Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC4.4 - Dispositivos de gestao e de avaliação da atenção hospitalar

50685 - EXPERIÊNCIAS DE GESTORES HOSPITALARES NOS CUIDADOS ÀS GESTANTES COM ÓBITO FETAL: PROJETO FETRISKS EM 14 HOSPITAIS-SUS DE SÃO PAULO
OSMARA ALVES DOS SANTOS - DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA, FACULDADE DE MEDICINA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FMUSP), SÃO PAULO, BRASIL, ROSSANA PULCINELI VIEIRA FRANCISCO - DEPARTAMENTO DE OBSTETRÍCIA E GINECOLOGIA, FACULDADE DE MEDICINA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FMUSP), SÃO PAULO, BRASIL, ZILDA PEREIRA DA SILVA - DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA, FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FSP-USP), SÃO PAULO, BRASIL, MARCIA FURQUIM DE ALMEIDA - DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA, FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FSP-USP), SÃO PAULO, BRASIL, GIZELTON PEREIRA ALENCAR - DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA, FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FSP-USP), SÃO PAULO, BRASIL, MARA SANDRA HOSHIDA - DEPARTAMENTO DE OBSTETRÍCIA E GINECOLOGIA, FACULDADE DE MEDICINA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FMUSP), SÃO PAULO, BRASIL, GERUSA MARIA FIGUEIREDO - DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA, FACULDADE DE MEDICINA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FMUSP), SÃO PAULO, BRASIL, LAYS JANAINA PRAZERES MARQUES - DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA, FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FSP-USP), SÃO PAULO, BRASIL, NELSON GOUVEIA - DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA, FACULDADE DE MEDICINA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FMUSP), SÃO PAULO, BRASIL, HILLEGONDA MARIA DUTILH NOVAES - DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA, FACULDADE DE MEDICINA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FMUSP), SÃO PAULO, BRASIL


Apresentação/Introdução
A perda fetal é uma das experiências mais devastadoras para uma gestante, com profundas consequências emocionais e psicológicas. A forma como o sistema de saúde aborda este evento crítico, especialmente do ponto de vista dos profissionais envolvidos, impacta significativamente a experiência da paciente. Globalmente, as taxas de natimortos não acompanharam a diminuição das de mortalidade materna ou infantil.
O óbito fetal permanece como um desafio crítico, com disparidades significativas na atenção e na pesquisa entre países de diferentes níveis socioeconômicos. O óbito fetal intraparto ocorre durante o trabalho de parto e é fortemente influenciado pela qualidade do atendimento obstétrico recebido, sendo ainda bastante frequente em países de baixa renda. O óbito fetal anteparto, anterior ao trabalho de parto, é mais frequente em países de renda média e alta, também no Brasil, e tem sido menos estudado.
A atenção qualificada e empática no manejo do óbito fetal pode diminuir o impacto psicológico negativo em mulheres que passam por essa experiência. A literatura sugere que há uma variabilidade significativa nas práticas clínicas, afetando a qualidade do suporte oferecido. Médicos e enfermeiros obstetras, os principais cuidadores dessas pacientes, desempenham um papel crucial na implementação de cuidados baseados em evidências.


Objetivos
Este estudo propõe investigar as perspectivas de médicos e enfermeiros obstetras sobre o cuidado prestado às gestantes com óbito fetal, no contexto da maternidade/hospital, explorando também as estratégias que podem ser implementadas para melhorar a prevenção e a gestão desses casos.



Metodologia
O estudo faz parte da pesquisa FetRisks - Mortalidade Fetal: desafios do conhecimento e da intervenção, projeto temático FAPESP 2016/07765-0, estudo de caso-controle de base hospitalar com 412 óbitos fetais (casos) e 420 nascidos vivos (controles) em 14 hospitais SUS do município de São Paulo. No subprojeto que visa investigar o papel dos serviços de saúde na organização do pré-natal e de atenção ao parto, foram realizadas entrevistas individuais com 28 coordenadores dos centros obstétricos dos 14 hospitais. Para cada hospital foi entrevistado um médico e um enfermeiro. As entrevistas ocorreram entre fevereiro e novembro de 2023, utilizando o Google Meet foram gravadas, transcritas no software Reshape e foi realizada a dupla correção.
Foi adotado roteiro semiestruturado que abordou aspectos como: acolhimento às mulheres, direito à acompanhante, vigilância e monitoramento das condições de saúde, vinculação da gestante à maternidade, adoção das boas práticas na assistência ao trabalho de parto e parto e a comunicação com a direção e os gestores da Maternidade. Os dados da entrevista estão apresentados de forma descritiva por meio de números e proporções.


Resultados e Discussão
Os profissionais tinham de 30 a 66 anos, 75% do sexo feminino. Todos tinham especialização em Ginecologia e Obstetrícia. Quanto ao atendimento de mulheres em óbito fetal, 57,1% dos gestores relataram haver fluxo específico, com 89,3% das maternidades oferecendo suporte psicológico, principalmente no período diurno e nos dias da semana (48%). Em relação ao direito à acompanhante, 89,3% dos gestores relataram que a maternidade assegura integralmente esse direito, embora 71,4% referissem obstáculos para sua implementação, como falta de espaço adequado, ausência de poltronas e limitação de privacidade. A maioria dos gestores (85,7%) relatou que as gestantes puderam realizar visitas a maternidade durante o pré-natal. Quanto às práticas durante o trabalho de parto, nos casos de óbito fetal, o parto normal é realizado unicamente por médicos, ou por médico obstetra e enfermeiro obstetra, e apenas 57,1% afirmaram seguir protocolo específico para óbito fetal. Métodos de indução e condução do trabalho de parto incluem prostaglandinas e ocitocina, com esta última sendo aplicada seletivamente em casos de óbito fetal. A maioria dos gestores afirmou garantir privacidade às mulheres (82,1%) e oferecer métodos de alívio da dor (89,3% farmacológicos e 96,9% não farmacológicos). Apenas 60,7% relataram a oferta de cesariana por desejo materno. Apenas 21,4% desses gestores afirmaram que suas equipes receberam qualificação específica a atenção ao óbito fetal. A maioria das maternidades possui um Comitê de Óbito Fetal e Neonatal (85,7%), realizam análises de óbitos fetais e neonatais e disponibilizam os dados para a equipe (64,3%). A comunicação com a Atenção Básica é assegurada pela alta responsável/compartilhada (96,4%).

Conclusões/Considerações finais
Os resultados apontam para a importância de abordagem integrada e centrada na paciente no atendimento ao óbito fetal, com ênfase na padronização de protocolos, investimentos em capacitação, melhoria da infraestrutura e fortalecimento da comunicação interdisciplinar. Essas medidas são essenciais para garantir uma assistência de qualidade e compassiva às gestantes e suas famílias em um momento tão delicado. Embora a maioria das maternidades ofereça suporte psicológico, sua disponibilidade durante o período noturno e nos fins de semana é limitada. Destacam-se outros obstáculos, como falta de espaço adequado, limitações de privacidade, a pouca oferta de cesarianas por desejo materno. A comunicação eficaz entre os diferentes níveis de atenção à saúde é fundamental para garantir uma assistência integrada e contínua às gestantes e suas famílias.

Referências
1. Lawn JE, Blencowe H, Waiswa PS, Flenady V, Froen F. Qureshi Z. Stillbirths: data for accelerating progress for 2030. For The Lancet Ending Preventable Stillbirth Series study group, The Lancet. In press.
2. Robertson L. et al. Each baby counts: National quality improvement programme to reduce intrapartum-related deaths and brain injuries in term babies/ Seminars in Fetal & Neonatal Medicine 22 (2017) 193e198. http://dx.doi.org/10.1016/j.siny.2017.02.001
3. Page J.M., Silver R.M. Interventions to prevent stillbirth. Seminars in Fetal & Neonatal Medicine 22 (2017) 135e145. http://dx.doi.org/10.1016/j.siny.2017.02.010
4. Murphy S., Cacciatore J. The psychological, social, and economic impact of stillbirth on families. Seminars in Fetal & Neonatal Medicine 22 (2017) 129e134. http://dx.doi.org/10.1016/j.siny.2017.02.002

Fonte(s) de financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Processos FAPESP: 2016/07765-0 e 2020/05458-9).


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