04/11/2024 - 13:30 - 15:00 RC4.2 - Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) (2) |
50598 - O PAPEL DA RESIDÊNCIA TERAPÊUTICA COMO DISPOSITIVO DE CUIDADO DA REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL MARIA JOSÉ MENDONÇA DE HOLANDA QUEIROZ - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES- IAM- FIOCRUZ, NAÍDE TEODÓSIO VALOIS SANTOS - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES- IAM- FIOCRUZ
Apresentação/Introdução A organização da política de saúde mental e atenção psicossocial deverá ser realizada através de rede, formada por vários pontos de atenção, ligados entre si, que possibilitem a comunicação dos atores envolvidos, dentro daquele território. A organização dos serviços de saúde mental em rede é essencial para a oferta contínua e integral do cuidado à população de determinado território.
Com o nítido objetivo de dar eficácia às diretrizes da Lei 10.216/2001 e aos pressupostos da Reforma Psiquiátrica Brasileira, a Rede de Atenção Psicossocial foi uma das redes de atenção estruturada nacionalmente. Até então, a implantação dos serviços substitutivos era fragmentada em normas esparsas. A criação da Rede de Atenção Psicossocial foi um avanço para a implementação e consolidação de uma política nacional de saúde mental pautada no cuidado em liberdade.
Dentro os pontos de atenção que compõem a RAPS, destacou-se o de desinstitucionalização, que tem como estratégia principal as Residências Terapêuticas. Um dos grandes desafios na gestão desse cuidado é o de possibilitar que os egressos dos hospitais psiquiátricos e dos manicômios judiciários, cujos laços familiares e comunitários foram rompidos, possam, além de resgatar suas habilidades diárias, ocupar os diversos espaços sociais, fruindo de seus direitos de cidadão.
Objetivos Analisar o papel da Residência Terapêutica como dispositivo de cuidado da Rede de Atenção Psicossocial de um município da Região Metropolitana do Recife/PE.
Metodologia Tratou-se, quanto à natureza, de uma pesquisa aplicada, vez que se destinou à produção de conhecimento para que sejam realizadas intervenções nos serviços de saúde mental, com vistas a sua melhoria. Quanto à abordagem do problema, realizou-se uma pesquisa qualitativa, cujo objetivo principal foi a compreensão do papel da Residência Terapêutica dentro da Rede de Atenção Psicossocial. Em relação à realização dos objetivos, foi traçado um desenho exploratório, vez que buscou explorar essa realidade com o objetivo de serem desenvolvidos pressupostos ou hipóteses. Quanto ao procedimento técnico, foi um estudo de caso, onde foi realizada um estudo profundo e exaustivo do papel da Residência Terapêutica no cuidado das pessoas em sofrimento psíquico dentro da Rede de Atenção Psicossocial do município.
Resultados e Discussão O objetivo principal da Reforma Psiquiátrica Brasileira é a inserção social da pessoa em sofrimento psíquico. Para garantia desse objetivo, a Rede de Atenção Psicossocial foi estruturada de forma que os serviços, entre eles o Residencial Terapêutico fossem articulados e se comunicassem. Constatou-se, na pesquisa, que a Rede está desarticulada e a RT não tem interlocução com os demais equipamentos de saúde mental e comunitários, dificultando que seus moradores pudessem ocupar os espaços da cidade. A atenção psicossocial, que tem como foco a pessoa e suas idiossincrasias, dentro do campo da saúde mental, substituiu o cuidado biomédico, referência do saber psiquiátrico. Verificou-se no estudo que o cuidado dos moradores se restringia à questão biomédica. O Caps somente era acionado quando da necessidade de consulta psiquiátrica, sem qualquer envolvimento com os grupos e oficinas. Ressalte-se que uma das principais estratégias de inserção social dos moradores é a construção do PTS (Projeto Terapêutico Singular) junto com os usuários. Verificou-se que os moradores não possuíam PTS, apenas prontuários, constando as consultas com médicos/psiquiatras e psicólogo.
Conclusões/Considerações finais os resultados permitem afirmar que o grande desafio na gestão do cuidado nas Residências Terapêuticas é a inserção social da pessoa em sofrimento psíquico, ou seja, a sua ocupação nos diversos espaços sociais. Para que haja maior integração do cuidado, faz-se necessário que nas Residências Terapêuticas o cuidado seja articulado com os demais pontos de atenção da Rede de Atenção psicossocial e dos equipamentos comunitários. Para implementação de linhas de cuidado sugere-se a construção do Projeto Terapêutico Singular (PTS), com a participação do usuário. O PTS se configura em uma das principais estratégias de reabilitação psicossocial e inserção social, à medida que o morador poderá acessar os diversos equipamentos do território de acordo com suas necessidades, extrapolando o cuidado biomédico e garantindo a produção de cuidado pautado na autonomia e na ocupação dos diversos espaços sociais.
Referências Amarante P. Loucura e Transformação Social. Autobiografia da Reforma Psiquiátrica no Brasil. São Paulo: Zagodoni Editora Eireli; 2021. 159 p.
Amarante P. Loucos pela vida: A trajetória a Reforma Psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1998.
Saraceno B. Libertando Identidades- da reabilitação psicossocial à cidadania possível. Rio de Janeiro: Te Corá; 2001. 176 p.
Scarcelli IR. Entre o hospício e a cidade: Dilemas no campo da saúde mental. São Paulo, SP: Zagodoni Editora; 2011. 192 p.
Venturini E. A Linha Curva- o espaço e o tempo da desinstitucionalização. 22a ed. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2016. 194 p.
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