Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC4.2 - Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) (2)

51996 - FATORES SOCIODEMOGRÁFICOS ASSOCIADOS AO USO DE DROGAS ENTRE GESTANTES
HILLARY BASTOS VASCONCELOS RODRIGUES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, ULY REIS FERREIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, SÂMIA MONTEIRO HOLANDA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, MAYARA KERLY COELHO PONTE - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, MATEUS DUTRA BALSELLS - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ, IVYNA PIRES GADELHA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, MARIANA ARAÚJO RIOS - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, SAMILA GOMES RIBEIRO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, HERLA MARIA FURTADO JORGE - UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ, PRISCILA DE SOUZA AQUINO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ


Apresentação/Introdução
A gestação é um período de modificações significativas no organismo, no psiquismo e no papel sociocultural da mulher, e pode representar um momento estressante e de vulnerabilidade para o aparecimento ou a recaída de doenças mentais. O uso abusivo e a dependência de substâncias psicoativas (SPA) podem trazer comportamentos capazes de provocar consequências físicas graves, um problema que se intensifica ainda mais quando o consumo é feito durante a gravidez. (Settani et al, 2022; Zakaria et al.,2022; Ribeiro, Cieto, Silva, 2022). Nesse cenário, são efeitos deletérios ao feto: aborto, prematuridade, baixo peso ao nascer e diminuição do perímetro cefálico (Settani et al., 2022). Diante disso, este estudo visa possibilitar a identificação dos fatores sociodemográficos envolvidos no uso de drogas no período gestacional.


Objetivos
Verificar a associação entre os fatores sociodemográficos e uso de drogas entre gestantes.


Metodologia
Estudo observacional, transversal, analítico, conduzido em duas maternidades públicas de Fortaleza, sendo uma de nível secundário e outra de nível terciário. Amostra por conveniência composta por 320 puérperas acima de 18 anos, com 12 horas pós-parto, internadas em alojamento conjunto, entrevistadas entre fevereiro e maio de 2024. A coleta de dados se deu pela aplicação do instrumento de autoria própria. Os dados foram analisados no programa SPSS®, versão 22. Avaliou-se a associação entre variáveis preditoras (sociodemográficas) e uso ocasional, abuso e dependência de drogas por meio dos testes Qui-quadrado de Pearson e Razão de prevalência foi aplicado para variáveis cujo p < 0,05. Respeitou-se a Resolução nº 466/2012 e a Lei de Proteção de Dados nº 13.709/2018. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob n°6.527.091.

Resultados e Discussão
Quanto às características gerais, predominaram mulheres com idade até 26 anos (n=170; 53,1%), pardas (n=237; 74,1%), com escolaridade acima de nove anos completos de estudo (n=225; 70,3%), com renda de até um salário mínimo (n=200; 62,5%), sem ocupação remunerada (n=206; 64,4%), sem histórico de abuso de substâncias (n=293; 91,6%) e residindo com a parceria sexual (n=259; 80,9%). Apesar de não representar a maioria, houve uma expressiva prevalência de abuso de substâncias por parte da parceria das gestantes (n=104; 32,5%). A menor escolaridade (p<0,001; RP= 3,44 [IC95%= 1,66 - 7,14]), a renda inferior a um salário mínimo (p=0,03; RP= 2,64 [IC95%= 1,02 - 6,78]) e ter uma parceria com dependência de álcool e outras substâncias (p<0,001; RP= 3,98 [IC95%= 1,75 - 9,05]) estiveram associadas à maior prevalência de uso de substâncias por parte das gestantes estudadas. Os dados corroboram a literatura. Uma revisão de escopo destacou que umas das principais características sociodemográficas que predisseram o uso de drogas no período perinatal foram a baixa escolaridade e a baixa renda. (Ndegwa; Msanzu; Budambula, 2023). Sobre a parceria, de modo semelhante, estudo realizado na Etiópia mostrou que o uso de álcool pelo parceiro esteve associado ao uso de álcool durante a gestação (Tesfaye et al., 2020). Além disso, estudo qualitativo realizado no Quénia apresentou que em alguns casos as mulheres iniciaram o uso de drogas durante a gestação em busca de maior intimidade com o parceiro íntimo e para melhorar o relacionamento ​​(Mburu et al., 2020).

Conclusões/Considerações finais
Destarte, a maioria das participantes possuía até 26 anos, era parda, com mais de nove anos de estudos completos, com renda de até um salário mínimo, sem ocupação remunerada, sem histórico de uso de substâncias e residia com a parceria sexual. Além disso, dentre as que se identificaram como usuárias de substâncias, menor escolaridade, renda inferior a um salário mínimo e parceria usuária de álcool ou outras substâncias demonstrou ter associação com uma maior prevalência de uso de substâncias. A partir dos dados obtidos, será possível discutir de forma mais direcionada o uso de SPA durante a gestação, tendo em vista que contribuirão para a melhoria na qualidade da assistência pré-natal, estimulando a elaboração de condutas direcionadas para a gestante e para o contexto social em que está inserida. Dessa forma, busca-se atingir o objetivo de promoção da saúde e prevenção de agravos proposta pela assistência em Saúde Coletiva.

Referências
Mburu, G. et al. Determinants of Women’s Drug Use During Pregnancy. Maternal and Child Health Journal, v. 24, n. 9, p. 1170, 1 set. 2020.
Ndegwa, M. et al. A Scoping Review of Perinatal Recreational Drug Use. Multidisciplinary Journal of Technical University of Mombasa , v. 2, n. 2, p. 66–76, 2023.
Ribeiro, G. et al. Risk of depression in pregnancy among pregnant women undergoing high-risk prenatal care. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 56, 2022.
Settani, S. S. et al. Maternidade e uso de substâncias psicoativas. Enferm. foco (Brasília), v. 13, p. 1–7, 2022.
Tesfaye, G. et al. The prevalence and associated factors of alcohol use among pregnant women attending antenatal care at public hospitals Addis Ababa, Ethiopia, 2019. BMC psychiatry, v. 20, n. 1, 2020.
Zakaria, Z. Z. et al. Physiological Changes and Interactions Between Microbiome and the Host During Pregnancy. Frontiers in cellular and infection microbiology, v. 12, 2022.

Fonte(s) de financiamento: Este trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES), com Código de Financiamento 001.



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