Roda de Conversa

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
RC4.5 - Rede de Atenção à saúde materno-infantil (1)

53771 - AMPLIANDO CAMINHOS PARA A SAÚDE MATERNO-INFANTIL: DIAGNÓSTICO E MANEJO DA INFECÇÃO PELO HTLV EM SÃO JOSÉ DE RIBAMAR, MARANHÃO
ELLEN ROSE SOUSA SANTOS - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, RAFAELA FRAZÃO OLIVEIRA MOREIRA - SEMUS, NAISY MARES FURTADO MUNIZ SILVA - SEMUS, BERNADETE DE LOURDES VEIGA FERREIRA - SEMUS, VIKTORIA VITOROWNA PIDERS - SEMUS, CREUSA RODRIGUES DE SOUSA NETA MAIA - SEMUS, JÉSSICA PINHEIRO CARNAÚBA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, FRANCISCA LAURA FERREIRA DE SOUSA ALVES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, REJANE CHRISTINE SOUSA QUEIROZ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO


Contextualização
O HTLV é um retrovírus humano com dois tipos principais HTLV-1 e HTLV-2. O HTLV-1 associa-se a doenças graves, como leucemia e mielopatia e o HTLV-2 associa-se a neuropatias periféricas. A transmissão ocorre principalmente pelo contato direto com fluidos corporais infectados. Em gestantes, a infecção representa riscos significativos para a mãe e para o bebê, pois há risco de transmissão do vírus durante a gravidez, parto e amamentação. A transmissão vertical pode resultar em complicações sérias, como a leucemia e a mielopatia na criança, além de aumentar o risco de parto prematuro, baixo peso ao nascer e complicações no parto. Estima-se que até 2023, entre 800 mil e 2,5 milhões de brasileiros vivem com o vírus, sendo o Maranhão um dos três estados com maior endemicidade, apresentando alta prevalência. Nas gestante, estima-se prevalência de 0,31% a 0,8% no país. Ainda, é possível que esse quantitativo seja subestimado, pois a testagem do vírus ainda não é rotina em muitos locais e, até 2023, a infecção não constava na lista de doenças de notificação compulsória. Considerando o risco de disseminação silenciosa do vírus, as complicações obstétricas e a falta de tratamentos eficazes disponíveis, a infecção pelo HTLV é um desafio em saúde pública. Assim, tem-se o seguinte problema: Como garantir a detecção e manejo adequado do HTLV em gestantes no município de São José de Ribamar?

Descrição da Experiência
No segundo semestre de 2023 foram realizadas articulações em nível de atenção laboratorial, para garantir os exames necessários para o diagnóstico da infeção. Foram inseridos a Sorologia Anti-HTLV, para todas as gestantes, e os Teste de Reação de Polimerase em Cadeia (PCR) e Teste Sorológico Confirmatório Western Blot, para confirmação dos resultados alterados. O passo seguinte foi definir o fluxo para o manejo dos casos detectados. Para isso, as coordenações da Saúde da Mulher e Saúde da Criança, vinculadas à Atenção Primária à Saúde, e coordenação das Infecções Sexualmente Transmissíveis, vinculada à Vigilância Epidemiológica, ambas da Secretaria Municipal de Saúde do município de São José de Ribamar, iniciaram uma série de discussões sobre as normativas existentes, assim como foram realizadas consultas à equipe estadual, no sentido de buscar as melhores e mais apropriadas recomendações e definição do fluxo. Foi definido um serviço da rede municipal como referência em infectologia. A Maternidade Municipal de São José de Ribamar foi inserida no fluxo no sentido de garantir um pré-natal especializado e acesso aos cuidados de maior complexidade para a mãe e o feto. Os médicos e enfermeiros vinculados às equipes de Saúde da Família foram capacitados sobre a detecção e manejo da infecção pelo HTLV.

Objetivo e período de Realização
Esse relato trata sobre os caminhos traçados a partir do segundo semestre de 2023 para a reorganização da atenção às gestantes, no intuito de garantir diagnóstico e manejo da infecção pelo HTLV. Assim, o objetivo é Relatar a experiência na estruturação e organização da atenção à saúde para o diagnóstico e manejo da infecção pelo HTLV em gestantes em São José de Ribamar.

Resultados
Em fevereiro de 2024, implantou-se a Sorologia Anti-HTLV para triagem da infecção pelo HTLV 1 e 2 em todas as gestantes acompanhadas nas Unidades Básicas de Saúde, na primeira consulta de pré-natal. Além disto, definiu-se como rotina no pré-natal o aconselhamento da gestante e parceiro sobre o HTLV, os riscos de complicações obstétricas e riscos para a criança infectada por transmissão vertical. Se o resultado da Sorologia Anti-HTLV for alterado, a confirmação é realizada por meio do teste de Reação de Polimerase em Cadeia (PCR), confirmando ou não o diagnóstico. Caso o PCR for Não detectável, realiza-se o Teste Sorológico Confirmatório Western Blot, com objetivo de excluir resultado falso negativo. Confirmada a infecção, a gestante é referenciada para acompanhamento em infectologia no município; é realizado o compartilhamento do cuidado com a Maternidade Municipal para Pré-Natal Especializado. O acompanhamento das mulheres sintomáticas segue de acordo com a clínica e as assintomáticas bianualmente, ambos em conjunto com a APS. Devido aos indícios de maior risco de progressão de neoplasia intraepitelial cervical, é realizada a triagem anual para infecção pelo HPV.

Aprendizado e Análise Crítica
O processo proporcionou a todos os envolvidos uma compreensão da complexidade e importância da abordagem multidisciplinar e centrada no indivíduo, além de uma visão abrangente sobre os diversos aspectos a serem considerados para o cuidado de qualidade. Promover a compreensão de médicos e enfermeiros que atuam no cuidado a gestante foi fundamental para a adesão às estratégias desenvolvidas para monitorar e manejar a saúde da mãe e do feto, além de promover a segurança desses profissionais na utilização das ferramentas (exames e fluxos) disponíveis para a detecção e acompanhamento. Outra lição importante foi o quanto o manejo do HTLV em gestantes exige uma colaboração multidisciplinar, incluindo obstetras, infectologistas e a vigilância em saúde. Cada profissional tem papel crucial no planejamento e execução de um plano de cuidado abrangente que atenda às necessidades físicas, emocionais e sociais da gestante. Outro ponto foi compreender que a conscientização sobre o HTLV entre a população em geral é crucial para promover o manejo adequado da doença. É crucial que os sistemas de saúde priorizem a detecção sistemática do HTLV em gestantes, garantindo acesso aos exames, aconselhamento adequado e cuidados médicos especializados. Isso não apenas protege a saúde das gestantes e de seus filhos, mas também contribui para a prevenção da disseminação do HTLV dentro das comunidades.

Referências
ALCÂNTARA MANESCHY, C; BARILE, K. A; CASTRO, J. A; PALMEIRA, M. CASTRO, R.; AMARAL, C. E. Epidemiological and Molecular Profile of Blood Donors Infected With HTLV-1/2 in the State of Pará, Northern Brazil. Braz J Microbiol, v. 52, n. 4, p. 2001-2006, 2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS Nº 3.148, de 6 de fevereiro de 2024. Altera o Anexo 1 do Anexo V à Portaria de Consolidação GM/MS nº 4, de 2017, para incluir a infecção pelo HTLV, da Infecção pelo HTLV em gestante, parturiente ou puérpera e da criança exposta ao risco de transmissão vertical do HTLV na lista nacional de notificação compulsória de doenças, agravos e eventos de Saúde Pública, nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional. Diário Oficial da União. 2024.

Fonte(s) de financiamento: Não há.


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