51999 - ACESSO AOS EXAMES DE RETINOGRAFIA NO SUS EM MUNICÍPIOS DE MINAS GERAIS: O USO DE RETINÓGRAFO PORTÁTIL E DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ALAN CRISTIAN MARINHO FERREIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, ROSÂNGELA DURSO PERILLO - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, MARIANA ABREU CAPORALI DE FREITAS - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, LUIZ CARLOS MOLINARI GOMES - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, ROSÁLIA MORAIS TORRES - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, GABRIELA DÁRIO MENDES BARROS - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, LUANA DA SILVA JORGE - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, ALANEIR DE FÁTIMA SANTOS - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Apresentação/Introdução As doenças crônicas são um grave problema de saúde pública mundialmente, pressionando os diversos sistemas de saúde existentes nos países devido às suas diferentes repercussões na saúde dos indivíduos. O comprometimento da saúde ocular está entre as repercussões desse grupo de doenças. A retinopatia diabética e a retinopatia hipertensiva são exemplos das principais complicações para os doentes crônicos, sobretudo para os que estão sem o acompanhamento adequado, causando uma perda progressiva da qualidade de vida e até perda irreversível da visão. Diagnóstico precoce é crucial para o tratamento dessas doenças e prevenção das complicações. No entanto, o acesso à consulta com oftalmologista no SUS é dificultado por longas filas de espera, o que gera sofrimento para os pacientes que aguardam por um diagnóstico e tratamento adequados, e compromete a qualidade do atendimento. Em Minas Gerais, o cenário reflete o restante do país, pacientes aguardando muitas vezes por anos para conseguir realizar consultas com especialistas. A telessaúde por meio do telediagnóstico, bem como o uso da inteligência artificial (IA), vem revolucionando o setor saúde. Aplicada à oftalmologia, a IA apresenta um enorme potencial para auxiliar no diagnóstico de doenças oculares, otimizando o processo de atendimento e democratizando o acesso à saúde ocular.
Objetivos Discutir como o uso do retinógrafo portátil com diagnóstico baseado em Inteligência Artificial pode contribuir para ampliar o acesso ao exame de retinografia aos usuários diabéticos e hipertensos da Atenção Primária à Saúde (APS) em municípios do estado de Minas Gerais.
Metodologia estudo transversal baseado na análise de 920 exames de retinografia realizados com o uso de retinógrafo portátil. A realização dos exames ocorreu entre dezembro de 2023 e maio de 2024 em municípios de pequeno e médio porte de Minas Gerais. Foram convidados para a realização do exame usuários de ambos os sexos, com diagnóstico confirmado de diabetes mellitus ou hipertensão arterial cadastrados nas unidades básicas de saúde. O presente estudo utilizou como variáveis: idade; sexo; doença de base (diabetes, hipertensão ou colesterol alto); diagnóstico médico (exame alterado, exame normal) e Avaliação Automatizada de Doenças da Retina (ARDA) com o uso de algoritmos da IA (baixa, média e alta probabilidade de alteração no exame). Realizou-se uma análise descritiva das variáveis, bem como o cálculo do Kappa para análise da concordância do diagnóstico realizado pelo oftalmologista e o resultado apresentado pelos algoritmos da IA. Para fins de classificação neste estudo, considerou-se como exame alterado na análise da IA os resultados dos exames classificados como média e alta probabilidade de alteração. As análises estatísticas foram realizadas por meio do software Rstudio.
Resultados e Discussão A idade média dos usuários que realizaram a retinografia foi de 59 anos, sendo 68% (n = 629) do sexo feminino, 75% (n = 690) possuíam diabetes mellitus, 74% (n = 686) possuíam hipertensão arterial, 39% (n = 360) possuíam colesterol alto. Em relação ao diagnóstico dos exames realizados com o uso do retinógrafo portátil, segundo impressão diagnóstica do oftalmologista, 47% (n = 428) apresentaram exame alterado. Já com o uso dos algoritmos da IA, 32% (n = 312) foram considerados exame alterado. A concordância entre o diagnóstico da IA e o diagnóstico médico foi considerado moderado (k= 0,622 [IC 95%: 0,57 -0,67]). Os achados deste estudo demonstram o potencial da realização das retinografias na APS democratizando o acesso ao exame, podendo sinalizar com maior agilidade a necessidade de acompanhamento com especialista. A dificuldade de fixação dos profissionais nos centros de especialidades médicas, levam a sobrecarrega da rede de atenção. O uso da IA se apresenta-se como potente ferramenta para o auxílio no diagnóstico da retinopatia diabética (RD). Segundo o estudo, 511 usuários com o resultado do exame considerado normal, contribui para a redução das filas para o oftalmologista e o uso da IA corroboraram com a impressão diagnóstica do oftalmologista neste sentido. A implementação da retinografia portátil na APS otimizaria o uso dos recursos na rede de atenção. O encaminhamento às consultas oftalmológicas somente dos usuários com diagnóstico alterado, contribuiria para a redução da sobrecarga dos profissionais. Vale ressaltar que o uso da IA não substitui o diagnóstico do oftalmologista, fazendo-se necessário que os algoritmos da IA consigam uma maior aproximação ao diagnóstico médico, bem como uma melhor detecção de outras patologias, além da RD.
Conclusões/Considerações finais A implementação do uso do retinógrafo portátil na APS possibilita a realização de exames rápidos, precisos e acessíveis, não dependendo da presença do médico para sua realização e podem ser realizados mesmo em áreas remotas e de difícil acesso cuja a fixação destes profissionais é difícil. O laudo do oftalmologista pode ser emitido remotamente com o uso do telediagnóstico, ferramenta do telessaúde. É possível também usar a IA, por meio de algoritmos complexos, que vai analisar as imagens da retina capturadas pelo retinógrafo portátil e fornecer um diagnóstico prévio, auxiliando no diagnóstico da RD. Entretanto, a IA pode, a princípio, atuar como ferramenta complementar ao diagnóstico do oftalmologista. Vale lembrar também que a adoção do uso do retinógrafo portátil na APS exige uma parceria com um núcleo de telessaúde, planejamento para a identificação do público alvo, sensibilização dos profissionais da unidade e treinamento de um profissional de saúde para a realização do exame.
Referências FRANCO, E. M. et al. Revisão bibliográfica: retinopatia diabética / Literature review: diabetic retinopathy. Brazilian Journal of Development, v. 8, n. 5, p. 35257–35264, 6 maio 2022.
MALTA, D. C. Chronic Non-Communicable Diseases, a major challenge facing contemporary society. Ciência & Saúde Coletiva, v. 19, n. 1, p. 4–4, jan. 2014.
HILGERT, G. R.; TREVIZAN, E.; SOUZA, J. M. DE. Uso de retinógrafo portátil como ferramenta no rastreamento de retinopatia diabética. Revista Brasileira de Oftalmologia, v. 78, p. 321–326, 4 nov. 2019.
Fonte(s) de financiamento: Os autores agradecem ao Ministério da Saúde (SEIDIGI), pelo financiamento por meio de TED.
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