Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC4.2 - Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) (2)

51757 - FAZER DAS TRIPAS CORAÇÃO: EMPECILHOS E POTÊNCIAS DA GESTÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM UM CAPS DE FORTALEZA A PARTIR DE UMA INTERVENÇÃO EXTENSIONISTA.
LEONARDO FERREIRA DE MELO FARAH MONTENEGRO - UFC, MARIANA TAVARES CAVALCANTI LIBERATO - UFC, MARIA MARIANA DE ANDRADE SILVA - UFC, MAYARA DE OLIVEIRA FERREIRA - UFC, ALANA MARIA LOBO DE QUEIROZ PINHEIRO - UFC, MARTA CLARICE NASCIMENTO OLIVEIRA - UFC


Contextualização
Este trabalho ampara-se numa ideia de saúde mental sustentada pela Reforma Psiquiátrica e pelo Movimento Antimanicomial, enaltecendo a importância de uma participação social e profissional para a manutenção de um sistema de saúde humanizado e equânime. Em 2024, em alusão ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial, algumas movimentações em torno da discussão em prol da saúde, política e cuidado em liberdade para pessoas em sofrimento psíquico compuseram uma agenda de intervenções que acabou contando com mobilizações de distintas esferas da sociedade, dentre usuários, familiares, trabalhadores e universidade, na perspectiva de defesa de uma Rede de Atenção Psicossocial mais fortalecida.
Este relato baseia-se, assim, em uma dessas atividades, ministrada pelo Programa de Arte, Saúde e Garantia de Direitos (PASÁRGADA), vinculado ao curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará. A partir da perspectiva de promoção de cuidado vinculada ao trabalhador, bem como à discussão sobre os percalços atuais que marcam o funcionamento e operação do serviço no dia a dia, esse momento fez-se necessário, ao possibilitar a voz não só das queixas, mas também dos pontos positivos do cotidiano dessa equipe, buscando a construção ativa de um ambiente potencializador frente a uma onda de desamparo das políticas de investimento e gestão que vem assolando a rede de atenção à saúde.



Descrição da Experiência
Essa proposta contou com dois momentos, um senso-corporal em prol da saúde mental e do cuidado com esses trabalhadores, e outro, de discussão e troca, que é o foco desta apresentação. Nessa atividade, integrantes do Pasárgada se deslocaram ao equipamento referido para conversar e debater sobre pontos positivos e negativos envolvidos na prática do trabalho na RAPS do estado do Ceará, naquela unidade substitutiva. Enquanto os profissionais relataram suas queixas e seus elogios ao cotidiano de trabalho, a conversa foi sendo materializada em uma cartolina, com escritas e ilustrações que iam aparecendo e que melhor sintetizavam as ideias que estavam sendo ditas. Ao final, tudo foi lido e colocado para eles, numa perspectiva de reconhecimento e apropriação, e como encaminhamento, saiu a ideia de expor tudo aquilo no espaço do CAPS para todos acessarem.
Posterior a esse momento de exposição pelos profissionais, dialogamos sobre a relevância da mobilização em prol da Luta Antimanicomial e sobre os atravessamentos entre a luta e o cotidiano dos funcionários do referido CAPS, evidenciando potencialidades e queixas referente ao cuidado.


Objetivo e período de Realização
Objetivou debater os empecilhos e os pontos positivos do cotidiano do trabalhador na atenção psicossocial, fazendo relação entre a qualidade do cuidado e o dia-a-dia do serviço, com suas disputas e insurgências, como perspectivas que se aliam, também, à Luta Antimanicomial. A realização desse momento se deu, em especial, para evidenciar olhares mais sensíveis aos trabalhadores de saúde mental, que carecem de uma atenção, sendo realizado pela manhã, durante uma reunião da equipe da unidade.


Resultados
Como resultados desse diálogo com os profissionais atuantes neste equipamento, obtivemos uma listagem das falas separadas em pontos positivos e negativos, que evidenciaram as dificuldades e insurgências de atuar neste CAPS. Podemos destacar uma nítida frustração pela impossibilidade de atender às expectativas de trabalho, dado que muito foi dito sobre a falta de recursos e de profissionais suficientes para atender à demanda, assim como a ausência de uma formação continuada, o que provoca uma angústia nos profissionais, por não terem condições de promover um cuidado integral, equânime e que atenda às reais necessidades da população que acessa o serviço.
A necessidade e a dificuldade de “reinventar” o cuidado no serviço diariamente, surgem em uma das falas ditas por um profissional naquele momento: o “fazer das tripas, coração” que entoa o discurso, abre caminhos para pensar a potencialidade de uma equipe que tenta se adaptar diante de um contexto de desassistência, mas também, que, devido à falta de insumos e de investimentos públicos, acaba entrando num movimento de tentativa de se desdobrar, para suprir uma impossível demanda,desgastando e adoecendo o cotidiano de trabalho.


Aprendizado e Análise Crítica
Pensar na luta antimanicomial vai muito além de uma ideia física de fechar manicômios e de discutir sobre os cárceres que aprisionam um sujeito, uma vez que ideias manicomiais refletem-se na privação de cuidado e carência de uma atenção básica. É em prol do cuidado em liberdade que o movimento se baseia, juntamente a causas políticas e sociais, buscando uma atenção psicossocial de qualidade para a população. A partir dessa atividade, fica evidente a importância de uma participação social, assim como profissional, no que diz respeito à construção de uma rede de saúde mental de qualidade. Os empecilhos que atravessam o cotidiano dos trabalhadores da saúde mental acabam por tornar não só automatizado, mas também defasado, o trabalho neste campo.
Trazer uma qualidade de saúde mental que atue em consonância com os princípios da Reforma Psiquiátrica está intrinsecamente relacionado à promoção de um bem-estar aos trabalhadores dos CAPS, seja dando vez aos diálogos com funcionários e buscando solucionar as demandas requeridas, seja fomentando atividades de integração da equipe, uma vez que esse ponto acaba por incentivar uma qualidade do trabalho, como os próprios funcionários evidenciaram durante a intervenção, ou ainda, estimulando a participação política que atua na luta e reivindicação por melhorias sistemáticas desse cenário de contrarreforma.


Referências
Lüchmann, Lígia Helena Hahn e Rodrigues, Jefferson. O movimento antimanicomial no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2007, v. 12, n. 2 [Acessado 10 Junho 2024], pp. 399-407. Disponível em: . Epub 09 Maio 2007. ISSN 1678-4561. https://doi.org/10.1590/S1413-81232007000200016


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