06/11/2024 - 13:30 - 15:00 RC7.10 -Tecnologias Digitais na Atenção Primária à Saúde: conceitos, informação, comunicação e trabalho |
48563 - CONDIÇÕES DE TRABALHO DAS AGENTES COMUNITÁRIAS DE SAÚDE EM UM CONTEXTO DE SAÚDE DIGITAL: VELHOS E NOVOS DESAFIOS ROMÁRIO CORREIA DOS SANTOS - IAM- FIOCRUZ PERNAMBUCO, LENIRA FERREIRA RIBEIRO - ISC -UFBA, CLÁUDIA FELL AMADO - ISC -UFBA, LÍVIA MILENA BARBOSA DE DEUS E MÉLLO - SGTES-MS, LILIANA SANTOS - ISC -UFBA
Apresentação/Introdução Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) são profissionais de nível médio com reconhecida atuação no desenvolvimento e fortalecimento da Atenção Primária à Saúde (APS). A institucionalização da profissão das ACS no Brasil foi acompanhada por transformações não apenas políticas, mas técnicas e materiais enquanto categoria profissional, sobretudo pelo incremento de novos instrumentos na rotina de seu trabalho como tablet, computador, sistemas de informação na saúde e mais recentemente, a intensificação do uso do telefone celular na pandemia de Covid-19. Tudo isso, associado a um novo paradigma de cuidado conhecido por saúde digital. O trabalho em saúde nas configurações contemporâneas do capitalismo promove racionalização dos recursos, otimização dos resultados e simplificação das atividades, impondo um processo de precarização através de uma divisão social e técnica do trabalho, mas, pouco compreendida na era digital. Existe um consenso na literatura de que faltam elementos que possam subsidiar a decisão política de incorporação tecnológica na APS embora seja crescente o nível de financiamento dessas tecnologias nos sistemas nacionais de saúde, com um aumento de demanda pela sociedade, Estado e capital. Esse cenário se agrava ao considerar que essas evidências poderiam assegurar, também, um pleno exercício das capacidades e potencialidades da força de trabalho das ACS.
Objetivos Analisar os desafios impostos pelas condições de trabalho das ACS no contexto da saúde digital
Metodologia Trata-se de uma pesquisa qualitativa, desenvolvida no estado da Bahia considerando os posicionamentos de lideranças sindicais, gestores e profissionais da saúde que disputam os rumos e o trabalho das ACS na APS, através de uma triangulação de métodos: entrevistas com informantes chaves, grupos focais, observação não participante, diário de campo. Os dados produzidos foram sistematizados através da análise de conteúdo obedecendo três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados com sua organização temática e posterior interpretação à luz do significado das condições de trabalho: se expressando para uma precarização ou não do trabalho, levando em consideração seus aspectos objetivos como vínculo, contratação, remuneração, além do ambiente físico, químico e biológico, condições de higiene, segurança e características gerais dos postos de trabalho; e seus aspectos subjetivos que se relacionam com a divisão do trabalho, ao conteúdo da tarefa, ao sistema hierárquico e às modalidades de comando, relações de poder e legitimidade social.
O projeto que deu origem ao estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa e está registrado na Plataforma Brasil.
Resultados e Discussão Na nova realidade do processo de trabalho das ACS mediado por tecnologias digitais, quando observado o uso do tablet e celular como instrumentos materiais para a coleta de dados; ou os sistemas de informação em saúde para a produção de relatórios, identifica-se um estranhamento do trabalho pelas ACS associado ao aumento da sua burocratização e alienação. Não obstante, os discursos dos informantes chaves também trouxeram elementos de: controle do trabalho das ACS que sai de uma supervisão profissional comum da relação associada profissionais de nível superior-médio, para uma supervisão mediada por tecnologia; agravamento de uma divisão social e técnica de trabalho por subordinação tecnológica e de um não lugar das ACS enquanto profissional de saúde na USF. Assim, esses se conformam como uma intensificação dos velhos desafios na gestão do trabalho das ACS com a saúde digital.
Novos desafios também se apresentam. Para o desenvolvimento das atividades mediadas por tecnologias digitais, os discursos dos sujeitos e observações sinalizam que: a qualidade e disponibilidade dos equipamentos pode interferir de forma significativa na operacionalização do trabalho, com prejuízos na assistência à saúde, e causando adoecimento das ACS. Por fim, encontramos um conjunto de desafios relacionados as habilidades pessoais para o uso das tecnologias digitais, por exemplo os conhecimentos de letramento digital que até então não era exigido como pré requisito para o trabalho das ACS. Questionamos: existe o risco da extinção da profissão de ACS pelo uso da tecnologia digital? E apontamos que se a conjuntura política, econômica e social para o mundo do trabalho prossegue capitalista, o homem continuará indispensável na produção de riqueza, porém com morfologias distintas de trabalho.
Conclusões/Considerações finais As questões identificadas neste trabalho se configuram como velhos desafios para as ACS que se relacionam diretamente com a constituição histórico-social desta profissão, como a burocratização, controle e divisão técnica e social do trabalho que se conformam subjetivamente na constituição dessas trabalhadoras e seu reconhecimento ou não enquanto profissionais de saúde. Por outro lado, novos desafios surgem, como o uso da internet, manutenção e qualidade dos equipamentos e alfabetização digital.
Há uma necessidade de garantia logística, financeira e política para a implementação da saúde digital na APS que dê condições de produção de um processo de trabalho digno, emancipatório e contextualizado para as ACS. É preciso considerar na atuação profissional das ACS a formação de uma competência tecnológica crítica que lhes transformem não apenas em coletoras de informações por meio dos recursos digitais, mas em agentes de saúde implicadas com a transformação da realidade.
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Nogueira ML. Expressões da precarização no trabalho do agente comunitário de saúde: burocratização e estranhamento do trabalho. Saude soc. 2019;28(3):309–23.
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Fonte(s) de financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) - código de financiamento 001
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