Roda de Conversa

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
RC4.7 - Rede de Atenção à pessoas portadoras de Doenças Transmissíveis

49188 - CONTINUIDADE DO CUIDADO GERENCIAL, INFORMACIONAL E RELACIONAL NA EXPERIÊNCIA DE PESSOAS QUE VIVEM COM HIV
DRIELI OLIVEIRA SILVA - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, RAFAELA FIDELIS LIMA SILVÉRIO - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, PATTY FIDELIS DE ALMEIDA - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE


Apresentação/Introdução
Após quatro décadas do surgimento da infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), o desenvolvimento de políticas permanece como um desafio para os sistemas de saúde na redução de infecção e mortalidade. A acessibilidade ao Tratamento antiretroviral (TARV) pelo Sistema único de Saúde (SUS) mudou o status da doença aguda de alta letalidade para doença crônica tratável¹.
Com o avanço das condições crônicas, os cuidados contínuos emergem como um conjunto de dispositivos para a qualificação dos serviços de saúde, o que contribui para a qualidade da assistência e integralidade². São identificados três tipos distintos de continuidade do cuidado: Continuidade informacional, onde a informação é considerada essencial, pois estabelece uma ligação entre os diferentes prestadores de cuidado durante eventos de saúde do usuário. Continuidade gerencial que abrange a coordenação do cuidado nos diversos serviços e profissionais de saúde, que deve ser fornecido de maneira oportuna, flexível e adaptável às necessidades individuais. E a continuidade relacional, proporciona uma conexão entre o paciente e prestadores, como uma ponte entre os cuidados passados, presentes e futuro, com relação longitudinal, mesmo durante eventos agudos vivenciados pelo usuário³.
Os cuidados contínuos em suas três dimensões podem superar desafios com estratégias que fortalecem as experiências dos usuários.


Objetivos
Esse estudo objetivou compreender a experiência de pessoas que vivem com HIV (PVH) em relação à continuidade do cuidado nas dimensões informacional, gerencial e relacional no cuidado nas Policlínicas Regionais e na Rede de Atenção à saúde (RAS) em um município do estado do Rio de Janeiro.

Metodologia
Trata-se de estudo avaliativo, qualitativo, realizado nos serviços de referência às PVH em um município do estado do Rio de Janeiro. O local do estudo foram 7 Policlínicas Regionais, com equipe multiprofissional presentes, recomendada pelo Ministério da Saúde para o cuidado de IST/HIV/Aids.
A coleta de dados ocorreu entre dezembro/2021 e junho/2022 totalizando 45 entrevistas. Utilizou roteiro semiestruturado com questões que compreendiam dados socioeconômicos e de experiências em atendimento na RAS. Resultados laboratoriais e de prescrição da TARV foram coletados em prontuários. Critérios de inclusão: maiores de 18 anos, residentes do munícipio do estudo, diagnosticados com HIV há pelo menos 1 ano. As entrevistas ocorreram até a saturação de conteúdo e representatividade das Policlínicas.
A análise temática do conteúdo compreendeu o contexto geral, seleção e organização em núcleos temáticos, com agrupamento e interpretação das experiências. Os resultados foram analisados com base nas dimensões da Continuidade do cuidado³. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal Fluminense (parecer n.º: 4.160.558). Todos os preceitos éticos foram atendidos.


Resultados e Discussão
Na categoria gerencial, a coleta de carga viral ocorria em uma manhã semanal com resultados disponibilizados ao infectologista. Outros resultados de exames exigiam que os usuários buscassem em horários restritos, criando barreiras de acesso. Isso poderia ser resolvido com a redefinição dos fluxos gerenciais e processos de trabalho centrados nos usuários4.
Problemas gerenciais comprometeram a continuidade, com quebras de sigilo nas filas de exames, expondo quem faria exame de carga viral e dispensação de TARV junto com outros medicamentos. Havia temor de que a especialidade do infectologista revelasse a condição dos usuários. Essas circunstâncias são obstáculos e devem ser consideradas no planejamento do cuidado para melhorar a experiência nos serviços5.
Vivências indicaram falta de padronização nos mecanismos de referência entre os serviços. Relatos incluíram encaminhamentos com relatórios e direcionamentos verbais, diagnósticos comunicados por telefone na rede privada sem encaminhamento adequado, além de contrarreferência quase inexistente. A falta de comunicação entre profissionais dificulta a elaboração de planos de cuidados compartilhados, com descontinuidades².
Além da ausência de padronização na referência e contrarreferência, prontuários manuais não informatizados faziam com que informações percorressem por meio dos usuários, resultando em repetição de histórias, perda de informações importantes e comprometimento do sigilo. Disponibilizar informações de forma acessível e segura na RAS poderia minimizar esses problemas².
Enfermeiros e infectologistas foram importantes pontos de contato nas policlínicas. Houve reconhecimento, vínculo, acompanhamento longitudinal, boa adesão, baixo absentismo às consultas com infectologista, o que contribui para efeitos positivos na saúde4.


Conclusões/Considerações finais
O estudo demonstrou que persistem desafios de assegurar a continuidade do cuidado às PVH, com notórios desafios na gestão e organização dos cuidados de saúde. Barreiras de acesso, assim como problemas que enfraquecem o sigilo, comprometem as experiências positivas e privacidade dos usuários em seus atendimentos.
A falta de padronização nos mecanismos de referência e contrarreferência e a comunicação inadequada entre provedores promovem descontinuidade do cuidado, com necessidades de preparo da RAS para a utilização de troca de informações de qualidade. A percepção de vínculos fortes e boa adesão ao tratamento dos usuários nas policlínicas deve ser valorizada. Para melhorar a experiência e continuidade do cuidado, é essencial redefinir fluxos de trabalho, garantir confidencialidade, padronizar processos e informatizar serviços.


Referências
1.UNAIDS. Brasil. Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids. Consulta realizada em 20/05/2024. Site: https:/unaids.org.br/estatisticas/Brasil, 2022
2.Ollé-Espluga L, Contel JC, Rojas-García A, Vega-Escaño J, Cleries M, Orrego C, et al. Care continuity across levels of care perceived by patients with chronic conditions in six Latin-American countries. Gac Sanit. 2021 Sep 1;35(5):411-419
3.Haggerty JL, Reid RJ, Freeman GK, Starfield BH, Adair CE, McKendry R. Continuity of care: a multidisciplinary review. BMJ. 2003 Nov 22;327(7425):1219-1221
4.Santos R dos, Apostólico MR. As Redes de Atenção à Saúde e a integralidade no cuidado das pessoas vivendo com HIV e Aids. O Mundo da Saúde. 2019 Dec 1;43(4):916-942. DOI: 10.15343/0104-7809.20194304916942
5.Gutierrez EB, Andrade SMO, Cabrera MAS, Sato APS, Silva RM da, Soares DA, et al. Fatores associados ao uso de preservativo em jovens-inquérito de base populacional. Rev Bras Epidemiol. 2019;22

Fonte(s) de financiamento: Contou com o financiamento do Programa de Desenvolvimento de Projetos Aplicados e a Universidade Federal Fluminense e Fundação Euclides da Cunha.


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