52639 - PORTAS ABERTAS OU FECHADAS? UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O ACESSO DA POPULAÇÃO IDOSA À ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE KARINA OLIVEIRA DE MESQUITA - UVA, DÁRIA MARIA PAIVA FURTADO - UVA, MARIA SOCORRO DE ARAÚJO DIAS - UVA
Contextualização A Atenção Primária à Saúde (APS) é a porta preferencial do usuário e família ao SUS, definida como o conjunto de ações em saúde individuais, familiares e coletivas que envolvem promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento e reabilitação, desenvolvida por meio de práticas de cuidado integrado e gestão qualificada pelas equipes multiprofissionais (Silva, et al., 2020)
O acesso aos serviços de saúde na APS configura-se ainda como fragmentado, envolto pelas desigualdades sociais existentes no território brasileiro, sendo um obstáculo aos sistemas de saúde. Essa fragmentação surge como um desafio e traz consequências negativas à eficiência e efetividade das atividades e ações executadas dentro dos serviços de saúde, o que contribui para o aumento das iniquidades e vulnerabilidades já existentes (Ribeiro; Cavalcanti, 2020).
Nesse ínterim, os usuários que apresentam doenças crônicas, acamados, portadoras de doenças transmissíveis e pessoas em transtorno mental, bem como aqueles em situação de vulnerabilidade social que necessitam de mais cuidado e de visitas domiciliares constantes, são os que mais se prejudicam (Dos Santos; Nunes, 2023). Desde modo, faz-se necessário desenvolver ações que promovam o acesso das populações mais vulneráveis aos serviços de saúde.
Descrição da Experiência A experiência aqui relatada foi desenvolvida em um Centro de Saúde da Família (CSF) do município de Sobral, Ceará. O território apresenta diversas vulnerabilidades relacionadas à estrutura e saneamento básico, além de possuir um índice exacerbado de violência com limites territoriais entre os dois postos de saúde existentes na região. Nesse contexto, há uma limitação na adesão dos usuários à unidade de saúde e também a dificuldade dos profissionais em adentrar no território. Um dos públicos com maior necessidade de acompanhamento próximo é a população idosa, considerando suas demandas específicas e vulnerabilidades.
Como estratégia de aproximação do público idoso à unidade de saúde, foi proposta a participação deles no grupo de práticas corporais. Para isso, inicialmente, foram confeccionados convites e entregues aos idosos durante os seus atendimentos no CSF.
No primeiro encontro do grupo de práticas corporais, foi abordada a temática “Aspectos para envelhecer saudável”. Nos demais encontros foram feitas discussões sobre “Saúde Mental” e “Autocuidado”, sucessivamente. Como estratégia metodológica dos encontros, foram distribuídos balões que continham questionamentos sobre o tema, que eles retiravam e discutiam sobre. Após cada encontro era feita uma dinâmica de avaliação.
Objetivo e período de Realização Objetiva-se descrever a experiência de ações educativas com os idosos no grupo de práticas corporais em um CSF na região Norte do Ceará.
As ações foram planejadas e implementadas durante o mês de março de 2024.
Resultados Constituíram-se como momentos bem dinâmicos, realizados em colaboração com profissionais do serviço e outros estudantes, o que fortaleceu a interprofissionalidade.
Foi perceptível a grande quantidade de idosos que só adentram ao CSF para a busca de medicamentos e que precisam de outros estímulos para fortalecer o seu acesso aos serviços. Evidencia-se também resistência de parte da população para ser atendida no serviço porque não se sente bem inserido e acolhido; que existem muitos acamados com pouca assistência, pois, devido à grande violência existente no território, os profissionais desconhecem a realidade por não se inserir nela.
A participação dos idosos foi efetiva no grupo; a maioria dos participantes era do sexo feminino; os idosos apresentam muitas dúvidas acerca das temáticas propostas; e os mesmos trouxeram relatos de que os momentos foram bem participativos e dinâmicos.
Além disso, durante as ações educativas foi perceptível observar o quanto a educação em saúde é uma ferramenta importante para interação com a comunidade e na criação de vínculos que durante essas ações percebeu-se o quanto a comunicação foi efetiva entre usuários e futuros profissionais de saúde.
Aprendizado e Análise Crítica Durante o acompanhamento dos idosos nos encontros foi notório o quanto eles são carentes de informações e também de carinho e amorosidade, então eles necessitam de acolhimento e diálogo constante. Como aprendizados nesse processo é entender que o saber científico forma pessoas no campo científico, mas o saber popular também apresenta a sua importância como um saber amparado de referências e experiências transmitidas.
Nesse ínterim, é de suma importância desconstruir o paradigma de que uma única forma de saber é superior a outra, e sobre a importância de fazer essa escuta ativa e sempre buscar criar vínculos ao longo dos atendimentos, nos grupos e no próprio território para garantir um acesso integral e equânime. Então, a proximidade, a capacidade de acolhimento, vinculação, responsabilização e resolutividade são ações fundamentais para a efetivação do acesso dos idosos ao Sistema único de Saúde (SUS).
Desse modo, os determinantes de saúde e patologias nos idosos vão além de concepções biologicistas e incluem as condições econômicas e as relações sociais nas quais estão inseridos, além da violência no próprio território, o que resulta em desigualdades e vulnerabilidades a esse grupo social, prejudicando o acesso aos serviços de saúde.
Referências DOS SANTOS, P.E.W.; NUNES, R.R.J.C.O acesso ao acolhimento e ao atendimento na Atenção Primária à Saúde (APS) - análise das principais normativas: relato de experiência. Health Residencies Journal - HRJ, v. 4, n. 18, 2023. Disponível em: https://escsresidencias.emnuvens.com.br/hrj/article/view/712. Acesso em: 22 maio. 2024.
RIBEIRO, S.P., CAVALCANTI, M. de L.T. Atenção Primária e Coordenação do Cuidado: dispositivo para ampliação do acesso e a melhoria da qualidade. Ciência & Saúde Coletiva 25, 1799-1808, 2020.
SILVA, L.S, Viegas, S.M.F, Nascimento, L.C, et al. Universalidade do acesso e acessibilidade no quotidiano da Atenção Primária: Vivências de usuários do SUS. Revista de Enfermagem do Centro Oeste Mineiro, v. 10, 2020.
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