Roda de Conversa

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
RC4.5 - Rede de Atenção à saúde materno-infantil (1)

48739 - ADAPTAÇÃO DA LISTA DE VERIFICAÇÃO PARA O PARTO SEGURO DA OMS EM MATERNIDADES BRASILEIRAS
ZENEWTON ANDRÉ DA SILVA GAMA - UFRN/HARVARD, LIANA CARLAN PADILHA - UFRN, ANA ELZA OLIVEIRA DE MENDONÇA - UFRN, MARISE REIS DE FREITAS - UFRN, CLÁUDIA MARIA MESSIAS - UFF, PAULA BEATRIZ DE MORAIS ARCANJO LIMA - UFRN, TATYANA MARIA SILVA DE SOUZA ROSENDO - UFRN


Apresentação/Introdução
A mortalidade materna e neonatal é um grave problema de saúde pública. Em 2021, o Brasil teve 8 mortes maternas/dia, com estimativa de 1 morte neonatal, até o 28º dia após nascimento, a cada 22 min. Tais mortes ocorrem principalmente por causas evitáveis e em regiões vulnerabilizadas, revelando problemas de iniquidade[1],[2].
Pelos ODS, o país estabeleceu meta de, até 2030, reduzir a taxa de morte materna para 30/100.000 NV e de morte neonatal para 5/1.000 NV. Para tanto, é necessário qualificar a assistência hospitalar ao parto[2].
A OMS desenvolveu a Lista de Verificação para o Parto Seguro (LVPS)[3], validada para o Brasil[6], que é ferramenta de fácil uso e baixo custo, construída com base em evidências científicas, que aborda as principais causas de morte materna, de óbito fetal relacionado ao parto e de mortes neonatais[4], dividida em 4 momentos.
A OMS incentiva a adaptação da LVPS à realidade local. Recomenda-se que seja executada de forma sistemática e participativa, que reflita protocolos clínicos, estruturas disponíveis e novas evidências, pois favorece a compreensão e o engajamento da equipe[5]. Contudo, há pouca informação sobre como as unidades podem efetuá-la.
Assim, realizou-se pesquisa aplicada de ciência da implementação, para testar método misto de consenso rápido e rigoroso para a adaptação da LVPS em maternidades brasileiras.

Objetivos
Realizar a adaptação da LVPS ao contexto local de maternidades, por método misto de consenso, com participação das equipes multiprofissionais das unidades.

Metodologia
Estudo metodológico de adaptação e validação da LVPS, por meio de técnica mista de consenso, ao contexto local de quatro unidades hospitalares com serviços obstétricos de quatro cidades diferentes, sendo três no estado do Rio Grande do Norte (RN) e uma no estado do Rio de Janeiro (RJ). O estudo ocorreu durante os meses de outubro de 2022 a maio de 2023.
Para o processo de adaptação, utilizou-se técnica mista de consenso. Conciliou-se o método Delphi (aplicação de questionário por parte dos especialistas sem discussão, de forma individual) e o método do grupo nominal (reunião de especialistas para debate sobre itens sem conseno).
A adaptação se deu em 3 etapas:1) aplicação individualizada de questionário desenvolvido a partir dos 43 itens da LVPS adaptada e validada por Carvalho et al., por meio de plataforma online gratuita, sem restrição de tempo para as respostas e sem discussão prévia (inspirado no método Delphi); 2) reunião de especialistas das equipes multidisciplinares sobre itens sem consenso, ou seja, que não atingiram Índice de Validade de Conteúdo (IVC) ≥ 90% (inspirado no grupo nominal); e 3) os itens da LVPS que não atingiram o IVC foram reavaliados individualmente.

Resultados e Discussão
O método permitiu a participação de um total de 90 juízes, dos quais 71 mulheres.
Nas 4 maternidades, a maioria dos itens da LVPS foi aprovada na fase 1 do método (Hosp. 1 = 65%; Hosp. 2 = 86%; Hosp. 3 = 91%; Hosp. 4 = 51%). O item que obteve menor IVC foi o 12 (parturiente apresenta indicação de episiotomia), com IVC 67% no Hosp.1 e nos Hosp. 3 e 4, IVC 76%. As discussões da fase 2 levaram à exclusão do item.
Nas fases 2 e 3 do método, validou-se a maioria dos itens reavaliados, sendo sugeridas algumas alterações de redação, com inclusão de itens adicionais.
a) Hosp. 1: inserção de item (verificar se parturiente tem doenças de base/ alergias/comorbidades); inclusão de testes rápidos de HIV e Sífilis como fatores de revisão no item 1 [7]; e, face ao perfil de parturientes locais, incluiu-se teste de Hepatite C.
b) Hosp. 2: inserção de item (verificar se parturiente e RN portam pulseira de identificação de risco).
c) Hosp. 3: 2 itens mantiveram o texto proposto na LVPS por consenso (item 1 e 3), 1 obteve alteração de redação (item 16) e inserção de item para verificar vaga em UTI Neonatal;
d) Hosp. 4: 12 itens validados com IVC 100%, 9 validados com alterações por consenso; inserção de itens: confirmar nome da paciente com pulseira de identificação, prontuário e formulário; considerando as práticas locais e evidências atuais, uso de antibiótico como profilaxia contra estreptococo do grupo B, para idade gestacional (IG) ≤37 no item 5 [8],[9]; indicação para uso de sulfato de magnésio como protocolo de neuroproteção fetal (IG≤31,6) no item 7 [10]; no item 8, passou a constar que, para prevenção da transmissão vertical de HIV, o exame negativo deve ter sido feito 30 dias antes do parto [7].
Por fim, houve adaptação dos itens 20 e 34, que passaram a conter o bundle E-MOTIVE [11].

Conclusões/Considerações finais
Este estudo tem algumas limitações. As LVPS produzidas e validadas não são diretamente aplicáveis a outros serviços de saúde similares; é necessário replicar o processo de adaptação apresentado para que a LVPS reflita as peculiaridades locais. O estudo mostrou a utilidade do método para adaptação relativamente rápida, mas não investigou sua implementação nem a percepção dos profissionais participantes sobre o processo. Alguns juízes participaram da fase 1, mas não participaram das demais, pois foram realizadas de forma presencial e por haver rotatividade de profissionais. Apesar disso, o estudo assegurou que todos os itens tenham alcançado ponto de corte de IVC 90%.
O método misto de consenso permitiu importantes contribuições para que a LVPS de cada hospital refletisse protocolos clínicos mais atuais e o contexto local. Além das versões de cada hospital, obteve-se a segunda versão da LVPS Brasil, que pode ser utilizada como referência inicial para a adaptação em qualquer maternidade.

Referências
1Alves FJO, et al Association of conditional cash transfers with maternal mortality etc.
2Lansky S et al Investigación Nacer en Brasil: perfil de mortalidad neonatal, evaluación de la maternidad etc
3WHO Patient safety. Safe Childbirth Checklist 2015
4WHO Safe childbirth checklist implementation guide 2017
5Molina RL et al Adaptation and implementation of the WHO Safe Childbirth Checklist etc
6Carvalho ICB de M et al Adaptation and validation of the World Health Organization’s on Safe Childbirth Checklist for the Brazilian context
7Brasil Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Prevenção da Transmissão Vertical do HIV etc.
8ACOG: Prevention of group B streptococcal early-onset disease in newborns, n 797
9FEBRASGO Guia prático: infecções no ciclo grávido-puerperal
10Coutinho T et al Fetal neuroprotection: a contemporary use of magnesium sulfate
11Gallos I et al Randomized trial of early detection and treatment of postpartum hemorrhage

Fonte(s) de financiamento: CNPq, processo: 409972/2021-5 – Chamada CNPq/MCT/FNDCT


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