Roda de Conversa

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
RC4.5 - Rede de Atenção à saúde materno-infantil (1)

52821 - COORDENAÇÃO DO CUIDADO NA REDE DE ATENÇÃO AO CÂNCER DO COLO DO ÚTERO: PERSPECTIVA DOS GESTORES E PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA
KARLA REGINA VIANA COUTINHO - SESAU - RECIFE, ADRIANA FALANGOLA BENJAMIN BEZERRA - UFPE, KEILA SILENE DE BRITO E SILVA - UFPE


Apresentação/Introdução
O câncer do colo do útero é considerado um problema de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento, pois apresenta elevadas taxas de prevalência e mortalidade em mulheres com grande vulnerabilidade social.
Apesar disso é considerada uma doença com grande chance de cura, desde que detectada e tratada precocemente.
Para Starfield (2002), a atenção primária à saúde deve coordenar os fluxos dos usuários entre os vários serviços de saúde, buscando garantir maior equidade ao acesso e à efetiva utilização das demais tecnologias e serviços, para responder às necessidades de saúde da população. A importância de ações coordenadas pela APS foi relatada no trabalho de Cruz et al. (2019), que observaram uma associação positiva entre a coordenação do cuidado e o resultado da qualidade da assistência à saúde da mulher e da criança, apesar de constatar um predomínio de baixo nível de coordenação no Brasil.
Este trabalho trata sobre a coordenação do cuidado da APS na rede de atenção ao CCU no município de Teresina, na perspectiva de profissionais e gestores. Partiu-se da premissa de que a APS é um dos condicionantes da dinâmica regional de saúde, essencial para a conformação das redes de saúde.


Objetivos
Este trabalho teve como objetivo analisar a coordenação do cuidado pela Atenção Primária à Saúde (APS) na Rede de Atenção ao Câncer do Colo do Útero do Município de Teresina e Identificar as principais dificuldades e facilidades da APS em realizar a coordenação do cuidado na perspectiva dos profissionais e gestores.

Metodologia
Foi realizado um estudo de caso único com abordagem qualitativa, por meio de entrevista aberta com profissionais da atenção primária e gestores municipais da área da saúde da mulher e da regulação municipal.
Por questões éticas, preservou-se o anonimato e não se especificou os setores-chave da gestão escolhidos. Os entrevistados estão identificados no texto com letras: P, (profissionais graduados), e G (gestores). Foi entregue ao participante um termo de consentimento, atendendo às exigências do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).
Os dados coletados nas entrevistas foram transcritos e submetidos à análise de conteúdo, a técnica utilizada foi a temática. A exploração do material permitiu a definições de categorias emergentes.
Para aprofundamento do caso foi realizada uma descrição do contexto, com análise documental dos dados referentes à Rede de Cuidado ao Câncer do Colo do Útero.


Resultados e Discussão
As categorias de análise que emergiram das entrevistas foram:
Burocratização do acesso na APS, baixa valorização da APS, mecanismo de acesso à atenção especializada satisfatória, responsabilização intermunicipal incipiente, comunicação fragmentada da APS e atenção especializada.
Considerou-se positivo o mecanismo de acesso para a atenção especializada, bem como a disponibilidade de vagas para algumas especialidades, por meio da marcação online na própria unidade, com o uso de um sistema gerenciado pela regulação, porém, sem governabilidade e conhecimento da APS no gerenciamento das filas de espera. A grande espera para o tratamento com radioterapia foi apontada pela gestão como problema, ocasionada pela grande procura por pacientes dos municípios vizinhos e de outros estados, atendidos em Teresina.
A ausência de comunicação entre os níveis de atenção é apontada como gargalo para a coordenação do cuidado pela APS e evidencia a baixa participação da atenção especializada em fortalecer o sistema de referência e contrarreferência do município. Essa realidade dificulta o retorno de informação essencial para o monitoramento e acompanhamento longitudinal das usuárias pelas equipes de atenção primária.
Verificou-se a existência de instrumentos para continuidade informacional no município, o uso do prontuário eletrônico e um sistema de informação de monitoramento de mulheres com exames alterados, porém os dois com restrição de acesso. O primeiro é restrito às USFs e não se comunica com outros serviços; o segundo é restrito à gestão municipal e as equipes não têm conhecimento, nem acesso à ferramenta. A utilização desses recursos e sistemas em rede fortaleceria a integralidade do cuidado.


Conclusões/Considerações finais
Este estudo analisou como a APS realiza a coordenação do cuidado, suas potencialidades e as principais dificuldades, utilizando como marcador o CCU, em um município com 100% de cobertura de USF. A análise resultou em cinco categorias que descrevem o cenário observado.
Diante do contexto analisado, o município apresentou fragilidades para que a APS exercesse seu papel como coordenador do cuidado às mulheres com CCU, abrangendo o processo de trabalho das equipes, como também a articulação com os serviços especializados. Conclui-se que uma alta cobertura das EqSFs é importante, porém não é suficiente em contextos em que os processos de trabalho permanecem inalterados, não integrados com os serviços especializados e sem participação ativa da gestão na padronização dos fluxos, com o objetivo de fortalecer a APS como protagonista na coordenação do cuidado, na Rede de Atenção ao CCU.


Referências
1. INCA. Atlas de mortalidade. Acesso em: 11/10/2020. Disponível em: https://mortalidade.inca.gov.br/MortalidadeWeb/
2. INCA. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2018: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2017.
3. Viana ALA, Bousquat A, Melo GA, De Negri Filho A. Regionalização e redes de saúde. Ciências e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 6, p.1791-1798, 2018.
4. Starfield B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: Unesco, Ministério da Saúde, 2002.
5. Cruz MJB, Santos AF, Araújo LHL, Andrade EG. A coordenação do cuidado na qualidade da assistência à saúde da mulher e da criança no PMAQ. Caderno de Saúde Pública (online), Rio de Janeiro, v. 35, n.11, 2019. Acessado em 3 março 2020. Disponível em:


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