Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC4.4 - Dispositivos de gestao e de avaliação da atenção hospitalar

50396 - IMPORTÂNCIA DO PERFIL CLÍNICO E EPIDEMIOLÓGICO PARA PREVENÇÃO DA SEPSE FÚNGICA EM MATERNIDADE TERCIÁRIA DO CEARÁ.
RAYNARA RENATA FONSECA BRANDÃO - ESP CEARÁ, ANA NERY MELO CAVALCANTE - UNIFOR, CARMEN SULINETE SULIANO DA COSTA LIMA - HGCC, JULIANA JÉSSICA BATISTA PITOMBEIRA - HGCC, ROSELISE BEZERRA SARAIVA - HGCC, ANA LETICIA ALMEIDA CAVALCANTE GOMES - UNIFOR, MATHEUS LOPES CAMPOS - UNIFOR, IZABELLE MOTA RAMALHO BRILHANTE - UNIFOR, JOÃO PEDRO CAVALCANTE PIMENTA - UNIFOR, MARIA ALIX LEITE ARAÚJO - UNIFOR


Apresentação/Introdução
A sepse neonatal é caracterizada por alterações hemodinâmicas causadas pela resposta imunológica a um patógeno durante o período neonatal (entre o nascimento e o 28º dia de vida). Pode ser causada por vírus, bactérias, parasitas ou fungos (MALAQUIAS et al., 2022). Se apresenta, na maioria das vezes, após 48 horas de vida da criança.
A incidência vem aumentando devido ao maior tempo de permanência dos recém-nascidos (RN) em unidades de terapia intensiva, realização de diversos procedimentos invasivos e uso de antimicrobianos de amplo espectro (CABRERA et al., 2017). Sua apresentação clínica é diversa, podendo a criança apresentar sinais e sintomas inespecíficos. O diagnóstico é baseado principalmente por meio do exame de cultura, que são pouco específicas e demoram dias para um resultado definitivo (GIBELLI; KREBS, 2020).
A sepse apresenta alta taxa de mortalidade, principalmente entre as crianças com menor idade gestacional e baixo peso ao nascer. Além do alto risco de morbidade e de alterações neurológicas futuras, podendo deixar consequências por toda a vida (KELLY; BENJAMIN; SMITH, 2015).
Diante do exposto, a presença de sepse fúngica demonstra a qualidade na assistência hospitalar, uma vez que pode ser prevenida com o uso racional de antimicrobianos, menor utilização de procedimentos invasivos e menor tempo de internamento hospitalar.



Objetivos
Traçar o perfil clínico e epidemiológico das crianças diagnosticadas com infecção fúngica em uma maternidade pública terciária do estado do Ceará para informar à gestão hospitalar e servir de base para planejar ações de melhoria na qualidade da assistência e, consequentemente, na diminuição da mortalidade neonatal.

Metodologia
Estudo transversal, retrospectivo, baseado em informações das crianças internadas em unidade neonatal (cuidados intensivos e intermediários) e investigadas para infecção fúngica, de janeiro de 2022 a dezembro de 2023.
Os dados foram coletadas, em fevereiro 2023, no banco de dados da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e nos prontuários eletrônicos da instituição. Foram incluídas as crianças internadas e que apresentaram alguma cultura positiva para espécies fúngicas. Foram excluídas as crianças que apresentavam informações incompletas.
As variáveis do estudo foram: relacionadas à criança (sexo, idade gestacional, peso ao nascimento, setor e tempo de internação) e à assistência à saúde (tipo e tempo de uso de antibioticoterapia, tempo inserção do cateter venoso central - CVC, da ventilação mecânica invasiva, de nutrição parenteral- NP e desfecho - alta, transferência para outra instituição ou óbito.
Os dados foram analisados no programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 25, e expressos com valores absolutos e relativos. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-RJ) com Parecer Nº 59433722.3.0000.5269.



Resultados e Discussão
Foram analisados 21 casos de sepse fúngica neonatal nos anos de 2022 e 2023. O diagnóstico foi obtido por meio de hemocultura em 16 casos (76,2%). O principal agente etiológico causador foi a Candida albicans, 47,6% dos casos.
Eram do sexo feminino 12 (57,1%). A média da idade gestacional e do peso das crianças foi de 31,5 semanas e 1418 gramas, respectivamente. A incidência da sepse fúngica neonatal é inversamente proporcional à idade gestacional e ao peso ao nascer (KELLY; BENJAMIN; SMITH, 2015).
A maioria das crianças (76,5%) estavam internadas em unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal por período prolongado. A média foi de 50,7 dias de internação. Os pacientes internados em UTI por mais tempo, geralmente, necessitam de intervenções mais frequentes e invasivas, o que gera maior risco de infecções tardias (SOARES; DE OLIVEIRA; CARNEIRO, 2013).
Fizeram uso de Cateter Venoso Central (CVC), 19 (90,5%) crianças, com média de utilização de 39,1 dias. O CVC constitui uma porta de entrada para a infecção de pacientes já colonizados e as espécies de cândida podem sobreviver no biofilme formado nestes dispositivos, tornando mais difícil a ação do sistema imunológico e dos antimicrobianos (KELLY; BENJAMIN; SMITH, 2015)..
Todos os pacientes fizeram uso de ventilação mecânica invasiva, com tempo médio de 17,3 dias, já o tempo médio de NP foi de 21,4 dias e o tempo médio de uso de antibióticos foi de 21,2 dias. Após o diagnóstico, o tempo de tratamento com antifúngicos foi em média 16,2 dias.
Evoluíram para óbito oito (38,1%) crianças, três (14,3%) foram transferidas para outros serviços e dez (47,6%) receberam alta hospitalar. Em estudo caso-controle realizado na China, encontrou-se um percentual de mortalidade de 25,3% (LIU et al., 2015).


Conclusões/Considerações finais
A sepse fúngica é um tema que envolve a gestão do cuidado e a qualidade da rede de atenção à saúde. Pode ser prevenida, na atenção primária, por meio de uma assistência pré-natal de qualidade que contribua para evitar nascimento de recém-nascidos prematuros e de baixo peso. Para a prevenção na unidade hospitalar deve-se instituir o uso racional de antimicrobianos, diminuir o tempo de utilização, evitar o uso de procedimentos invasivos, tentar reduzir o tempo de internamento hospitalar e investir em diagnóstico precoce.

Referências
GIBELLI, M.A.B.C.; KREBS, V.L.J. Infecções fúngicas no recém-nascido. Neonatologia: pediatria. 2. ed. São Paulo: Manole, 2020. p. 660-669.
KELLY, M.S.; BENJAMIN, D.K.; SMITH, P. B. The Epidemiology and Diagnosis of Invasive Candidiasis Among Premature Infants. Clinics In Perinatology, [S.L.], v. 42, n. 1, p. 105-117, 2015. Elsevier BV.
LIU, M. et al. Clinical features and risk factors for blood stream infections of Candida in neonates. Experimental and therapeutic medicine, v. 10, n. 3, p. 1139-1144, 2015.
MALAQUIAS, C.F.V. et al. Fatores de risco da sepse neonatal tardia: uma revisão narrativa. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 15, n. 2, p. e9739-e9739, 2022..
SOARES, L.P.M.A.; DE OLIVEIRA, R.T.; CARNEIRO, I.C.R.S. Infecções da corrente sanguínea por Candida spp. em unidade neonatal de hospital de ensino da Região Norte do Brasil: estudo dos fatores de risco. Revista Pan-Amazônica de Saúde, v. 4, n. 3, p. 6-6, 2013.

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