Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC7.3 - Tecnologias Digitais na Atenção Primária à Saúde: experiências e potencialidades

48572 - COMUNICAÇÃO EM SAÚDE NO INSTAGRAM DA PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO: ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DA VACINAÇÃO CONTRA COVID-19
PRISCILA CARDIA PETRA - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, ESTER PAIVA - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, CELITA ALMEIDA - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, FLÁVIA VIEIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO, MICHELLE FERNANDEZ - UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, GUSTAVO MATTA - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ


Apresentação/Introdução
A falta de alinhamento entre os entes federativos durante a pandemia da COVID-19 resultou na acentuação do encargo dos gestores municipais, os quais foram os principais entes atuantes na promoção da campanha de vacinação. Dentre as principais atribuições da administração municipal, destacaram-se a comunicação em saúde acerca dos imunizantes e do processo de vacinação que se iniciava em 2021.
A conjuntura de excesso de informações ininterruptas prejudicou o discernimento sobre quais seriam as fontes idôneas e quais orientações seriam confiáveis sobre a pandemia — fenômeno denominado de infodemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Associado a isso, o crescimento da hesitação vacinal trouxe implicações para a divulgação científica, de forma que os entes federativos foram obrigados a elevar seus esforços para garantir o direito à saúde da população.
Assim, as estruturas de comunicação da administração municipal precisaram se adaptar rapidamente a esse novo cenário. Por isso, este trabalho buscou compreender a forma com a qual a Prefeitura do Rio de Janeiro atuou na sua página oficial do Instagram durante a campanha de vacinação contra a COVID-19 entre 01 de janeiro e 31 de maio de 2021, no intuito de compreender as estratégias informacionais utilizadas para a adesão da população aos imunizantes.


Objetivos
Objetivou-se compreender a plataformização do Estado a partir das práticas da Prefeitura do Rio de Janeiro na sua conta oficial no Instagram. Assim, analisou-se como esses perfis podem contribuir para uma comunicação rápida, acessível e democrática entre estado e sociedade, sem desconsiderar os limites impostos pelas plataformas. Ao final, debateu-se sobre os princípios do Sistema Único de Saúde, o direito à saúde e a comunicação nas plataformas digitais a partir do sul global.

Metodologia
Foram selecionadas todas as publicações sobre a campanha de vacinação contra COVID-19 entre 01º de janeiro e 31 de maio de 2021 no Instagram da Prefeitura do Rio de Janeiro, totalizando 148. Realizou-se análise de conteúdo, inicialmente com análise documental para obter o máximo de informação com o máximo de pertinência (aspectos quantitativo e qualitativo). Constituiu-se duas categorias que apresentaram critérios comuns ou analogia no seu conteúdo: 1. Informativa: informar sobre a campanha de vacinação e 2. Interativa: promover confiança vacinal por meio de publicações que geram conversas e compartilhamentos nas redes sociais.
Na categoria “informativa” foram inseridas 98 publicações por abordarem temas relativos ao calendário vacinal (chegada das vacinas, vacinação dos grupos prioritários, pontos de vacinação, cariocas vacinados, apelo para retorno para 2ª dose, mudanças nos calendários, suspensões). Na categoria “interativa” foram inseridas 42 publicações por ter como participantes figuras renomadas da cidade, trazerem imagens e vídeos sobre datas festivas, mostrarem pontos de referência da cidade como postos de vacinação, fake news, dentre outros exemplos.


Resultados e Discussão
A pesquisa compreende que as plataformas digitais podem introduzir vieses que favorecem determinados posicionamentos em detrimento de outros. Além disso, perante a quantidade de publicidade veiculada nas plataformas, os usuários ficam vulneráveis aos seus interesses econômicos. Outro fator é o processo de desintermediação que acirra a desconfiança dos usuários com relação às instituições da democracia representativa, como as Prefeituras.
A partir da análise da categoria informativa, verificou-se a opção da gestão por priorizar o rápido andamento da campanha, estratégia que fez da vacinação a principal forma de controle da pandemia. Porém, mudanças no calendário vacinal podem não ter o efeito desejado quando analisado sob o viés da comunicação em saúde.
Ressalta-se que o direito à comunicação não deve ser tratado como mero direito à informação, mas também como o direito de ser reconhecido e participar no debate público para garantir o direito à saúde. A análise demonstrou um modelo informacional que transfere informações, como se às instituições públicas restasse a tarefa de comunicar, sem considerar que diante do crescimento da hesitação vacinal, uma comunicação compartilhada poderia ser mais frutífera.
Sobre a categoria interativa, verificou-se o uso de linguagem descontraída para facilitar o compartilhamento de mensagens favoráveis sobre os imunizantes. Sambas, manifestações culturais e locais de referência foram utilizados como estratégia de divulgação. Também há relatos pessoais de moradores e combate às fake news. Nessa categoria, percebeu-se que a Prefeitura utilizou a rede social como estratégia de comunicação em saúde em busca de uma relação de dupla-mão entre cidadãos e governo.

Conclusões/Considerações finais
Considerando os referidos debates na comunicação em saúde por meio das plataformas digitais, os princípios do SUS podem ser caminhos possíveis na construção de uma comunicação que garanta o reconhecimento e participação da sociedade nos processos de saúde, mesmo com as limitações das plataformas.
Para garantir a equidade e integralidade, é importante considerar as diferenças sociais na comunicação acerca da imunização, impondo o aprimoramento de espaços de conversa e de destaque às falas autorizadas. Quanto à descentralização e hierarquização, é importante compreender as formas com as quais o direito de falar e ser ouvido é desigualmente distribuído, buscando desconcentrar o poder de fala nas instituições. Logo, é importante pensar em como comunicar sobre vacinas em parcerias com movimentos sociais e comunidades. Quanto à participação, é importante elaborar estratégias de comunicação sobre vacinas que desenvolvam espaços, processos e práticas que ampliem as vozes mais periféricas.


Referências
ARAÚJO, I. S. DE; CARDOSO, J. M. Comunicação e Saúde . 1. ed. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2007. v. 1
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. 1. ed. [s.l: s.n.].
CESARINO, L. O mundo do avesso: verdade e política na era digital . 1. ed. [s.l.] Ubu, 2022.
FERNANDEZ, M. V.; PINTO, H. A. Estratégia intergovernamental de atuação dos estados brasileiros: o Consórcio Nordeste e as políticas de saúde no enfrentamento à Covid-19. Saúde em Redes, v. 6, n. 2Sup, p. 211–225, 27 jul. 2020.
MELLO, C. M.; LIMA, T. V.; COSTA, G. C. Direto pro (A)braço: a resposta do Rio de Janeiro à pandemia de covid-19. 1. ed. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Saúde , 2023. v. 1
OPAS; OMS. Entenda a infodemia e a desinformação na luta contra a COVID-19. [s.l: s.n.].
MACDONALD, N. E. Vaccine hesitancy: Definition, scope and determinants. Vaccine, v. 33, n. 34, p. 4161–4164, ago. 2015.

Fonte(s) de financiamento: CAPES

NIESP/FIOCRUZ





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