Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC4.1 - Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) (1)

52761 - ANÁLISE SOBRE INTEGRAÇÃO E CONECTIVIDADE DA ATENÇÃO PRIMÁRIA E ESPECIALIZADA EM UMA REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DE FORTALEZA-CE
AMANDA PINHEIRO - UFC, CARLOS EDUARDO MENEZES AMARAL - UFMG, CARMEM EMMANUELY LEITÃO ARAÚJO - UFC


Apresentação/Introdução
A ideia de estabelecer Redes de Atenção Psicossocial (RAPS) fortalece a atenção em saúde mental (SM), por meio de uma rede ampliada e articulada de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. O bom funcionamento da rede implica em trabalho compartilhado entre a Atenção Primária à Saúde (APS) e a Atenção Especializada (AE), a partir de serviços abertos, territoriais e integrados (Amaral; Onocko-Campos, 2021). Em adição aos desafios persistentes de instituir redes efetivas, a pandemia por COVID-19 exigiu a reorganização dos serviços de saúde, escancarando problemas que a RAPS já enfrentava, concomitantemente, gerando interrupções parciais ou totais do atendimento nos serviços de saúde mental. Em consequência, a atenção em saúde mental tende a ser fragilizada para quem já era atendido e para aqueles que buscaram apoio no contexto pandêmico (Cabral, 2022). Assim sendo, torna-se importante estudos sobre a integração (continuidade e complementaridade das intervenções de saúde) e conectividade (relação entre os dispositivos da rede), dimensões que colaboram com o direcionamento da observação empírica e sistematização de informações que devem apoiar práticas avaliativas ou similares das redes de atenção à saúde (Amaral; Bosi, 2017).

Objetivos
Este trabalho buscou analisar as dimensões de integração e conectividade da APS e AE na gestão do cuidado em saúde mental a partir da perspectiva de gestores e trabalhadores que atuam em serviços que compõem a RAPS de Fortaleza-CE, considerando o atravessamento da pandemia de COVID-19.

Metodologia
O estudo teve abordagem qualitativa da pesquisa em saúde. O cenário de pesquisa foi uma regional do município de Fortaleza, cidade considerada uma das principais portas de entrada para a Covid-19 no Brasil. A pesquisa de campo foi realizada em duas Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS) e um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS Geral), onde 26 entrevistas semiestruturadas foram realizadas com trabalhadores da assistência e gestores do âmbito municipal, regional e de serviços de janeiro a abril de 2023. A análise de documentos foi utilizada como técnica de produção de dados complementar, analisando normas e recomendações públicas nacionais, estaduais e municipais para organização da APS e AE na RAPS no contexto da pandemia de COVID-19, entre março de 2020 a março de 2022. Para a análise das informações, foi adotada a perspectiva hermenêutica-dialética como método de explicação da realidade. Foram respeitados os aspectos exigidos da pesquisa com seres humanos, previstos na Resolução do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde nº 466/12 e de nº 510/2016, com aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa.


Resultados e Discussão
A RAPS, antes mesmo da pandemia de Covid-19, já apresentava problemas com definição de responsabilidades, dificuldades com encaminhamentos e com a articulação entre os dispositivos. Durante a pandemia, a articulação entre os serviços foi considerada ainda mais difícil, de modo a demarcar a ausência de estratégias coordenadas capazes de indicar o papel dos serviços de saúde mental durante a pandemia e/ou estimular uma atenção psicossocial, tal como observado por Furtado e Chioro (2021). Sobre a conectividade, prevaleceu a comunicação entre coordenadores dos serviços para atender à necessidade medicamentosa dos usuários; encontros remotos com mera passagem de informações e suspensão do matriciamento em saúde mental. Do ponto de vista da integração, houve tensionamentos acerca de relevância dos dispositivos e descaracterização dos serviços de base territorial da RAPS, com dificuldades para a continuidade do cuidado em saúde mental e complementaridade dos dispositivos da rede; observou-se tensionamentos entre os pontos de atenção da RAPS e aprofundamento de disputa de investimento e estrutura na pandemia, conforme sinalizado por Cabral (2022). A aposta nas ofertas de cuidado no território foram pouco utilizadas, direcionando as equipes para atuação em emergências, desmobilizando ações rotineiras de cuidado, atuando de maneira isolada e destituídas do lugar de cuidado, tal como os achados de Seixas et al. (2021). No pós-pandemia, os sujeitos indicaram aumento na demanda em saúde mental, sobrecarga dos serviços e de uso de psicotrópicos, com a necessidade de retomada de mecanismos para fortalecer a relação entre os dispositivos como educação permanente, organização de agendas integradas das equipes e investimento na expansão de serviços e equipes da RAPS.

Conclusões/Considerações finais
Notou-se que aspectos de integração e conectividade já eram desafios relevantes para serem efetivados na RAPS, mas que foram agravados na pandemia. Serviços da APS e do CAPS indicaram discordâncias sobre suas responsabilidades e prioridades, contribuindo para sobrecarga entre os serviços e problemas de manejo adequado dos usuários. Além disso, ferramentas que promovam conectividade entre os dispositivos, como encaminhamentos e matriciamento em SM, ainda apresentam falhas para se consolidar com corresponsabilidade e compartilhamento do cuidado em SM entre as equipes e serviços. Portanto, o estudo sugere o fortalecimento dessas dimensões para a garantia da gestão do cuidado em SM, principalmente na conjuntura atual de reestruturação de redes de saúde.

Referências
AMARAL, C. E. M.; BOSI, M. L. M. O desafio da análise de redes de saúde no campo da saúde coletiva. Saúde e Sociedade. v. 26, n. 2, pp. 424-434, 2017.
AMARAL, C. E. M.; ONOCKO-CAMPOS, R. T. Redes de Saúde Mental de quatro grandes municípios brasileiros: investigando atenção primária à saúde, CAPS e atenção à crise. São Paulo: Hucitec, 2021.
CABRAL, K. V. Curso Nacional de Saúde Mental e atenção psicossocial na COVID-19. Brasília: FIOCRUZ, p. 1-29, 2022.
FURTADO, L. A.; CHIORO, A. Desafios e invenções na produção do cuidado em tempos de pandemia. In: LIMA, M. et al. Pensar junto/fazer com: saúde mental na pandemia de covid-19. Salvador: EDUFBA, 2021.
SEIXAS, C. T. et al. A crise como potência: os cuidados de proximidade e a epidemia pela Covid-19. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 25, n. 1, p. e200379, 2021.

Fonte(s) de financiamento: Próprio


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