48991 - ATENÇÃO AO PRÉ-NATAL, PARTO E PUERPÉRIO DE MULHERES MIGRANTES VENEZUELANAS NO BRASIL: UM ESTUDO COM MÉTODOS MISTOS LEIDY JANETH ERAZO CHAVEZ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, ANA PAULA MESQUITA SCHUTZ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, LAURA FROES NUNES DA SILVA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, THAIZA DUTRA GOMES DE CARVALHO - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, MARIA DO CARMO LEAL - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, ZENI CARVALHO LAMY - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
Apresentação/Introdução Desde 2015, mais de sete milhões de venezuelanos se deslocaram para outros países da América Latina, o que representa o maior êxodo populacional registrado entre os países do hemisfério Sul. O fluxo migratório venezuelano baseia-se em questões socioeconômicas, como a escassez de alimentos e trabalho, mas também por questões de saúde pública. As demandas relacionadas à saúde reprodutiva e à assistência pré-natal, parto e puerpério representam um desafio adicional para mulheres e adolescentes no contexto migratório. O deslocamento prolongado e a instalação em abrigos precários limitam o acesso a itens de higiene, medicamentos, consultas e muitas vezes expõem esse grupo à vulnerabilidade, violência e discriminação por sexo e nacionalidade. Nesse contexto, mulheres migrantes tendem a buscar cuidados pré-natais mais tardiamente devido a barreiras linguísticas e culturais, além da discriminação, xenofobia e risco de deportação.
Objetivos O objetivo do presente estudo é analisar a percepção de mulheres migrantes venezuelanas sobre a atenção à saúde recebida durante a gestação, parto e puerpério no Brasil.
Metodologia Pesquisa de abordagem mista, parte do projeto Redressing Gendered Health Inequalities of Displaced Women and Girls in contexts of Protracted Crisis in Central and South America-ReGHID, realizado com mulheres migrantes venezuelanas em Manaus. Foram incluídas mulheres de 15 a 49 anos grávidas e/ou que tiveram parto no Brasil. No componente quantitativo, utilizou-se o método Respondent Driven Sampling, que consistiu no recrutamento por meio de redes. Mulheres venezuelanas consideradas líderes de diferentes grupos sociais iniciaram o recrutamento. Cada mulher convidava mais três mulheres que atendessem aos critérios de inclusão. Foram calculadas frequências absolutas e prevalências relativas com intervalos de confiança de 95%. Todas as análises consideraram a amostragem complexa utilizando-se o software SPSS. No componente qualitativo, a amostra foi intencional e o número de participantes foi definido pelo critério de saturação de sentidos. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas e grupos focais. Para a análise das entrevistas, utilizou-se a Análise de Conteúdo na modalidade temática. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Maranhão.
Resultados e Discussão Participaram do componente quantitativo 118 mulheres, das quais 23% já migraram grávidas. Em relação ao pré-natal, 95% realizaram alguma consulta de pré-natal, e dentre estas, 83% iniciaram o pré-natal no primeiro trimestre de gestação. Dentre as que não fizeram ou iniciaram tardiamente, o principal motivo para não ter buscado assistência foi não saber que estavam grávidas. A maioria teve parto vaginal (58%) e acompanhante no parto (95%) e todas tiveram como desfecho nascidos vivos. Em relação a 14% das migrantes relataram complicações durante o parto para as mães e 21% para os bebês. As consultas de revisão do parto não foram realizadas por 36% das mulheres e 14% dos recém-nascidos não tiveram a consulta de puericultura.
Participaram do componente qualitativo 40 mulheres. Foram identificados aspectos que interferiram na assistência ao pré-natal, como dificuldade no agendamento e na realização de exames como a ultrassonografia e a falta de orientações gerais. Em relação ao acesso à atenção especializada no parto, as entrevistadas relataram peregrinação. Contudo, destacaram como positivo o acesso universal e gratuito ao Sistema Único de Saúde e a qualidade da atenção ao parto proporcionada pelas equipes de saúde. Também foram identificadas boas práticas, incluindo o direito ao acompanhante. Diferenças entre Venezuela e Brasil, em relação às boas práticas no parto, foram citadas demonstrando diferenças culturais. Práticas recomendadas pela OMS foram percebidas como negativas, incluindo maior incentivo ao parto normal, a restrição do uso da episiotomia e da manobra de Kristeller, além das diferenças na alimentação oferecida. O idioma foi identificado como barreira no acesso ao pré-natal, parto e puerpério.
Conclusões/Considerações finais A maioria das mulheres migrantes venezuelanas mostraram-se satisfeitas com os cuidados durante o pré-natal, parto e puerpério, tiveram acesso a consultas, exames, medicamentos e boas práticas no parto, como o direito ao acompanhante. No entanto, apesar da boa avaliação, também foram relatados problemas, como dificuldades para consultas e exames, peregrinação e a descontinuidade do cuidado no período puerperal. Somado a isso, temos o fator das diferenças culturais e da barreira linguística, que atuam como um eixo transversal, impactando em todas as fases do cuidado.
Referências ESLIER, M. et al. Association between migrant women’s legal status and prenatal care utilization in the PreCARE Cohort. International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 17, n. 7174, 2020.
Inter-Agency Coordination Platform for Refugees and Migrants from Venezuela (R4V). Regional Refugee and Migrant Response Plan (RMRP), 2024. Disponível em . Acesso: 24 de abril de 2024.
SAWADOGO, P. M. et al. Barriers and facilitators of access to sexual and reproductive health services among migrant, internally displaced, asylum seeking and refugee women: a scoping review. Plos One, v. 18, n. 9, p. e0291486, 2023.
SOEIRO, R. E. et al. A neglected population: Sexual and reproductive issues among adolescent and young Venezuelan migrant women at the northwestern border of Brazil. International Journal of Gynecology & Obstetrics, v. 157, n. 1, p. 51-58, 2022
Fonte(s) de financiamento: Este trabalho foi financiado pelo Economic and Social Research Council [grant number ES/T00441X/1]; O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) [processos 315493/2023-2 e 133487/2023-7]; Fundação de Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) [processos PPSUS-01830/20 e BPD-10117/22]
|