Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC4.2 - Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) (2)

52894 - MAPA VIVO EM SAÚDE COMO DISPOSITIVO DE QUALIFICAÇÃO DO CUIDADO E AMPLIAÇÃO DAS REDES EM SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR E TRABALHADORA
CATHANA FREITAS DE OLIVEIRA - UNICAMP, MARIA CLARA CARNEIRO PEREIRA - UNICAMP, BEATRIZ MARQUES BOONEN - UNICAMP, SILVANA TERUME KOSHIKENE RODRIGUES - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE CAMPINAS, CHRISTIANE SARTORI DE SOUZA - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE CAMPINAS, MARCIA BANDINI - UNICAMP


Contextualização
A Reforma Trabalhista trouxe mudanças importantes em 2017, com aumento significativo de afastamentos do trabalho, em distintas categorias. Com a pandemia de COVID-19, as condições laborais se agravam com o isolamento sanitário, a virtualização do trabalho com longas jornadas em home office e, no caso dos profissionais da Atenção Primária em Saúde (APS), com perda de autonomia e relação com os territórios adscritos. Aprofunda-se a precarização e desresponsabilização do Estado frente aos cuidados em saúde de trabalhadores e trabalhadoras, de modo generalizado. Neste cenário de descaso e redução da participação popular nas políticas públicas, cresce o sofrimento mental. Segundo a OMS (2019), o Brasil passa a ter uma das mais altas prevalências de depressão (5,8%) e ansiedade (9,3%), em comparação com outros países. Diante do aumento e invisibilidade dos transtornos mentais e suicídios relacionados ao trabalho, o Ministério Público do Trabalho 15ª Região e um grupo de pesquisadores da Unicamp vem somando esforços para planejar e executar ações de qualificação do cuidado à saúde do trabalhador (a). Apresentamos a experiência do Mapa Vivo, como ferramenta para construção de novos arranjos para qualificação da linha de cuidado em saúde mental do trabalhador e trabalhadora (SMTT).

Descrição da Experiência
Almeida et al. (2016) apontam o mapa vivo como ferramenta configurada na espacialidade, micro ou macro regionalmente, capaz de estabelecer uma compreensão lógica e prestação de atendimento adequados e planejados segundo as peculiaridades dos indivíduos e seu comportamento em receber esse atendimento. O mapa vivo atua na constante interpretação e fluidez da comunidade envolvida pelo equipamento de saúde e que vivencia o processo de mudança natural, a fim de acompanhar e atualizar as demandas que se fizerem necessárias com o passar do tempo (ARMESTO, 2022). O mapa vivo é estratégico para qualificação do planejamento, gestão e organização do trabalho em saúde, aproximando equipes e população, através de ações de vigilância e cuidado na APS, nos CEREST e demais serviços. Nosso mapa propôs seis categorias estratégicas: (1) sobre o Centro de Saúde (CS), (2) desenho das equipes (eSF, eSB e e-multi); (3) fluxos de acolhimento; (4) apoio matricial; (5) ações em Saúde do Trabalhador no CS, e (6) informações de vigilância em SMTT. Foi constituído um grupo misto (academia e serviços) para orientar e realizar as ações de confecção do mapa, apresentação da estratégia para as equipes envolvidas, e duas oficinas de trabalho, uma com Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) e outra com enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, reconhecidos como os acolhedores nas unidades de saúde.

Objetivo e período de Realização
O mapa vivo é um instrumento estratégico de aproximação e processamento de saberes e informações de assistência e vigilância em saúde. Deve ser elaborado como estratégia pedagógica e de intervenção, com engajamento dos atores envolvidos na transformação do cuidado. Preparação e elaboração dos dois primeiros mapas foi de dezembro de 2023 a maio de 2024. Atualmente o grupo estuda maneiras de dar sustentabilidade e ampliação ao Mapa Vivo, em um Distrito que comporta 12 Unidades Básicas e 6 e-multi.

Resultados
As informações apresentadas devem ser atualizadas no mapa com dinamicidade do território vivo relacionando-se com fluxos de acolhimento, matriciamento, encaminhamentos e organização do trabalho em rede. As duas oficinas pedagógicas realizadas oferecem ao mapa o começo da identificação do perfil produtivo do território e a necessidade de reorganização dos fluxos de acolhimento e escuta em saúde mental. Junto aos ACS ficou indicada a necessidade de qualificação quanto ao uso do campo do e-SUS “ocupação” e “situação no mercado de trabalho” que será desdobrado para inclusão do tema em uma capacitação para ACS. Há um debate sobre a necessidade de juntar as secretarias de vigilância e de assistência para obter informações da população adscrita nas áreas mapeadas, o que qualifica as já disponíveis no mapa em termos de gestão do trabalho a ser desenvolvido. O grupo identificou a necessidade de fortalecimento dos vínculos entre CEREST, e-multi e equipes de APS para identificar casos e ter maior disponibilidade e qualidade no cuidado à saúde mental do(a) trabalhador (a), prioritariamente no que diz respeito aos novos acordos que podem ser estabelecidos, entre os distintos serviços da rede.

Aprendizado e Análise Crítica
O grupo avalia o trabalho com o mapa de maneira bem positiva, mas desde o começo tem sido desafiador pensar em como dar corpo às necessidades das equipes de saúde que são identificadas. A ampliação da experiência deve ser feita gradualmente, respeitando as possibilidades dos agentes envolvidos para que - profissionais de saúde e pesquisadores - possam sustentar as ações de reorganização do trabalho que ele dispara. Para tanto, acreditamos que após este período inicial de ajustes, o mapa pode ter sua versão desenvolvida em um período de 4 a 6 meses, respeitando o eixo de relação do Distrito Norte de 2 UBS para cada 1 e-multi. As oficinas são espaços delicados, onde identificamos o quanto o acolhimento da demanda espontânea e de saúde mental tem lacunas. As equipes escutadas indicam que o tema da saúde mental traz ansiedade e mal-estar aos próprios acolhedores e discutir sobre a ocupação ou trabalho dos usuários não costuma presente na escuta. Isso permite refletir sobre as condições de trabalho na área da saúde, ao mesmo tempo que evidencia o quanto a dimensão do trabalho vem sendo sonegada como parte natural do desenvolvimento do processo saúde-doença das equipes. As informações do Mapa devem ser atualizadas a cada 6 meses, permitindo que novas estratégias fomentadas sejam avaliadas em reuniões de equipe e demais espaços de matriciamento das ações.

Referências
ARMESTO, L.M. et al. ‘’O Mapa Vivo como estratégia de monitoramento das políticas públicas de saúde - uma revisão integrativa. REVISATEC - Revista Científica Saúde e Tecnologia ISSN 2763-8405, [S. l.], v. 2, n. 1, p. e2165, 2022. DOI: 10.53612/recisatec.v2i1.65. Disponível em: https://recisatec.com.br/index.php/recisatec/article/view/65. Acesso em: 9 maio. 2024.
FARIA, R. M. A territorialização da Atenção Básica à Saúde do Sistema Único de Saúde do Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n. 11, p. 4521–4530, nov. 2020.
WHO, W. H. O. World mental health report: Transforming mental health for all. Disponível em: . Acesso em: 7 mar. 2023.

Fonte(s) de financiamento: Ministério Público do Trabalho 15a Região


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