Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC4.2 - Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) (2)

52191 - FATORES SOCIODEMOGRÁFICOS ASSOCIADOS A SINTOMAS DEPRESSIVOS DE PUÉRPERAS
HILLARY BASTOS VASCONCELOS RODRIGUES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, MARIA ALINE RODRIGUES BARROS - EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇO HOSPITALAR, BRUNA BARROSO DE FREITAS - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, CAMILA ELEN COSTA ALEXANDRE - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, CAROLINE BESSA DA SILVA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, DANIELE COSTA DE ASSIS - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, MELISSA BEZERRA MACHADO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, HERLA MARIA FURTADO JORGE - UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ, PRISCILA DE SOUZA AQUINO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ


Apresentação/Introdução
A gestação para algumas mulheres é um momento aguardado, no entanto, para outras, acontece em um momento da vida em que elas não planejaram, o que pode gerar sentimentos conflitantes na relação da mãe com o bebê 1. Além disso, períodos que transformam a vida como gravidez, nascimento e maternidade/paternidade precoces, podem ser estressantes para as mulheres e seus parceiros. Como resultado, as mulheres podem passar por problemas de saúde mental ou podem testemunhar um agravamento de condições anteriores 2. A Depressão pós-parto (DPP) é um problema de saúde pública que apresenta prevalência elevada entre puérperas usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS)3. Segundo a OMS, algumas mulheres apresentam maior risco de sofrer problemas de saúde mental durante o período perinatal, devido a circunstâncias externas ou a outros problemas de saúde, como: gravidez na adolescência, experiências de partos difíceis, pobreza, má nutrição, poucas oportunidades de educação, pouco apoio social, dificuldades de fertilidade, consumo de substâncias, gravidez indesejada e problemas de saúde física 2.


Objetivos
Descrever os fatores sociodemográficos associados a sintomas depressivos em puérperas.


Metodologia
Estudo transversal realizado de março a maio de 2023 no alojamento conjunto de um Hospital Universitário do Rio Grande do Sul, Brasil. Participaram da pesquisa puérperas de parto normal ou cesárea, excluídas aquelas que já possuíam diagnóstico de depressão e/ou outros transtornos mentais, que possuíam histórico de uso de medicamentos antidepressivos, de óbito fetal, trabalho de parto prematuro e aquelas cujo recém-nascido estava na unidade de terapia intensiva neonatal. Ao final, obteve-se o total de 200 mulheres. Para a coleta de dados foram utilizados um formulário de características sociodemográficas elaborado pelos pesquisadores e a Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo (EPDE). Os dados foram armazenados e posteriormente analisados no programa estatístico R. Na investigação de associação entre as variáveis categóricas foi utilizado o teste qui-quadrado de independência; e o teste exato de Fisher. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará com aprovação sob parecer nº 5.911.915, com coparticipação da Universidade Federal do Rio Grande. Além disso, cumpriu-se a Resolução nº 466/2012.


Resultados e Discussão
Quanto às características da amostra, 118 (59%) eram brancas, 176 (88%) tinham idade ≥35 anos, 153 (77%) estudaram mais de nove anos, 119 (60%) possuíam companheiro e 124 (62%) possuíam renda menor ou igual a um salário mínimo. No que tange aos achados da EDPE, 38 (19%) das puérperas apresentaram escores ≥10, o que corresponde à possibilidade de depressão pós-parto. Dos fatores sociodemográficos analisados, estiveram associados à depressão pós-parto o estado civil (p=0,048) e a renda (p= 0,002). O estado civil com companheiro apresentou-se como fator protetor para a depressão pós-parto, com prevalência 13% menor em comparação às puérperas sem companheiro. Em relação à renda maior ou igual a um salário mínimo, também configurou-se como um fator protetor, com prevalência 18% menor em comparação às puérperas com renda inferior. Diante desse cenário, é relevante conhecer tais fatores que vulnerabilizam a puérpera em relação aos sintomas depressivos, visando contornar essa realidade. Quanto ao estado civil, um estudo de coorte transversal conduzido no Rio Grande do Sul observou que o status conjugal exerce uma influência significativa no desenvolvimento da depressão pós-parto, cuja presença de um parceiro atua como fator protetor devido ao aumento do afeto ofertado tanto na gestação quanto no pós-parto4, confirmando os achados do presente estudo. Em relação à renda, estudo de coorte realizado no Acre evidenciou que as mulheres com menor renda possuíam sintomas depressivos mais frequentes que as demais5, o que corrobora os achados do presente estudo. Essa constatação reforça a relação entre condições socioeconômicas desfavoráveis e o aumento do risco de desenvolvimento de sintomas depressivos no período pós-parto.

Conclusões/Considerações finais
A prevalência encontrada de sintomas de depressão pós-parto entre as puérperas destaca a urgência de estratégias de intervenção preventiva e de apoio. Ainda, a associação identificada entre o estado civil e a renda com a depressão pós-parto evidencia o impacto dos determinantes sociais da saúde. Notavelmente, a presença de um parceiro e uma renda acima de um salário mínimo surgem como fatores protetores, sublinhando a importância de políticas e programas que fortaleçam os laços familiares e abordem as disparidades socioeconômicas. Portanto, esses achados reforçam a necessidade de abordagens holísticas de saúde coletiva, que considerem não apenas os aspectos clínicos, mas também os fatores sociais e estruturais que influenciam a saúde das populações. Investir em intervenções que promovam o apoio social e a equidade econômica é essencial para garantir o bem-estar mental das mães e o desenvolvimento saudável das famílias e comunidades.


Referências
1. Almeida NMC, Arrais AR. O Pré-Natal Psicológico como Programa de Prevenção à Depressão Pós-Parto. Psicol Ciência e Profissão 2016;36:847–63. doi: 10.1590/1982-3703001382014.
2. World Health Organization. Guide for integration of perinatal mental health in maternal and child health services. Geneva; 2022.
3. Araújo IDS, et al Depressão pós-parto: perfil clínico epidemiológico de pacientes atendidas em uma maternidade pública de referência em Salvador-BA. Rev Bras Ginecol e Obs 2019;41:155–63. doi: 10.1055/S-0038-1676861.
4. Renner AM, et al. Postpartum Depression: evidences of the predictive power of Social Support and Marital Relationship. Psico-USF 2023;28:253–65. doi: 10.1590/1413-82712023280204.
5. Silva BP, et al. Common mental disorders in pregnancy and postnatal depressive symptoms in the MINA-Brazil study. Rev Saude Publica 2022;56. doi: 10.11606/S1518-8787.2022056004028.

Fonte(s) de financiamento: Este trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES), Código de Financiamento 001.


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