54337 - DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA A REDUÇÃO DA EVASÃO DO CUIDADO PRÉ-NATAL NA PANDEMIA CAROLINE RODRIGUES DE SOUZA - EERP/USP, TAUANI ZAMPIERI FERMINO - EERP/USP, ANGELINA LETTIERE-VIANA - EERP/USP, SILVIA MATUMOTO - EERP/USP
Apresentação/Introdução O Sistema Único de Saúde (SUS) tem protagonismo na promoção da saúde da mulher no Brasil, sendo a Estratégia Saúde da Família (ESF) uma componente fundamental para ações em saúde da mulher. O SUS, através da ESF, oferece serviços que buscam promover a adesão das mulheres ao pré-natal e à cobertura vacinal, sendo o pré-natal de qualidade de primeira importância para a redução dos índices de morbimortalidade materno-infantil no país. A pandemia de COVID-19, a partir de abril de 2020, introduziu novos desafios para a saúde reprodutiva. Gestantes, puérperas e mulheres que sofreram aborto recentemente foram classificadas como grupo de risco. Embora um aumento da mortalidade materna fosse esperada devido ao vírus, o número de óbitos quase dobrou em 2021 em relação a 2019, de forma que a associação entre o número de mortes desse público seja de interesse no eixo das pesquisas, bem como atitudes dos serviços de saúde para promover a continuidade dos atendimentos na atenção básica. Alterações no fluxo de atendimento, redução das consultas eletivas e medo de contaminação levaram à diminuição na procura pelos serviços de saúde, destacando a importância da ESF enquanto promotora do vínculo, da longitudinalidade e da integralidade do cuidado. A escassez de estudos sobre as ações dos trabalhadores da saúde para manter o pré-natal durante a pandemia motivou esta pesquisa.
Objetivos Conhecer os desafios e estratégias percebidos por trabalhadores de uma Unidade de Saúde da Família (USF) para minimizar a evasão das gestantes durante a pandemia de COVID-19.
Metodologia O estudo, de natureza qualitativa e exploratória, foi realizado em um município paulista de pequeno porte, com cerca de 10.000 habitantes, em 2023. A taxa de mortalidade infantil no município foi superior à média estadual em 2020. No município em questão, de março de 2020 a dezembro de 2022, 252 gestantes iniciaram o pré-natal, mas apenas 23 completaram as seis consultas recomendadas de acordo com os sistemas de informação do SUS. A USF selecionada foi escolhida por contemplar o maior número de crianças que passaram por triagem neonatal nos anos anteriores à pesquisa. Participaram da pesquisa: quatro agentes comunitários em saúde (ACS), uma enfermeira, duas auxiliares de enfermagem, duas psicólogas, uma dentista, uma auxiliar de consultório odontológico, uma fonoaudióloga, uma nutricionista, um médico de família e comunidade, uma médica pediatra e uma recepcionista. Os dados foram coletados através de um questionário sociodemográfico e entrevistas semiestruturadas, realizadas entre janeiro e março de 2023. As entrevistas foram gravadas e transcritas para análise de conteúdo, seguindo a modalidade de análise temática. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa.
Resultados e Discussão Dentre os principais temas identificados a partir das entrevistas, destacam-se: definição do território e da população adscrita; vacinação contra a COVID-19 enquanto estratégia e desafio; busca ativa e comunicação no contexto das estratégias; ações educativas em sala de espera e; desafio de promover o trabalho em equipe. Uma vez definida a população do território como socioeconomicamente vulnerável em sua maioria, depreende-se o SUS como principal responsável por prover suas necessidades de saúde. Assim, a evasão percebida das gestantes do serviço de pré-natal oferecido no período pandêmico expressa uma responsabilização da ESF em traçar estratégias de recuperação de seu público. Visto que o medo foi indicado como fator crítico de absenteísmo, foi a partir da vacinação em massa que a sensação de segurança e consequente retorno aos atendimentos ocorreu. A vacina contra a COVID-19, embora promotora de medidas menos restritivas da pandemia, tornou-se simultaneamente uma estratégia para retorno das gestantes à unidade e um fator de preocupação devido à baixa cobertura vacinal no território. A busca-ativa, atividade basilar dos ACS, passou por adaptações pertinentes no cenário pandêmico, com o uso de telefones celulares particulares dos trabalhadores, redes sociais e aplicativos de mensagem para divulgação de ações, informação e combate às fake news. De forma complementar, ações educativas para gestantes passaram a ocorrer principalmente em sala de espera das consultas de pré-natal pela enfermeira. Falas indicaram que a evasão das gestantes foi notada principalmente no atendimento multidisciplinar da unidade, porém, percebeu-se um enfoque no atendimento com o profissional médico e uma escassez pronunciada de atendimentos em outras áreas de atuação.
Conclusões/Considerações finais O estudo identificou os principais desafios e estratégias reconhecidos pelos trabalhadores no tocante à evasão das gestantes do atendimento pré-natal na USF, contribuindo para a construção de conhecimento sobre adaptações na APS na pandemia de COVID-19, contemplando discussões válidas para contextos epidemiológicos semelhantes. Contribuições para a APS incluem também a criação de espaço para discussão da importância dos ACS na efetivação das Políticas de Saúde e na promoção da integralidade do cuidado, em especial no contexto das crises sanitárias. Lacunas de conhecimento identificadas incluem a falta de estudos que abordem a percepção das gestantes sobre o que experienciaram no percurso pandêmico. Assim, estudos futuros que correlacionem questões socioeconômicas e absenteísmo às consultas de pré-natal e que abordem melhor os motivos da hesitação desse público em usufruir dos atendimentos odontológicos, fonoaudiológicos, nutricionais e psicológicos no período gravídico são importantes.
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