Roda de Conversa

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC7.9 - Informação e desinformação em saúde

50228 - COMUNICAÇÃO E HESITAÇÃO VACINAL SOB A PERSPECTIVA DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
PATRÍCIA DE LIMA LEMOS - UFR, ESTER PAIVA SOUTO - FIOCRUZ-RJ, FABIANA TURINO - UFES, PRISCILA CARDIA PETRA - FIOCRUZ-RJ


Apresentação/Introdução
O Programa Nacional de Imunização (PNI) é reconhecido mundialmente, no entanto, desde 2016, observa-se substancial queda nas coberturas vacinais e na confiança da população acerca da vacinação. Com a pandemia de COVID-19, o fenômeno da hesitação vacinal tornou-se ainda mais exacerbado. Este conceito refere-se ao atraso na aceitação ou recusa da vacinação, apesar da disponibilidade nos serviços e foi proposto em 2012 pelo grupo SAGE (Strategic Advisory Group of Experts on Immunization) da Organização Mundial da Saúde (OMS). As ações descoordenadas do governo durante o período, somado à infodemia, facilitaram a disseminação de misinformacao e desinformação sobre as vacinas contra COVID-19, ocasionando insegurança e incerteza em relação às vacinas. Nesse cenário, é inegável a importância da comunicação pautada em informações de qualidade e acessíveis, especialmente pelos profissionais que lidam com a vacinação e a população.

Objetivos
Analisar a percepção de profissionais de saúde acerca da comunicação e informação em relação à vacinação no contexto da pandemia de COVID-19 no Brasil.

Metodologia
Estudo de abordagem qualitativa envolvendo 86 profissionais de saúde em quatro municípios brasileiros (Rio de Janeiro-RJ, Rondonópolis-MT, Feira de Santana-BA, São Paulo-SP) e no Distrito Federal, selecionados de forma intencional. Os participantes foram profissionais de saúde da Atenção Primária à Saúde (APS) que após consentirem participar da pesquisa foram entrevistados de forma remota com questionário semiestruturado. Utilizou-se amostragem em bola de neve com objetivo de identificar produção de sentido, até sua saturação. Foram incluídos profissionais que tenham trabalhado pelo menos 6 meses entre 2020 e 2022. A diversidade de respostas foi possível através da inclusão de diferentes regiões. As entrevistas foram transcritas e analisadas utilizando o software dedoose para análise temática. A pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública-Fiocruz (n. 5.430.488).

Resultados e Discussão
Os profissionais da APS são essenciais na vacinação e na divulgação de informações à população. Entre os entrevistados, foi recorrente a importância da comunicação acerca das doenças imunopreveníveis: “a gente não vê muito investimento em mídia, então acho que deveria ter mais campanhas de tuberculose, da própria pólio, das doenças transmissíveis” (SP_ENF_3). Sabe-se que a desinformação ou informações falsas/fake news estão presentes em diferentes meios de comunicação; o que corrobora com a fala: “algumas das mídias veiculadas em questão de fake news vinham de médicos” (RO_UBSCA_ENF2). Nesse cenário, como forma de contraponto às desinformações, foi citado: “eu acho que poderia criar um programa, ou alguma coisa assim, pra excluir as fake News” (RO_UBSCAN_ENF5). Uma das sugestões dos pesquisados foi usar outros veículos informativos para que a informação de qualidade seja acessível ao maior número de pessoas: “tem que estar no YouTube, tem que estar no TikTok, tem que estar em diversas mídias” (SP_MED_02); e também: “a questão do WhatsApp, as informações virtuais” (FS_UBS_CASEB1_TENF03). Outros determinantes que permeiam a comunicação foram citados como esclarecer sobre o mecanismo de ação da vacina: “essa vacina foi feita dessa forma, ela age assim” (FS_ESF_ROSARIO_ENFA); além do modo de produção, aprazamento entre doses, níveis de proteção. Foram destacados ainda o fortalecimento da APS: “tem que ampliar a cobertura de atenção primária para ter impacto em relação à cobertura vacinal” (SP_MED_02); a importância da participação das escolas, a realização de aprazamento no calendário de vacinação e a educação permanente de profissionais envolvidos pautada no conhecimento sobre as barreiras construídas pela disseminação de desinformação associada a hesitação vacinal.

Conclusões/Considerações finais
É necessário um esforço coletivo no sentido de uma comunicação em saúde mais acessível e de qualidade e o profissional de saúde é uma fonte fundamental nesse processo. Os conceitos de ciência e vacina precisam ser discutidos nos diferentes segmentos populacionais e meios de comunicação, no intuito de restabelecer a confiança da população na imunização. Profissionais de saúde são protagonistas fundamentais nessa construção e (re)estabelecimento de vínculo com a população. Ações estratégias podem ser lançadas no intuito de mudar esse cenário, dentre estas o estímulo à participação de influenciadores, utilização de diferentes mídias sociais, linguagem assertiva e clara pelos órgãos e meios oficiais, além de maiores investigações sobre o fenômeno da desinformação e infodemia.

Referências
MacDonald NE. SAGE Working Group on Vaccine Hesitancy. Vaccine hesitancy: definition, scope and determinants. Vaccine. 2015; 33(34):4161-4. Disponível em: https://pubmed.ncbi. nlm.nih.gov/25896383/.
Nobre R, Guerra LDS, Carnut L. Hesitação e recusa vacinal em países com sistemas universais de saúde: uma revisão integrativa sobre seus efeitos. Saúde Debate 2022; 46:303-21.
Zarocostas J. How to fight an infodemic. The Lancet. 2020;395:676.

Fonte(s) de financiamento:
Este trabalho integra o projeto A COVID-19 no Brasil 2: Análise e Resposta aos Impactos Sociais da Imunização, Tratamento, Práticas e Ambientes de Cuidado e Recuperação de Afetados, que é desenvolvido pela Rede COVID-19 Humanidades do Ministério da Ciência, Tecnologia e Informações (MCTI).



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