Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC4.12 - Rede de Acolhimento e Cuidado

50205 - EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS DA FRAGMENTAÇÃO NA DIMENSÃO DA LINHA DE CUIDADO EM SAÚDE
RAILA SOUTO PINTO MENEZES - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE, FRANCISCO FREITAS GURGEL JÚNIOR - CENTRO UNIVERSITÁRIO INTA- UNINTA, ILVANA LIMA VERDE GOMES - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE, YASMIM GABRIELLE PEREIRA RIBEIRO - CENTRO UNIVERSITÁRIO INTA- UNINTA, CRISTIANO BORGES LOPES - CENTRO UNIVERSITÁRIO INTA- UNINTA, MARLISSON KAWAN DIAS OLIVEIRA - CENTRO UNIVERSITÁRIO INTA- UNINTA, MANOEL JARBAS ARAÚJO AGUIAR - CENTRO UNIVERSITÁRIO INTA- UNINTA, LUARA ARAÚJO LINHARES - CENTRO UNIVERSITÁRIO INTA- UNINTA, LILIAN MARTINS RIBEIRO - CENTRO UNIVERSITÁRIO INTA- UNINTA, MATHEUS BEZERRA DE SOUSA - CENTRO UNIVERSITÁRIO INTA- UNINTA


Apresentação/Introdução
A linha de cuidado é tida como a trajetória ou itinerário terapêutico que o usuário deve percorrer no sistema de saúde e, também como uma estratégia para reorganizar a atenção, já que esse fluxo do usuário deve ser orientado a fim de que ele consiga obter os cuidados adequados para resolução das suas necessidades de saúde. É notório que as unidades apresentam limitações, sejam técnicas, de recursos e de pessoal, para resolverem todas as demandas, onde alguns casos extrapolam os seus alcances e, para suprir esta necessidade existe a linha de cuidado e a possibilidade do compartilhamento do cuidado com outros dispositivos do sistema (Levcovtiz, Couto, 2019). Ela faz parte da mudança da lógica assistencial que considera que a atenção à saúde não se limita aos serviços clínicos. Enfatiza-se a incorporação de diversas instituições e setores que não estão diretamente relacionados à assistência na saúde nesta gama de serviços partícipes da produção do cuidado (Bertussi, Feuerwerker, Merhy, 2022). Neste aspecto, os serviços atuariam em um mesmo sentido e de forma complementar. Nesta rede de cuidados nenhum dos componentes é tido como substituível, ou seja, em hipótese alguma a responsabilidade pelo usuário deve ser repassada. Dados da literatura apontam elementos problemáticos no que diz respeito ao trabalho compartilhando na rede, os quais foram pleiteados nesta pesquisa.

Objetivos
Analisar as evidências científicas na literatura acerca da fragmentação na dimensão da Linha de Cuidado.

Metodologia
Trata-se de uma revisão de literatura do tipo narrativa. Na construção da questão de pesquisa, utilizou-se o método PCC (população, conceito e contexto), que é uma estratégia que auxilia a identificar os tópicos-chave. Definiu-se, assim, a seguinte questão: “Quais evidências e informações existem sobre fragmentação na dimensão da linha de cuidado em saúde?”. O levantamento dos dados foi realizado em março e abril de 2024 nas bases de dados MEDLINE, LILACS e Scie-lo, PubMed, Scopus e OMS [WHO Database] e busca livre no Google, Google Scholar; utilizando as palavras-chave “fragmentação” “saúde” “cuidado” e o operador booleano “AND”. Critérios de seleção dos artigos: texto integral, disponível online, escrito em língua portuguesa, inglesa e espanhola e ter como eixo temático central o sistema de saúde do Brasil. Não se delimitou a temporalidade dos artigos. Foram recuperados 249 artigos, sem excluir aqueles comuns a mais de uma base. Após a leitura dos títulos e resumos de todos os textos, foram excluídos os trabalhos que não versavam sobre a temática, como serviços de saúde privados e sistemas de saúde estrangeiros, finalizando assim com uma amostra final de 56 artigos.

Resultados e Discussão
A fragmentação na dimensão da linha de cuidado ocorre, sobretudo, pela dificuldade de se estabelecer integração e cooperação entre os cuidados prestados pela rede de atenção à saúde. Dos casos relatados a responsabilidade pelo usuário é repassada para outras unidades quando a porta de entrada não consegue dar respostas suficientes, sem compartilhar responsabilidades pelo usuário (Moita, Crapara, 2022). O cuidado compartilhado na rede não se detém às ações curativas, entretanto percebe-se que a doença ainda é central na organização dos processos de trabalho, com fluxos pré-determinados e orientados para serviços e procedimentos envolvendo principalmente as instituições de saúde. O indivíduo é reconhecido por sua doença e não como sujeito singular. A linha de cuidado enquanto ferramenta de mudança da lógica assistencial deve ter como eixo as necessidades de saúde dos usuários, unificando ações preventivas, terapêuticas e de reabilitação (Beltrammi, Reis, 2019). As dificuldades para a efetivação do fluxo de cuidado adequado seriam resultantes principalmente da comunicação deficiente entre os serviços. Além disto, os trabalhadores afirmam que outro elemento é a necessidade de superação do paradigma biomédico no âmbito assistencial, já que a linha de cuidado não se coaduna com esta lógica (Oliveira et al., 2022). A literatura aponta que os profissionais de saúde se preocupam em garantir um fluxograma de serviços clínicos, porém, a linha de cuidado não deve se restringir a protocolos e fluxos pré-estabelecidos, ela difere dos mecanismos de referência e contra referência, apesar de incluí-las como proposta de reorganização dos processos de trabalho (Zago, Paiva, Arantes, Cardoso, 2019). Cita-se ainda o excesso de burocratização.

Conclusões/Considerações finais
Constatou-se a necessidade de um sistema de sincronização e comunicação efetiva entre os serviços, levando a um direcionamento comum, de acordo com a necessidade de saúde de cada cidadão, como o termo “linha” parece indicar. A palavra nos remete a algo que obedeça a uma continuidade e confluência dos trabalhos prestados, traduzindo-se naquilo que vem sendo chamado de projeto terapêutico comum. A fragmentação na linha de cuidado traz implicações diretas na qualidade da assistência e, consequentemente no alcance do cuidado integral. Além disso, percebe-se uma dicotomia de processo entre o que fora preconizado no contexto da Reforma Sanitária e o que se visualiza no chamado SUS na prática, evidenciando que os esforços feitos no sentido da reestruturação no âmbito assistencial e da superação do modelo de atenção fragmentado de viés biomédico ainda não foram suficientes, para alcançar a efetividade da linha de cuidado e consequentemente alcançar o princípio da integralidade.

Referências
Levcovtiz E, Couto MHC. Sistemas de saúde na América Latina no século XXI. Observatório Internacional de Capacidades Humanas, Desenvolvimento e Políticas Públicas , 2019.
Bertussi, D.C.; Gomes, M.P.C.; Feuerwerker, L.C.M.; Merhy, E. E. Dimensões do apoio matricial: dispositivo na organização do cuidado e na formação em saúde. Práticas e Cuidado: Revista de Saúde Coletiva, [S. l.], v. 3, p.e12854, 2022.
Moita, K. M. T.; Caprara, A. A fragmentação das práticas da ESF na atenção primária às pessoas com diabetes mellitus Brazilian Journal of Development, [S. l.],v. 8, n. 3, p.22353–22371, 2022.
Beltrammi D.G.M, Reis A.A.C dos. A fragmentação dos sistemas universais de saúde e os hospitais como seus agentes e produtos. Saúde debate [Internet]. 2019;43(spe5):94–103.
Zago, KSG; Paiva, JT; Arantes, A e Cardoso, V B. (Des)atando nós: construindo linha de cuidados/saúde mental apartir de um hospital. Rev. NUFEN [online]. 2019, vol.11,n.2 196-207.

Fonte(s) de financiamento: Financiamento próprio do autor


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