Roda de Conversa

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC7.10 -Tecnologias Digitais na Atenção Primária à Saúde: conceitos, informação, comunicação e trabalho

49113 - PROPAGANDO A DIVERSIDADE DAS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES: UMA ETNOGRAFIA DIGITAL SOBRE FAMÍLIAS HOMOPARENTAIS
ANDRÉ INÁCIO DA SILVA - UFSC, JOÃO CAIO SILVA CASTRO FERREIRA - UFBA, MAIARA BASSETO SENA - UEM, LUCAS SIGNORI - UFSC, FERNANDO HELLMANN - UFSC, SONIA SILVA MARCON - UEM, ANDERSON REIS DE SOUSA - UFBA


Apresentação/Introdução
Concebida como uma estrutura familiar na qual pelo menos um dos pais está inserido em uma relação homoafetiva, a homoparentalidade vem ganhando crescente visibilidade, inclusive no âmbito jurídico, por meio da garantia de direitos sociais (Blankenheim, 2018). No entanto, pesquisadores destacam que as minorias sexuais e de gênero que coabitam com filhos no Brasil são mais suscetíveis a receber assistência em saúde de qualidade inferior, evidenciando a persistência do estigma associado à sexualidade (Oliveira, 2024). Estudos destacam os recorrentes desafios enfrentados pelos casais homoafetivos, como rejeição e agressão decorrentes do preconceito contra modelos familiares não heteronormativos, além de um debate público permeado por estigmas que impactam suas experiências, levando à marginalização (Blankenheim, 2018; Lira, 2016).
Por outro lado, as plataformas de mídia social emergem como instrumentos de suporte, favorecendo o reconhecimento de famílias homoafetivas. Observa-se um aumento no uso dessas plataformas como ambientes para o ativismo político, onde temas como diferentes arranjos familiares, suas experiências, desafios sociais enfrentados e sugestões para a promoção do cuidado infantil entre casais do mesmo sexo são compartilhados (Mesquita & Nascimento, 2024).

Objetivos
Este estudo busca responder: Qual é a configuração do processo de produção e intercâmbio de informações sobre a homoparentalidade na internet? Objetiva-se analisar o debate público em torno da homoparentalidade na plataforma de mídia social Instagram® no Brasil para compreender como a afirmação da identidade homoparental nos espaços digitais pode contribuir para uma melhor compreensão desse fenômeno.

Metodologia
Estudo qualitativo do tipo etnografia digital de observação não-participante, focado na manifestação da identidade homoparental online no Instagram® no contexto brasileiro. O processo metodológico envolveu cinco fases: formulação da questão de pesquisa, delimitação e seleção da parte da internet a ser investigada, imersão no campo virtual para coleta, análise e interpretação dos dados, e relato dos resultados.
A coleta de dados ocorreu durante julho e agosto de 2023, utilizando a expressão "homoparentalidade" na plataforma. Os dados foram compilados em uma planilha Excel para análise temática, seguindo uma estrutura metodológica composta por três fases: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados. O estudo seguiu os critérios do Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Research (COREQ). A interpretação dos achados foi embasada na Teoria da Identidade Social, que aborda a percepção de pertencimento a grupos sociais. Quanto aos aspectos éticos, as publicações tratam-se de dados secundários de domínio público, dispensando apreciação por Comitê de Ética em Pesquisa, contudo, seguiu-se estritamente as diretrizes éticas vigentes.

Resultados e Discussão
Foram analisadas 140 publicações provenientes de 84 perfis públicos, incluindo perfis pessoais de profissionais liberais e perfis associados a grupos de pesquisa acadêmica. Quatro categorias temáticas principais foram identificadas: "Demonstração de afeto e afirmação das identidades", "Aspirando prospecções futuras do relacionamento homoafetivo", "Explicando a consolidação do relacionamento" e "Propagando a diversidade das configurações familiares".
Os resultados indicam que as redes sociais servem como plataformas para a expressão afetiva das famílias homoparentais, promovendo visibilidade e compartilhamento de experiências. Essa exposição contribui significativamente para a consolidação e afirmação da identidade parental dessas famílias na sociedade. Um exemplo emblemático é o relato da Usuária 55: “[...] estou vivendo a realização de um sonho, o da maternidade. Esse sonho era maior do que qualquer outro, mas foi impedido por muito tempo devido à não aceitação social. Isso significa muito para mim, para a minha esposa [...] Hoje eu sou mãe dos meus filhos, nutrindo, junto à minha esposa, os melhores sentimentos, independentemente das opiniões dos outros, mas sim, expressando o amor por nossos filhos”. Esse e outros depoimentos sublinham a resiliência e a mobilização em defesa do reconhecimento da diversidade sexual e de gênero no âmbito familiar.

Conclusões/Considerações finais
A homoparentalidade demanda transformações na estrutura e na dinâmica social brasileira, de modo a incluir a parentalidade de indivíduos fora dos padrões heterossexuais e cisgêneros. Expressar a identidade homoafetiva em um país com altos índices de LGBTfobia como o Brasil é um desafio complexo e perigoso para a integridade e a vida humana. Apesar da disseminação de informações falsas e discursos de ódio, as plataformas de mídia social emergem como espaços importantes para discussão, promovendo a formação do autoconceito identitário das famílias e evidenciando um apelo em favor de estruturas familiares diversificadas e plurais.

Referências
BLANKENHEIM, T.; DE OLIVEIRA-MENEGOTTO, L. M.; DA SILVA., D. R. Q. Homoparentalidade: um diálogo com a produção acadêmica no Brasil. Fractal Revista de Psicologia, v. 30, n. 2, p. 243–249, maio 2018.
LIRA, A. N. DE .; MORAIS, N. A. DE .; BORIS, G. D. J. B.. (In)Visibilidade da Vivência Homoparental Feminina: entre Preconceitos e Superações. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 36, n. 1, p. 20–33, jan. 2016.
MESQUITA, J. A.; NASCIMENTO, M. A. F. DO .. Ativismo digital sobre paternidade gay no Instagram: a homoparentalidade masculina em cena. Ciência & Saúde Coletiva, v. 29, n. 4, p. e19402023, 2024.
OLIVEIRA, C. R. S.; SOUSA, C. C. V. DE .; TORRES, J. L.. Quem são as minorias sexuais e de gênero que convivem frequentemente com filhos(as) e sua associação a cuidados em saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 29, n. 4, p. e19222023, 2024.


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