05/11/2024 - 13:30 - 15:00 RC7.5 - Saúde digital e vigilância: aprendizados, desafios e perspectivas |
51243 - LITERACIA DIGITAL EM SAÚDE E AS PRÁTICAS DE CONSUMO DE INFORMAÇÃO E DESINFORMAÇÃO NO AMBIENTE DIGITAL DAIANE BATISTA DOS SANTOS DE ALMEIDA - FIOCRUZ, ANA LUIZA BRAZ PAVÃO - ICICT/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução Enfrentar os desafios do excesso de informação na web torna urgente o desenvolvimento de políticas que promovam habilidades individuais e coletivas para tomada de decisão, principalmente, quando mais se precisa. No cenário da saúde coletiva, o desenvolvimento da Literacia Digital em Saúde (LDS) pode ser instrumento fundamental nesse aperfeiçoamento. A Literacia Digital em Saúde é definida segundo Norman e Skinner (2006) como a capacidade de buscar, encontrar, compreender e avaliar as informações de saúde de fontes eletrônicas e aplicar os conhecimentos adquiridos para abordar ou resolver um problema de saúde. De acordo com Antunes 2014, a literacia para saúde é estratégica e pode contribuir para uma melhor utilização dos serviços, facilitar e engajar no autocuidado, melhorar a qualidade de vida e, consequentemente, contribuir para a melhor utilização dos recursos para saúde, podendo inclusive, agir na redução de custos hospitalares e auxiliar no modo de organização dos sistemas de saúde. Assim sendo, pensar saúde digital é pensar a relação entre riscos e benefícios que a tecnologia nos traz, e ao relacionarmos tecnologia e saúde as lacunas sociais vão diferenciar a forma como cada pessoa experencia a era tecnológica.
Objetivos Para ampliar os estudos nesse campo, o objetivo desta pesquisa foi ampliar a discussão sobre a literacia digital, a desinformação e suas consequências para a saúde, por meio da identificação das práticas de consumo virtual de informação e desinformação em saúde. Além disso, analisar de forma exploratória (descritiva): os níveis de LDS dos entrevistados, a partir da aplicação do questionário E-HEALS. Pontuações mais altas no eHEALS pressupõem nível maior de Literacia Digital em Saúde.
Metodologia Fizemos um estudo transversal, descritivo, com aplicação de questionário em formato on-line, voltado a um público maior de 18 anos com acesso à Internet e usuário das redes sociais Facebook e Instagram e da mídia digital WhatsApp. O primeiro questionário trouxe perguntas sobre a frequência de uso das redes para obtenção de informação, além, de perguntas específicas sobre fontes e fluxo de acesso e compartilhamento de informações sobre saúde via web. Também foi aplicado no formato on-line o questionário The eHealth Literacy Scale (eHEALS) – Tradução e validação da versão brasileira de uma escala de alfabetização em saúde eletrônica, traduzido e validado em 2019. O eHEALS tem sido considerado um instrumento útil para identificar potenciais dificuldades dos indivíduos no acesso, avaliação e utilização das informações sobre saúde on-line. Ao aplicarmos o questionário eHEALS, foram considerados três níveis diferentes para cada pontuação obtida, sendo baixo as pontuações de 8 a 20 de LDS; intermediário as de 21 a 30; e alto os níveis que apresentaram pontuação de 31 a 40.
Resultados e Discussão Foram 216 respondentes, com 70,1% de respondentes do sexo feminino. No quesito informação, uso e consumo, via Internet, os principais achados revelam que a maioria dos respondentes tem conhecimento quando o assunto é desinformação e fake news (notícias falsas), com 99,1% dos respondentes da pesquisa afirmando ter conhecimento da expressão. A pesquisa evidenciou o WhatsApp como a rede social com maior número de acesso na categoria várias vezes por dia, seguido do Instagram, Youtube e Facebook. As pontuações médias do eHEALS apontam 73,6% de respondentes com nível alto de literacia digital em saúde, em que, respectivamente 5,6% e 20,8% apresentaram nível baixo e intermediário de literacia digital. No quesito compartilhamento de notícias falsas, 71,6% dos respondentes afirmam buscar informações sobre saúde na Internet majoritariamente em sites específicos de saúde, e 66,5% das buscas sendo feitas em sites de instituições de pesquisa. Além disso, os dados revelam que 74,9% dos respondentes consideram confiáveis as informações obtidas de instituições de pesquisas, seguidos de 57,7% em sites governamentais e 53,5% em sites sobre saúde. Podemos constatar que em meio a complexidade e relevância do campo da LDS, este estudo pretende, com seus achados, contribuir para ampliação e compreensão do tema, a luz das mudanças e da rapidez com que se desenvolvem as novas tecnologias digitais. Há, sobretudo, o reconhecimento das mudanças nos contextos sociais, culturais e ambientais que impactam no modo que se desenvolve a literacia digital em saúde e a relevância da promoção da saúde individual e coletiva, a fim de alcançar resultados.
Conclusões/Considerações finais Embora este seja um estudo exploratório de pequena escala, os dados desta pesquisa nos impõem desafios importantes em relação a garantia do acesso à informação qualificada enquanto direito. Isto se dá principalmente porque vivemos atualmente em uma sociedade marcada pelo excesso de informação, por vezes distorcida, e que nos coloca diante de um problema de saúde pública. Nosso estudo revelou que o aplicativo mais baixado do mundo, o WhatsApp, é, segundo o Reuters Digital News Report 2020, utilizado por 83% dos brasileiros, embora seja também o app visto como uma fonte central no espalhamento de desinformação no Brasil, o que nos deixa convencidos da urgência do aperfeiçoamento de um ambiente digital que promova a garantia de espaços democráticos, amplamente regulados, necessários para o acesso seguro de informações e para o combate à desinformação que circula livremente na web. Portanto, colocar em prática políticas no âmbito digital em prol da saúde, torna-se urgente.
Referências ANTUNES, M. L. A literacia em saúde: investimento na promoção da saúde e na racionalização de custos. XI Jornadas Apdis, p. 123-133. 27- 28 Mar. 2014. Disponível em: https://apdis.pt/publicacoes/index.php/jornadas/article/view/54/82. Acesso em: 19 Out. 2020.
NEWMAN, N. et al. Reuters Institute Digital News Report 2022. p. 163, 2022.
NORMAN, C. D.; SKINNER, H. A. eHEALS: The eHealth literacyscale. Journal of Medical Internet Research, v. 8, n. 4, p. 4–6, 2006b
Fonte(s) de financiamento: Não há fonte de financiamento
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