Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC4.10 - Rede de Cuidado à Populações específicas (2)

49643 - A PRODUÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE NUM CENTRO DE REFERÊNCIA DO IDOSO NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO EM TEMPOS DE PANDEMIA POR COVID-19
VINICIUS DA FONSECA RANCAN - UNICAMP


Apresentação/Introdução
O envelhecimento populacional convoca a valorização das singularidades existentes em cada situação de saúde. Isso significa afirmar que há necessidade de enfrentar a fragmentação do cuidado, sem deixar de considerar o saber dos trabalhadores e dos usuários.
Utilizando como referencial teórico a Política Nacional de Humanização, o estudo procurou descrever e analisar as práticas clínicas, o processo de trabalho, a participação dos usuários e as estratégias de articulação dos projetos terapêuticos em um ambulatório de especialidades - Centro de Referência do Idoso com outros serviços da rede assistencial da capital paulista.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa exploratória com observação participante que trouxe a perspectiva dos usuários acompanhados, da gestão local, dos trabalhadores de saúde e do pesquisador (apoiador do próprio território de saúde em que ocorreu o estudo).
Muitas vezes prevaleceu um cotidiano justificado pelas circunstâncias de agenda lotada, que pouco produziam transformações nos processos de trabalho em equipe. Em outros momentos, a criatividade fez emergir novos modos de produzir cuidado para além das exigências contratuais e metas quantitativas, cabendo destaque para uma linha de cuidado de egressos hospitalares da covid-19.
Assim, aponta perspectivas para a qualificação do cuidado em relação aos serviços de saúde especializados na atenção ao idoso.



Objetivos
Descrever e analisar as práticas clínicas, o processo de trabalho e o modelo de produção do cuidado em saúde na velhice, num ambulatório de especialidades, Centro de Referência do Idoso, no município de São Paulo durante a pandemia da COVID-19.
• Analisar a percepção dos usuários em relação às práticas de cuidado da equipe assistencial do CRI;
• Analisar o processo de trabalho e os aspectos gerenciais na produção do cuidado aos idosos;
• Compreender a participação do usuário na produção do cuidado.


Metodologia
Trata-se de uma pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa e observação participante, utilizando dados primários coletados pela combinação de diversos instrumentos, como entrevistas e anotações no diário de campo, complementadas por gravações de áudio, imediatamente após a observação dos atendimentos de três pacientes durante sua passagem no serviço. As entrevistas, gravadas em áudio e posteriormente transcritas, tiveram a finalidade de obter informações relevantes sobre as percepções e as experiências dos usuários, dos trabalhadores e da gestora.
Também foram utilizadas fontes secundárias, como livros, artigos, teses e outros, os quais por abordarem a qualificação do cuidado e por valorizarem a dimensão socioafetiva dos pacientes do SUS deram sustentação à análise feita de acordo com as diretrizes e dispositivos da Política Nacional de Humanização.
O serviço de saúde pesquisado foi um ambulatório médico especializado, voltado ao público idoso, cuja admissão de seus pacientes é referenciada de acordo com a Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde.


Resultados e Discussão
Considerando-se as fontes consultadas, os temas que mais influenciam a produção do cuidado foram: 1) Ampliação da clínica; 2) Interação e reuniões de equipe; 3) Produção de redes de saúde; 4) Contrato de prestação de serviços e gestão local; 5) Diferença de expectativas entre a equipe assistencial e os usuários; 6) Produção do cuidado que inclui a vida. Todos eles conectam-se entre si e foram analisados destacando-se a observação participante durante os atendimentos dos usuários e dos trabalhadores da área da saúde, somados às suas repostas na entrevista.
Observou-se que o contrato de gestão da Secretaria Estadual de Saúde com o serviço valoriza atividades meio (número de consultas e procedimentos) e não valoriza reuniões de equipe, pactuação de objetivos, articulação com a rede assistencial e seguimento dos usuários. Foi possível perceber a dificuldade com o trabalho em equipe. Um dos trabalhadores relatou que “só conhecia o médico pelo carimbo”; enquanto outros apontaram a necessidade de espaços multidisciplinares para discussões de casos mais complexos, considerando os aspectos singulares da produção de cuidado. Muitas vezes prevaleceu um cotidiano justificado pelas circunstâncias de agenda lotada, que pouco produziam transformações nos processos de trabalho. Observou-se que os trabalhadores faziam perguntas padronizadas, visto que foram observadas perguntas semelhantes em diferentes ocasiões. Uma usuária destacou-se dado seu protagonismo e superação, apesar de perdas marcantes. Ainda que a mesma demonstrasse tantas potencialidades, nem sempre elas foram percebidas ou aproveitadas na qualificação de seu projeto terapêutico. Em relação à articulação dos projetos terapêuticos na rede, observou-se o protagonismo do assistente social, muito pouco da equipe.


Conclusões/Considerações finais
A complexidade dos pacientes acompanhados exigiu esforços para a ampliação da clínica, que considerou a inclusão da rede socioafetiva dos pacientes e a produção de redes.
Os trabalhadores possuem diferentes percepções e o cuidado parece ser um campo de disputa entre médicos, enfermeiros e usuários. Um lado detém o saber, o que causa certo desconforto. Entretanto, “nos detalhes”, o cuidado mais ampliado apareceu em algumas ocasiões: 1 – quando me aproximei de uma das pacientes, ficando evidente que o usuário é gestor de seu cuidado e pode articular uma rede em torno de si; 2 – na criação, por iniciativa da gestora local, de uma linha de cuidados para pacientes egressos de internações por COVID-19.
Os pacientes beneficiar-se-iam com acompanhantes qualificados, demonstrando a necessidade de regulamentação da profissão de cuidador.
Os achados sugerem uma mudança nas diretrizes políticas dos serviços, valorizando os resultados em detrimento das atividades meio (procedimentos e atendimentos).


Referências
Rancan VF. A produção do cuidado em saúde num Centro de Referência do Idoso no município de São Paulo em tempos de pandemia por Covid-19. [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: FCM / Unicamp; 2022.
Cunha GT, Carvalho SR. A gestão da atenção em saúde: elementos para pensar a mudança da organização na saúde. In: Campos GWS et al., organizadores. Tratado de Saúde Coletiva. São Paulo – Rio de Janeiro: Hucitec-Fiocruz; 2006.
Tótora S. Velhice: uma estética da existência. São Paulo: Educ / FAPESP; 2015.
Santos Filho SB, Barros, MEB, Gomes RS. A Política Nacional de Humanização como política que se faz no processo de trabalho. Interface - Comunic., Saúde, Educ., v.13, supl.1; 2009.
Ministério da Saúde (Brasil). Política Nacional de Humanização / HumanizaSUS: Documento Base para Gestores e Trabalhadores do SUS. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.

Fonte(s) de financiamento: nenhuma


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