso do acolhimento em saúde, evidencia-se que ele tem como um pressuposto fundamental uma gestão local sensível, apta a estabelecer os nexos entre política, planejamento, gestão, cuidado e avaliação.
Referências ARENDT, Hannah. A Condição Humana. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.
BRASIL. HumanizaSUS: Documento base para gestores e trabalhadores do SUS / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – 4. ed. 4. reimp. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010.
GUIMARÃES, José Maria Ximenes; SAMPAIO, José Jackson Coelho. Inovação na Gestão em Saúde Mental: incorporação de tecnologias e (re) invenção nos centros de atenção psicossocial. Fortaleza: EdUECE, 2016.
HABERMAS, Jürgen. Técnica e ciência como “ideologia”. Lisboa: Edições 70, 1987.
SAMPAIO, José Jackson Coelho; GUIMARÃES, José Maria Ximenes; DE ABREU, Luciana Mesquita. Supervisão clínico-institucional e a organização da atenção psicossocial no Ceará. - 2.ed. - Fortaleza: EdUECE, 2019.
WATZLAWICK, Paul. BEAVIN, Janet Helmick. JACKSON, Don D. Pragmática da comunicação humana. São Paulo: Cultrix, 2018.
Fonte(s) de financiamento: Não se aplica
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