Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC4.2 - Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) (2)

53968 - EQUIPE DE MANEJO E SUPORTE DOMICILIAR INTENSIVO À CRISE EM SAÚDE MENTAL (EMASC-SM)
MARCUS VINICIUS SANTOS - SECRETARIA DA SAÚDE DE RIBEIRÃO PRETO-SP


Contextualização
Os casos agudos de transtornos mentais, incluindo crises psicóticas, abuso de drogas e tentativas de suicídio, vêm aumentando significativamente, gerando sobrecarga nas UPAs e filas de espera por internação psiquiátrica. Existem várias experiências internacionais que propõem novos modelos de cuidado da crise em saúde mental, com foco nas ações no território, equipes multidisciplinares e atendimento domiciliar. Tais experiências veem se demonstrando eficazes na diminuição de internações, aumento da satisfação do atendimento e minimização de preconceitos e traumas que a internação psiquiátrica promove (Sade et al, 2020).


Descrição da Experiência
Diante desse cenário, foi criada a EMASC (Equipe de Manejo e Suporte Domiciliar Intensivo à Crise em Saúde Mental), projeto piloto iniciado em janeiro de 2021. Equipe multidisciplinar formada por psiquiatra, assistente social, enfermeiro e psicólogo. A equipe realiza visitas domiciliares periódicas, em média três vezes por semana, para pessoas em situação de crise em saúde mental que aceitem voluntariamente a proposta da equipe. A proposta é que os casos sejam acompanhados até a remissão do quadro agudo da crise, com posterior encaminhamento para a rede. Período estimado de acompanhamento de 3 a 6 semanas, a depender da evolução do caso. As visitas vão se tornando menos frequentes à medida em que o caso vai evoluindo, sendo substituídas pelo monitoramento por telefone e contato com as equipes de referência dos CAPSs do território e Atenção Básica (eventualmente Assistência Social). Parte fundamental da intervenção consiste na articulação e potencialização da rede de suporte social da pessoa atendida, garantindo o seguimento necessário em rede após o encerramento.



Objetivo e período de Realização
Foi implantada como projeto-piloto em janeiro de 2021 e surgiu como uma estratégia para ofertar um cuidado em saúde mental nas situações de crise alternativo à internação hospitalar. Visa reduzir o número de internações psiquiátricas e diminuir a sobrecarga de atendimento à urgência psiquiátrica nos pronto-atendimentos, além de um atendimento à crise que seja mais resolutivo e menos traumático que a internação hospitalar, com melhor prognóstico principalmente nos casos de primeiro episódio psicótico.


Resultados
Relato de caso: Kaíke, 17 anos, mora com a mãe, o padrasto e três irmãos na periferia. É inteligente, bom desempenho escolar, no último ano do ensino médio. O atendimento se inicia em 30/03, após sua evasão de uma UPA onde estava em surto, sedado e aguardando vaga para internação psiquiátrica. Era o primeiro surto psicótico, sem nenhuma passagem anterior por atendimento. Primeiro atendimento domiciliar foi no dia 01/04, 72h após sua entrada na UPA, 48h após a evasão da unidade. Ele estava agitado e com fala e pensamento acelerados, com um discurso delirante e grandioso. Explicamos a proposta do atendimento domiciliar, pactuamos a retomada e uso regular das medicações prescritas e que faríamos atendimentos domiciliares regulares junto com os outros membros da equipe. O acompanhamos por 90 dias, com frequência de duas a três visitas semanais, realizadas individualmente ou em duplas. Foi disponibilizado a mãe de Kaike acesso a nosso WhatsApp e foram feitos contatos telefônicos periódicos para orientação e escuta/apoio. Apresentou significativa melhora em seu quadro, com a transição do seguimento para o CAPS, retorna as atividades escolares, assintomático e em uso regular da medicação.


Aprendizado e Análise Crítica
A experiência do atendimento domiciliar tem se mostrado eficiente, e no relato podemos verificar que cumpre os objetivos propostos de evitar internação hospitalar, mesmo de casos graves, desde que haja o suporte adequado, a cooperação de rede profissional e envolvimento da rede social do paciente (principalmente da família). Os recursos para esse trabalho são basicamente humanos e técnicos, o que diminui gastos estruturais. Ainda se mostra um desafio dar contorno aos critérios de inclusão e exclusão, pois a equipe é composta de terapeutas envolvidos, então percebe-se que a demanda por assistência é maior do que a que ainda podemos oferecer, e pela própria deficiência de rede a busca pela equipe tem sido de casos mais complexos, que nem sempre se enquadram no que é possível realizar. No Brasil a proposta é inovadora, com poucas experiências similares sendo implementadas e um número bem reduzido de publicações científicas a respeito do tema.

Referências
MORANT, N. et. al. Crisis resolution and home treatment: stakeholders’ views on critical ingredients and implementation in England. 2017. Disponível em: https://bmcpsychiatry.biomedcentral.com/track/pdf/10.1186/s12888-017-1421-0

SADE, R. M. S.; GOLJEVSCEK, S.; CORRADI-WEBSTER, C. M.. Intensive home support for mental health crises: experience of the Trieste territorial crises team, in Italy / Suporte domiciliar intensivo para crises em saúde mental: experiência da equipe de crise territorial de Trieste - Itália. Saúde Soc; 29(3): e190831, 2020.


Realização:



Patrocínio:



Apoio: