Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC7.8 - Saúde Digital: políticas e gestão no SUS

53135 - HEALTH QR CODE: SOLUÇÃO DE BIG DATA PARA A GESTÃO DA PANDEMIA DE COVID-19 NA CHINA
NADYELLE ELIAS SANTOS ALENCAR - UFC, LUIZ ODORICO MONTEIRO DE ANDRADE - FIOCRUZ-CE, IVANA CRISTINA DE HOLANDA CUNHA BARRETO - FIOCRUZ-CE


Apresentação/Introdução
Saúde digital (SD) é um termo abrangente que representa a incorporação de tecnologias da informação e comunicação no campo da saúde. Nesse contexto, destaca-se o uso de big data para a interpretação de padrões complexos através de dados. Conceitualmente, big data refere-se à coleta e gestão de dados que não podem ser processados através de softwares comuns. Esses grandes dados apresentam cinco características-base (5 V’s): elevada quantidade (volume), diversidade (variedade), rapidez de processamento (velocidade), baixa densidade de valor (valor), e elevada autenticidade (veracidade). Desse modo, a tecnologia de big data emprega técnicas computacionais para obter informações de valor a partir de dados diversos (Wang et al, 2021). Ressalta-se que a big data apresenta importância inestimável para o manejo de emergências de saúde pública, como foi o caso da Covid-19. Em resposta ao ineditismo do novo coronavírus identificado, a pandemia incitou a adoção de medidas governamentais inovadoras. A elevada disseminação e gravidade do novo vírus testou a capacidade de resposta dos governos e revelou limitações na gestão tradicional de emergências epidêmicas. Assim, houve a necessidade de abordagens mais ágeis, transparentes e participativas (Mao et al., 2021). Na China, o uso de big data orientou as decisões governamentais, com destaque para o Health QR code (código de saúde).

Objetivos
Analisar a experiência chinesa em relação ao uso do Health QR code para o manejo da Covid-19 a partir da tecnologia de big data.

Metodologia
O presente relato de pesquisa integra o macroprojeto da tese de doutorado intitulada “Soluções em Saúde Digital para o enfrentamento da Covid-19 no Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS): os casos do Brasil e da China”. Inicialmente, conduziu-se uma revisão de escopo para investigar o uso da SD no manejo da Covid-19 nos BRICS. A revisão apontou a liderança chinesa em número de investigações entre os anos de 2020 a 2022. Considerando o destaque chinês em relação aos demais membros do BRICS, buscou-se ampliar a compreensão da experiência desse país por meio de um estudo de caso múltiplo, em comparação à realidade brasileira. O estudo de caso utiliza como fontes de evidência: a revisão de escopo, além de pesquisa documental e vivências da pesquisadora durante período de doutorado sanduíche na China (abril a julho de 2024). No presente recorte, será dado ênfase ao caso chinês e destaque a uma das tecnologias mais evidentes, o Health QR code. Foram coletados dados para caracterizar o país, seu setor de saúde, e o uso da SD para o enfrentamento à pandemia. Para a interpretação dos dados, foi realizada análise de conteúdo.

Resultados e Discussão
A República Popular da China, país-membro do BRICS, apresenta extensa área territorial e a segunda maior população do mundo. Diante de reformas na saúde, ocorridas a partir da década de 80, o país conquistou melhorias nos indicadores de educação, saúde e padrão de vida (UNDP, 2024). Ademais, também passou por uma importante transformação digital. Em relação à SD, a China lidera o ranking mundial de mercado digital e encontra-se entre os maiores consumidores desses serviços (Statista, 2024). Considerando o contexto favorável ao desenvolvimento da SD, o país apresentou experiências tecnológicas exitosas no manejo da Covid-19, com destaque para o Health QR code. Essa solução surgiu na província de Zhejiang, em fevereiro/2020, por meio de parceria público-privada. Com apoio da empresa Alibaba, foi construído em menos de 48 horas. Logo após, a Tencent lançou uma versão na cidade de Shenzhen. Em seguida, o seu uso foi expandido por toda a China. Trata-se de um mini-aplicativo integrado a aplicativos de cobertura nacional, como Alipay (Alibaba) e WeChat (Tencent). O seu intuito era avaliar o risco e classificar os cidadãos através de um sistema de três cores. Análogo a um semáforo, o verde simbolizava passe livre, o amarelo pedia atenção (sete dias de isolamento), e o vermelho indicava o pare (14 dias de isolamento). O uso da tecnologia era requerido em atividades cotidianas, como o acesso a transportes públicos, instituições de trabalho e ensino. O código, atualizado diariamente, resultava da análise integrada de dados: autorrelatados (sintomas físicos, histórico de viagens, contato com indivíduos infectados), bases provinciais/nacional (dados epidemiológicos), e dados de localização baseados no sistema global de posicionamento (GPS) (Chen et al., 2021; Mahr; Bloch, 2022).

Conclusões/Considerações finais
O código de saúde surgiu para orientar o retorno ordenado às atividades na China. Essa tecnologia possibilitou o monitoramento da pandemia com transmissão de dados em tempo real para as autoridades de saúde, um marco na vigilância em saúde pública. Os resultados bem-sucedidos foram atribuídos à alta adesão, cobrindo 90% da província de Zhejiang apenas uma semana após o lançamento. O caso chinês evidencia um Estado que combina tradição e inovação, incentivando a cooperação coletiva para o enfrentamento de desafios. Contudo, a ampla adoção levantou questões sobre proteção e privacidade, gerando preocupações sobre uso indevido e vazamento de informações pessoais. Além disso, houve falhas na precisão dos dados, resultando em classificações incorretas de alguns usuários e descontentamento. Convém ressaltar que, devido à implementação rápida e experimental, o código de saúde não é uma solução ideal, mas certamente marca um novo capítulo na história da vigilância em saúde pública.

Referências
1. Wang, Q. et al. Integrating Digital Technologies and Public Health to Fight Covid-19 Pandemic: Key Technologies, Applications, Challenges and Outlook of Digital Healthcare. Int J Environ Res Public Health. 18(11): 6053, 2021. 2. Mao, Z. et al. The application framework of big data technology in the COVID-19 epidemic emergency management in local government-a case study of Hainan Province, China. BMC Public Health. 21(2001), 2021. 3. UNDP. Human Development Index (HDI). Disponível em: https://hdr.undp.org/data-center/human-development-index#/indicies/HDI. Acesso em: 05/06/2024 4. Chen M, et al. Digital health interventions for COVID-19 in China: a retrospective analysis. Intell Med. 1(1):29-36, 2021. 5. Mahr D, Bloch M. Digital risk distribution and COVID-19: How contact tracing is promoted as a solution to equilibrate public health and economic prosperity during pandemics. Digit Health. 8: 1-8, 2022.

Fonte(s) de financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) - Programa Institucional de Doutorado Sanduíche no Exterior (Edital nº30/2023).


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