50682 - QUAIS LIÇÕES APRENDEMOS COM A COVID-19? INVESTIGANDO CONTEÚDOS DESINFORMATIVOS SOBRE A NOVA VACINA CONTRA A DENGUE IAGO MARAFINA DE OLIVEIRA - INSTITUTO DE MEDICINA SOCIAL (UERJ), ROSENI PINHEIRO - INSTITUTO DE MEDICINA SOCIAL (UERJ), FRANCISCO ORTEGA - (ICREA) - CATALAN INSTITUTION FOR RESEARCH AND ADVANCED STUDIES, BARCELONA, ESPANHA; MEDICAL ANTHROPOLOGY RESEARCH CENTER, UNIVERSITAT ROVIRA I VIRGILI, TARRAGONA, ESPANHA), EMILIANE SANTANA - (ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DA BAHIA/ESPBA)
Apresentação/Introdução A dengue representa uma ameaça à saúde pública, especialmente em regiões tropicais. O Brasil enfrenta um aumento alarmante de casos em 2024, destacando a importância de estratégias de comunicação em saúde. A chegada de vacinas contra a dengue no SUS é um marco, mas também enfrenta desafios, incluindo desinformação que compromete a cobertura vacinal como foi percebido também no contexto da pandemia de COVID-191. Esta pesquisa analisou os elementos de desinformação na percepção pública sobre a vacina, utilizando comentários em artigos jornalísticos no Facebook. A compreensão da percepção pública é crucial para o sucesso das campanhas de vacinação, especialmente em meio à disseminação rápida de informações. A análise investigou cinco categorias temáticas: desinfodemia, vetores de desinformação, politização da vacina, hesitação/recusa vacinal e experiências pessoais. Essa investigação destaca a importância da comunicação em saúde e a necessidade de combater a desinformação para garantir o sucesso das campanhas de vacinação contra a dengue no Brasil.
Objetivos Este estudo busca refletir sobre os conteúdos desinformativos encontrados na percepção pública sobre a vacina contra a dengue no Brasil, a partir de aproximações teórico-práticas com a experiência da pandemia de COVID-19 no âmbito da comunicação em saúde.
Metodologia Foi desenvolvido um protocolo misto de pesquisa quali-quantitativa. Realizou-se uma revisão exploratória de literatura, destacando os estudos sobre desinformação e vacinas, especialmente em relação à COVID-192. Apesar do número reduzido de pesquisas que relacionem comunicação e vacinas da dengue, observa-se a atualidade do tema quando são reunidos estudos sobre campanhas de prevenção à arboviroses3. Essa etapa contribuiu para criar um livro de códigos para análise de conteúdo do tipo categorial4, composto a partir dos temas identificados na revisão: desinfodemia, vetores de desinformação, politização da vacina, hesitação/recusa vacinal e experiências pessoais. A pesquisa foi conduzida analisando comentários de usuários em postagens de portais de notícias no Facebook. Os critérios de seleção dos portais foram baseados no número de seguidores em suas páginas no Facebook. O recorte temporal foi de 2019 a 2024, com a busca utilizando os descritores "Vacina" AND "Dengue". Como se trata de comentários públicos em páginas abertas e não houve interação entre pesquisadores e os sujeitos, não foi necessário revisão do estudo por um Comitê de Ética em Pesquisa.
Resultados e Discussão Após a aplicação dos códigos, dos 1550 comentários coletados, 461 foram identificados com elementos de desinformação, representando 29,74% do total de comentários. A pesquisa codificou 461 comentários em cinco categorias: desinfodemia (63), vetores de desinformação (30), politização da vacina (232), hesitação vacinal e recusa vacinal (94) e experiências pessoais (42). A categoria "desinfodemia" aborda a propagação de informações incorretas sobre as vacinas contra a dengue. Esses comentários revelam diferentes níveis de desinformação, incluindo confusão sobre os critérios de elegibilidade para vacinação, desconfiança no país produtor da vacina e crenças equivocadas sobre a doença. A categoria "vetores de desinformação" destaca a disseminação de informações incorretas por meio de links direcionados para portais com fontes duvidosas. Além disso, os comentários refletem uma mistura de opiniões políticas e críticas à imprensa e ao governo. A politização da vacina é notável em muitos comentários, assim como no caso da COVID-19, com afiliações políticas influenciando a percepção pública sobre a segurança e eficácia das vacinas. A hesitação vacinal e a recusa vacinal refletem preocupações sobre os possíveis efeitos colaterais das vacinas, desconfiança nas autoridades de saúde e influência de informações falsas. As experiências pessoais dos usuários mostraram desempenhar um papel crucial na percepção e resposta às campanhas de vacinação, influenciando a confiança na vacina e a decisão de se vacinar5.
Conclusões/Considerações finais A politização da vacina, a hesitação vacinal e experiências pessoais influenciam fortemente a percepção e resposta à imunização, temas muito próximos ao que foi percebido durante a pandemia de COVID-19. A politização, de viés polarizado, pode distorcer a visão pública e prejudicar a saúde pública. A hesitação e recusa vacinal, impulsionadas por desconfiança nas autoridades e desinformação, comprometem as campanhas de vacinação. Experiências pessoais desempenham papel crucial: relatos positivos aumentam confiança, enquanto negativos geram dúvidas. É vital um esforço conjunto de governos, profissionais de saúde, mídia e comunidade, com comunicação transparente e adaptada localmente. A extensa produção científica produzida na pandemia pode auxiliar para o combate da desinformação em outros contextos. Destaca-se a importância da comunicação em saúde para políticas eficazes e adesão, reduzindo o impacto na saúde pública e afirmando o lugar da vacinação enquanto pacto coletivo.
Referências 1. Lasco G, Yu VG. Communicating COVID-19 vaccines: Lessons from the dengue vaccine controversy in the Philippines. BMJ Global Health. 2021;6(3).
2.Dias RIR, Oliveira TS, Farias BRD, Diniz MLP, Oliveira AGSC, Carvalho KAO, et al. Impacto das medidas de prevenção e promoção da saúde na epidemiologia da dengue no Brasil: uma revisão sistemática. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences. 2024;6(3):1069-1078. Português (Brasil).
3. Pimpim L, Mayara E. Análise de sentimentos dos usuários da rede social X sobre a vacina da dengue no Brasil [Monografia]. São José dos Campos: Universidade Federal de São Paulo-Instituto de Ciência e Tecnologia; 2023
4. Sampaio RC, Lycarião D. Análise de conteúdo categorial: manual de aplicação. Brasília: Enap; 2021.
5. Nobre R, Guerra LDS, Carnut L. Hesitação e recusa vacinal em países com sistemas universais de saúde: uma revisão integrativa sobre seus efeitos. Saúde Em Debate. 2022; 46(spe1):303–321.
Fonte(s) de financiamento: Programa Institucional de Internacionalização – CAPES - PrInt
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