Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC4.9 - Rede de Cuidado à Populações específicas (1)

52337 - CONSTRUINDO UM GRUPO DE ADOLESCENTES EM UMA CLÍNICA DA FAMÍLIA: A CRIAÇÃO VÍNCULO E AS ARTICULAÇÕES COM A EDUCAÇÃO E A CIÊNCIA E TECNOLOGIA
LEON PEREIRA DE OLIVEIRA - ENSP/FIOCRUZ, RAYANE FERNANDES DA SILVA MACHADO - ENSP/FIOCRUZ, MARCELLE DE PAULA FIGUEIRA - ENSP/FIOCRUZ, YARA WALERIA LOPES BRITO DA CRUZ - ENSP/FIOCRUZ, SILVIANA RODRIGUES DE PAIVA - ENSP/FIOCRUZ, JAQUELINE ALVES RIBEIRO ROCHA - ENSP/FIOCRUZ, LUANA XAVIER DE CASTRO - CLÍNICA DA FAMÍLIA FIORELLO RAYMUNDO, DAIANE CAROLINE OLIVEIRA BEZERRA - CLÍNICA DA FAMÍLIA FIORELLO RAYMUNDO, LÍDIA DA SILVA PEREIRA DE OLIVEIRA - ENSP/FIOCRUZ


Contextualização
A adolescência no Brasil se configura como uma fase da vida em que diversas demandas em saúde aparecem, como a violência, o uso de álcool e drogas, a gravidez na adolescência, a incidência de infecções sexualmente transmissíveis, questões de saúde mental, entre outras. A adolescência e a juventude também são fases com características próprias tanto biológicas quanto culturais, psicológicas e sociais. No entanto, é comum que os adolescentes sejam tratados apenas a partir da perspectiva clínica ou que sua particularidade enquanto geração em ato seja ignorada, sendo tratados como um momento de transição para a vida adulta sem autonomia (Horta e Sena, 2010), embora seja reconhecido no ECA a necessidade de intervenção a partir da doutrina de proteção integral (Brasil, 1990), o que vai ao encontro do princípio de integralidade defendido no SUS. A atenção primária tem papel fundamental para trabalhar a proteção, promoção, prevenção e acompanhamento à saúde de adolescentes, principalmente a partir de grupos que compreendam sua especificidade e incentivem seu protagonismo, segundo as Diretrizes Nacionais de Atenção à Saúde do Adolescente (Brasil, 2010), sendo necessária a elaboração de estratégias para identificação de temas, captação, criação de vínculos e explicitação clara e convidativa de como se pretende realizar um grupo de adolescentes.

Descrição da Experiência
Este trabalho, portanto, visa relatar o processo de planejamento e construção de um grupo de adolescentes em uma clínica da família da cidade do Rio de Janeiro, por uma equipe de residentes multiprofissionais em saúde da família. A presença deste público na unidade era esvaziada, embora fosse comum a realização de discussões de casos de adolescentes junto a eMulti da unidade. O planejamento foi um momento crucial para o desenvolvimento do grupo. Havia a preocupação de captar os adolescentes para um grupo de educação e promoção em saúde, de incentivar a participação ativa do público-alvo na condução do grupo e de engajar da unidade e os profissionais de saúde no trato com adolescentes. Para isso, a equipe lançou mão de estratégias que conduzissem a este objetivo: 1) coletou-se temas importantes para os adolescentes em uma escola municipal; 2) elaborou-se um projeto de intervenção para apresentar aos profissionais que manifestaram interesse em participar; 3) negociou-se a parceria com escolas municipais do território, com a apresentação de demandas institucionais e o desenvolvimento de acordos; 4) realizou-se o convite pessoalmente e por meio de panfletos aos alunos das escolas municipais. Além disso, também-se negociou um espaço com um setor da Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia, onde já havia a frequência de adolescentes, para a realização do grupo.

Objetivo e período de Realização
O objetivo deste trabalho é apresentar o processo de construção de um grupo de adolescentes, procurando focar nas estratégias para criar um grupo de promoção e educação em saúde horizontal, que vinculasse o público-alvo, profissionais de saúde e outras políticas setoriais em uma construção coletiva. A construção do grupo iniciou-se em Novembro de 2023, com o primeiro encontro acontecendo em Março de 2024 e desenvolvendo-se até o momento atual.

Resultados
Foi estabelecida uma articulação com duas escolas que divulgaram o grupo, além do contato com uma escola mais próxima que sugeriu algum de seus alunos e combinou que fosse realizado um diálogo sobre a participação deles. Também criou-se uma parceria com uma Nave do Conhecimento, unidade de divulgação de ciência, tecnologia e informação da cidade do Rio de Janeiro, para utilização do espaço.
Até o momento foram realizados seis encontros do grupo de adolescentes, cuja presença girou em torno de 13 participantes por encontro. Os encontros se iniciam sempre com uma dinâmica quebra-gelo e os temas tratados até o momento foram: noção de grupalidade, com dinâmicas de trabalho em equipe; relacionamentos, sexualidade e papéis de gênero; violência sexual contra crianças e arte e saúde, associado ao tema de saúde mental. Temas têm sido sugeridos, como arte e saúde, uso de drogas e bullying, e serão tratados no decorrer do grupo. Além dos residentes, de seis encontros, quatro tiveram a presença de pelo menos um profissional da clínica, com o total de seis categorias, sendo eles médico, agente comunitária de saúde, assistente social, psicóloga, profissional de educação física e nutricionista.


Aprendizado e Análise Crítica
Considera-se que o grupo tem desenvolvido o vínculo entre a unidade de saúde e os adolescentes, havendo apropriação das necessidades de saúde, possibilitando realização de educação permanente, a inserção desse público na agenda da unidade e a ampliação dos cuidados de um público cuja presença ocorria por questões de saúde mental já agravadas, proporcionando novas formas de cuidado. A construção e condução do grupo têm oportunizado o protagonismo dos adolescentes nos temas a serem tratados, aspecto essencial para o vínculo, pertencimento e promoção de saúde. Além disso, a articulação intersetorial com a Educação e com a Ciência e Tecnologia também tem sido um central, permitindo articular as demandas institucionais, construir um trabalho no território, ampliar os momentos de compartilhamento e discussão de casos e permitindo um espaço mais reservado e confortável para o público alvo. O processo de negociação também lança luz para alternativas mais vivas de articulação e aproximação entre os setores e profissionais. Por fim, reflete-se que com tantas demandas e com os indicadores do contrato de gestão, municipais e federais, a equipe tende a priorizar os grupos populacionais e as linhas de cuidado contemplados. Estranhamente, a adolescência não está presente em nenhum dos indicadores, o que pode contribuir para a invisibilização desse grupo.

Referências
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8.069/1990. Rio de Janeiro: CEDECA-RJ, 2022.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde do Adolescente e do Jovem. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.

HORTA, Natália de Cássia; SENA, Roseni Rosângela de. Abordagem ao adolescente e ao jovem nas políticas públicas de saúde no Brasil: um estudo de revisão. Physis, Rio de Janeiro, n.20, v.2, pp.475-495, 2010.


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