05/11/2024 - 08:30 - 10:00 RC7.3 - Tecnologias Digitais na Atenção Primária à Saúde: experiências e potencialidades |
49695 - ASSISTÊNCIA AO PARTO NO MUNICÍPIO DE FRANCISCO MORATO -SP: O QUE DIZEM OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO E AS MULHERES? FABIANA SANTOS LUCENA - INSTITUTO DE SAÚDE, MARIANA TARRICONE GARCIA - INSTITUTO DE SAÚDE, DENISE YOSHIE NIY - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA, FANNYA TALILIA SOUZA - INSTITUTO DE SAÚDE
Apresentação/Introdução
Os sistemas de informação em saúde devem garantir informações confiáveis e oportunas para orientar ações a serem realizadas em todo o sistema de saúde. As estatísticas de saúde devem permitir aos gestores identificar avanços, problemas e necessidades para tomar decisões. Entretanto, estudos demonstram que o uso das informações em saúde para planejamento e tomada de decisão continuam incipientes.
Alguns aspectos relacionados à assistência ao parto podem ser acessados a partir do painel de monitoramento de nascidos vivos, entretanto temos a invisibilidade de diversas informações relacionadas a assistência ao parto, sendo evidenciados apenas através de pesquisas que coletem essas informações diretamente com as mulheres.
A assistência ao parto no Brasil ainda é permeada por práticas não baseadas em evidências, causando desconforto e violação de direitos das mulheres e insatisfação com o atendimento ao parto. Estudos mais recentes demonstraram melhora nas boas práticas de assistência ao parto, mas ainda devendo ser objeto de melhoria. Apesar desses avanços, o modelo de atenção obstétrica no Brasil frequentemente resulta em uma experiência negativa com o parto vaginal.
Objetivos
O estudo teve como objetivo caracterizar as gestantes submetidas a cesariana, a partir da Classificação de Robson e descrever e analisar a percepção da assistência recebida durante a assistência ao parto, no município de Francisco Morato.
Metodologia
Trata-se de um estudo quanti-qualitativo, realizado no município de Francisco Morato. O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de ética em Pesquisa do Instituto de Saúde sob o Parecer 5.361.673. Foram analisados dados referentes a 2022 obtidos no DATASUS, e no painel de monitoramento de nascidos vivos segundo classificação de risco epidemiológico (Grupos de Robson), disponibilizadas pelo Departamento de Informação e Análise Epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
No estudo quantitativo, foram analisados os grupos da classificação de Robson (CR). A distribuição das cesáreas em cada grupo da CR foi submetida ao teste do qui-quadrado para comparação das proporções segundo estabelecimento, com significância estatística definida por um valor de p
No estudo qualitativo, foram realizadas onze entrevistas semi-estruturadas, com mulheres que realizaram parto (normal ou cesárea) em uma das maternidades do município entre outubro de 2021 e outubro de 2022.
Nesse estudo foi realizada uma análise de conteúdo, conforme proposto por Minayo a partir de análise temática com categorias estabelecidas a posteriori.
Resultados e Discussão
Conforme o encontrado neste estudo, uma revisão integrativa de estudos brasileiros publicados analisando partos segundo CR também encontrou uma maior contribuição relativa para as taxas de cesárea nos grupos 5 (gestações com cesárea anterior) e 2 (primigestas com gestação a termo que não entraram em trabalho de parto espontâneo). Muitos estudos têm enfatizado a importância de intervir na assistência desses grupos devido ao potencial em redução das taxas de cesárea.
Os relatos das entrevistadas indicam que as maternidades deste estudo vão em direção a uma assistência humanizada, evitando alguns procedimentos de rotina desnecessários, como episiotomia e jejum, conforme proposto pelas Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto.
Há uma percepção positiva relacionada à assistência recebida pela equipe de enfermagem, tendo sido citada por nove entrevistadas. Estudos têm demonstrado que modelos de atenção onde a assistência ao parto é realizada por enfermeiras obstetras/obstetrizes, contribui com uma assistência mais humanizada.
Duas mulheres entrevistadas nomearam como violência obstétrica a assistência recebida e outras três relataram situações de violação de direitos: abuso físico; cuidado indigno e abuso verbal; e abandono, negligência ou recusa da assistência. A violência obstétrica tem na desigualdade de gênero a sua gênese e explicação e reflete na organização do sistema de saúde para a resposta às necessidades de assistência durante o ciclo gravídico puerperal.
Podemos compreender os relatos analisados como sinal de um sistema de saúde em crise de qualidade e responsabilidade. No nível mais fundamental, o sistema de saúde que tolera abuso e desrespeito, desvaloriza a mulher, o que por si é a causa base do lento progresso na redução da mortalidade materna.
Conclusões/Considerações finais
Este estudo traz a importância de analisar os dados disponíveis nos sistemas de informação e sua potencialidade para analisar dados relacionados à assistência ao parto, junto a análise de informações coletada diretamente com as mulheres, dados ainda invisíveis aos sistemas.
Chama atenção a quantidade de mulheres do município que sofrem intervenção antes de entrar em trabalho de parto e as altas taxas de cesárea em mulheres com cesárea prévia.
Quando analisada a percepção das mulheres sobre a assistência, os relatos ainda demonstram situações de violação de direitos, tornando uma experiência negativa de assistência ao parto. Entretanto, chamou atenção os relatos positivos da assistência recebida pela enfermagem. Para compreender melhor a realidade da assistência ao parto no município, novos estudos devem ser realizados, incluindo os profissionais das maternidades, para melhor compreender as barreiras ainda presentes para uma assistência mais humanizada e com menos intervenções.
Referências
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Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde. Saúde Brasil 2014: uma análise da situação de saúde e das causas externas / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde. Brasília, DF; 2015.
Leal MC et al. Avanços na assistência ao parto no Brasil: resultados preliminares de dois estudos avaliativos. Cadernos de Saúde Pública [internet]. 2019; 35 (7): e00223018.
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