50063 - REPERCUSSÕES DA VULNERABILIDADE PROGRAMÁTICA NA GESTÃO DO CUIDADO DE CASOS DE INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS NIELE DUARTE RIPARDO - UFC, JOSÉ DAVI JOVINO FARIAS - UVA, MARIA ADELANE MONTEIRO DA SILVA - UVA, CIBELLY ALINY SIQUEIRA LIMA FREITAS - UVA, ANTÔNIO RODRIGUES FERREIRA JÚNIOR - UECE, TATIANE DE SOUSA PAIVA - UFC, TAINÁ DE JESUS ALVES PORTELA - UFC, AMANDA SOUZA BARBOSA HOLANDA - UFC, ANTONIA TAINÁ BEZERRA CASTRO - UFC, ANA GABRIELLA SILVA DE ARAÚJO - UFC
Apresentação/Introdução As Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) são percebidas como um problema de saúde pública e coletiva e estão entre as doenças mais comuns em todo o mundo, comprometendo a saúde e a vida das pessoas, causando em casos extremos, a morte. (Domingues et al, 2021).
Levando em conta o conceito de clínica ampliada, não deve considerar-se apenas a doença e o corpo, mas também as dimensões subjetivas e sociais, do trabalhador e dos gestores, propondo uma transformação da atenção individual e coletiva (Brasil, 2009). Cada indivíduo está inserido num contexto sócio-político-cultural-econômico e de oferta de serviços de saúde que podem fortalecer ou não uma proteção contra a doença. Quando esta proteção se torna prejudicada, as pessoas são vulnerabilizadas, sendo acometidas por doenças.
Nesse contexto, a análise da situação programática dos serviços de saúde no enfrentamento das vulnerabilidade às IST intenta verificar o compromisso das gestões de saúde dos municípios, no objetivo de garantir acesso a recursos materiais e humanos de qualidade pela população, de forma a não expô-la a essas doenças (Araújo Júnior, 2019).
É essencial o compromisso para integrar a prevenção, a promoção e assistência, por meio de ações de caráter integral, intersetorial e interdisciplinar adequadas e que adotem como princípio, o constante monitoramento e avaliação das ações de saúde coletiva.
Objetivos Investigar as repercussões de vulnerabilidades programáticas para a gestão municipal na prevenção e controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis sob a ótica dos gestores.
Metodologia Estudo qualitativo de caráter analítico. Teve como cenário os municípios da 12° ADS – Coordenadoria do Acaraú, que compõe a Superintendência da Região Norte (SRNOR) – Sobral.
Os participantes do estudo corresponderam a 11 gestores dos mesmos municípios supracitados, em sua maioria eram do sexo feminino (8), enfermeiros (10), ocupavam cargos na coordenação da vigilância epidemiológica (3) e atenção primária à saúde (3) de seus municípios, com período médio de 1 e 2 anos no cargo de gestão (8).
A coleta de dados ocorreu entre maio e agosto de 2022, através de uma entrevista semiestruturada gravada e transcritas na íntegra. Um roteiro prévio foi elaborado para que fossem abordados os temas de interesse para esta pesquisa. E para a análise, utilizou-se a Técnica de Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) proposta por Lefévre e Lefévre (2005).
O projeto de pesquisa obteve aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) sob o parecer 5.406.014.
Resultados e Discussão Os gestores participantes da pesquisa afirmaram que as IST “são subnotificadas” e foi associada ao desconhecimento e estigma da população acerca das IST, que geram baixa captação dos casos.
Identificou-se ainda que as gestões enfrentam entraves na rede de atenção à saúde, especialmente relacionados a referência para serviços especializados. Um dos gestores diz: “Em relação a contrarreferência, honestamente, deixa muito a desejar, porque (...), eu não tive informação de nenhum paciente de lá para mim,(...)”.
A notificação e a referência e contrarreferência em saúde são estratégias do processo de trabalho que, frente estas falhas, comprometem o rastreio e vigilância, mitigando as estratégias de prevenção e controle das IST. Estes achados caracterizam-se como uma fragilidade da situação programática do processo de trabalho, e isto expõe as pessoas à situações vulnerabilizantes (França et al, 2021).
A vulnerabilidade programática impacta nos indicadores para o funcionamento adequado dos serviços de saúde no município e, destarte, incita a necessidade dos gestores, não apenas os municipais, de revisar as políticas públicas, além de incorporar a política de educação permanente e educação em saúde, fortalecer suas equipes e população, respectivamente.
Neste contexto, os gestores afirmaram utilizar da ferramenta da intersetorialidade, em especial as escolas e o rádio, para realizar ações educativas e buscas ativas no que tange as IST. A intersetorialidade intervém de forma positiva na saúde coletiva (Vasconcelos, 2021), mas aqui não foi relatado um desenho programático de como estas ações são planejadas e executadas, o que caracteriza uma fragilidade na articulação municipal, o que expõe à vulnerabilidade por promover ações fragmentadas e com seu impacto reduzido.
Conclusões/Considerações finais Percebe-se, portanto, que situações de vulnerabilidade podem ser produzidas no âmbito dos serviços de saúde, ainda que em menor escala. Faz-se necessário, portanto, que gestões municipais de saúde estejam sensíveis a este desafio. Para maior impacto, é importante sistematizar ações voltadas à integralidade e superar e evitar causar vulnerabilidades.
A vulnerabilidade pragmática não deve ser ignorada, ainda que esta cause situações vulneráveis em menor escala quando comparado ao eixo social, por exemplo. Pois este estudo demonstra como as falhas nos processos de trabalho causam importantes fragmentações no cuidado, vulnerabilizando pessoas e comunidades.
Portanto,é necessário uma reavaliação e reprogramação do planejamento e execução das ações de saúde coletiva, partindo desde estratégias para desenvolvimento profissional até pactuações governamentais para ampliar o acesso da população vulnerável às políticas públicas que tratam das IST.
Referências BRASIL. Clínica ampliada e compartilhada. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. Brasília, 2009.
ARAÚJO JÚNIOR DG. Vulnerabilidade à transmissão vertical da sífilis: Situações programáticas da atenção primária à saúde vivenciadas por gestantes no pré-natal. 2019. Dissertação. Universidade Federal do Ceará, Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família, Sobral.
LEFÉVRE, F; LEFÉVRE, AMC. O discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa (desdobramentos). 2. ed. Caxias do Sul: EDUCS, 2005
FRANÇA, ISX et al. Vulnerabilidade Programática às IST/AIDS na Atenção Primária à Saúde: Um Habitus Permeado pela Violência Simbólica. Cogitare enferm. Campina Grande. v.26, 2021.
VASCONCELOS RNC; RODRIGUES GMM; FERREIRA KD. O impacto da distribuição de renda e a disponibilidade de alimentos sobre a saúde coletiva. Revista Liberum Accessum 2021 Jul; 10(2): 16-29.
Fonte(s) de financiamento: PIBID - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
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