51652 - TRABALHO E SOFRIMENTO PSÍQUICO NA REDE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: MATRIZ GUT COMO DISPOSITIVO DE MAPEAMENTO AMANDA ROBERTA FONSECA DO NASCIMENTO - UECE, KERLEY MENEZES SILVA PRATA - UECE, JOSÉ MARIA XIMENES GUIMARÃES - UECE, ANA PATRÍCIA PEREIRA MORAIS - UECE
Contextualização A Atenção Primária de Saúde (APS) e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), embora representem territórios sociopolíticos, organizacionais e subjetivos distintos, uma vez que estejam articulados e integrados, compõem a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), com a ordenação do cuidado a partir da primeira, exibem interdependência, por meio do estabelecimento de relações estreitas, dinâmicas e complexas, em sua mútua influência (BRASIL, 2014). Mediante o acolhimento das narrativas de sofrimento e insatisfação (GUIMARÃES, JORGE e ASSIS, 2011), oriundas não apenas de profissionais como também de usuários da atenção integral à saúde de mental, promoveu-se a realização de oficina com vistas à identificação e caracterização de problemas prioritários, na interface estabelecida entre a APS e o CAPS. Dessa maneira, evidenciou-se interconexões e disjunções entre estes dois equipamentos da RAPS, evidenciando a precarização do trabalho e o adoecimento ocupacional (COUTINHO et al., 2020). A seleção do problema prioritário de saúde estabeleceu-se mediante auxílio da matriz GUT. O objetivo desta ferramenta gerencial é priorizar as ações de maneira assertiva, levando em consideração a Gravidade, a Urgência e a Tendência do fenômeno, critérios a partir dos quais provêm a sigla “GUT” (KEPNER e TREGOE, 1981).
Descrição da Experiência Trata-se de relato de experiência acerca de oficina realizada na sede de um município da Região Metropolitana de Fortaleza, como proposta de uma disciplina do Seminário de Acompanhamento I do Doutorado Profissional em Saúde da Família. Embora o convite para a realização da oficina em uma Unidade de Atenção Primária de Saúde (UAPS) tenha sido recusado, por entraves logísticos, uma técnica de enfermagem e duas agentes comunitárias de saúde, através de WhatsApp, expressaram o desejo de receber as instruções sobre a elaboração de matriz GUT e a discussão de resultados em meio virtual. No Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD), situado no mesmo município, realizou-se a atividade proposta com cinco profissionais (duas psicólogas, uma enfermeira e duas terapeutas ocupacionais), com duração de 50 minutos. A oficina foi antecedida por dinâmica de grupo com cartões intitulados “Exercícios de Inteligência Emocional”. Em seguida, foi apresentado breve esclarecimento sobre a finalidade de se elaborar uma matriz GUT, a relevância desta ferramenta para priorização de problemas e subsequente otimização de ações.
Objetivo e período de Realização Relatar a experiência de análise da situação de saúde no território, realizada de modo cooperativo com participação de profissionais da Atenção Primária de Saúde e de um Centro de Atenção Psicossocial, tendo como ferramenta a Matriz GUT, em Abril de 2024.
Resultados Ainda que fora da proposta cooperativa para a execução da atividade, em vista do interesse pela prática de cogestão, os resultados obtidos em exercício individual por profissionais da UAPS e usuários do CAPS foram considerados, sendo consolidados e comparados àqueles encontrados na etapa posterior da oficina, realizada no CAPSad. Foram apontados 8 problemas de saúde, para os quais buscou-se evidências em dados sociodemográficos, epidemiológicos e relatórios gerados a partir de consultas nos sistemas de informação em saúde e no Prontuário Eletrônico do Cidadão. A partir de tais evidências, cinco problemas foram ordenados e hierarquizados pelos seguintes critérios: valor político, governabilidade, eficácia do trabalhador na execução de intervenções e custo do adiamento. Em relação à proposta, ao material utilizado, bem como às potencialidades da ferramenta apresentada, houve boa aceitação das profissionais, que avaliaram a oficina como “pertinente e interessante”. A matriz construída expõe a existência de adoecimento biopsicossocial e ecológico dos profissionais como problema prioritário.
Aprendizado e Análise Crítica A despeito das recusas iniciais dos convites, a relevância gerencial da oficina, bem como a oportunidade para reflexão crítica e autoavaliativa acerca dos processos de trabalho, justificaram a persistência na realização da atividade. A consolidação dos dados obtidos através da oficina expôs o sofrimento das/os trabalhadoras/es, desvendado na forma como as interações profissionais se (des)articulam. Trata-se de fenômeno multifacetado, cuja natureza complexa e dinâmica impacta diretamente a qualidade do cuidado em saúde mental, ofertado na intersecção entre serviço de atenção secundária e a estratégia de saúde da família (MARCON et al., 2024). Autodepreciação, angústia em relação à precarização dos vínculos trabalhistas, más condições de trabalho e relatos de sofrimentos das mais diversas naturezas são algumas das temáticas que atravessaram as narrativas dos profissionais. A interpretação partilhada de um adoecimento velado e invisibilizado, possibilitou encontros de vulnerabilidades, em ambientes insalubres, no exercício de relações de trabalho que demandam ações interdisciplinares e cooperativas (MARCON et al., 2024).
Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Implantação das Redes de Atenção à Saúde e outras estratégias da SAS / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
COUTINHO, M.F.C et al. Articulations between the Global Mental Health project and the cultural aspects of care in the Psychosocial Care and Primary Health Care Network in Brazil. Physis: Revista de Saúde Coletiva [online]. v. 30, n. 02 e300219
MARCON, S.R.A… [et al.]. Fatores psicossociais em contextos de trabalho dos profissionais de segurança pública. Caxias do Sul, RS: Educs, 2024.
GUIMARÃES, J. M. X.; JORGE, M. S. B.; ASSIS, M. M. A.. (In)satisfação com o trabalho em saúde mental: um estudo em Centros de Atenção Psicossocial. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. 4, p. 2145–2154, abr. 2011.
KEPNER, Charles H.; TREGOE, Benjamin B. O administrador racional. São. Paulo: Atlas, 1981.
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