Roda de Conversa

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
RC7.1 - Redes sociais e comunicação: quais os debates sobre o SUS?

51431 - A CONVERSAÇÃO SOBRE DENGUE E VACINA NO FACEBOOK: ANÁLISE DOS GRUPOS ATUANTES EM 2024
LARYSSA FLORENCIO - UFES, GABRIEL HERKENHOFF - UFES, FABIO LUIZ MALINI DE LIMA - UFES, FRANCIS SODRÉ - UFES


Apresentação/Introdução
Segundo pesquisa do DataSenado, em 2019, as redes sociais digitais eram consideradas uma forte influência na formação de opinião por 83% dos brasileiros, sendo o Facebook a mais citada delas (sendo lembrada por 31% dos entrevistados). Embora esse panorama possa ter se modificado com a popularização de outras plataformas como o Instagram e o TikTok, o Facebook continua sendo um dos eixos da plataformização (Dijk; Poell; Waal, 2018) da informação sobre saúde no Brasil.

Em tal contexto, mostra-se fundamental atentar para as informações sobre saúde que circulam em tal plataforma. Nesse sentido, dois tópicos em particular merecem atenção: a questão das vacinas, tema em que a desordem informacional se intensificou durante a pandemia de coronavírus (OPAS, 2020; Goldenberg, 2021); e a epidemia de dengue, questão que merece atenção por parte de instituições e gestores da saúde coletiva.

Analisando conteúdos publicados no Facebook entre janeiro e abril de 2024, este trabalho busca contribuir com o delineamento de um panorama atualizado do debate sobre vacinas e com a apresentação da repercussão do tema da dengue em tal plataforma de rede social. Para cumprir tal intuito, apresentaremos os principais atores e narrativas que participaram na conversação sobre tais tópicos no período.


Objetivos
O objetivo geral do trabalho é analisar a conversação sobre vacinas e sobre a epidemia de dengue no Facebook nos primeiros meses de 2024.

Os objetivos específicos são:
a) mapear os atores com mais seguidores que publicaram conteúdos sobre os temas;
b) tipificar os cinco principais grupos de atores e as cinco principais narrativas presentes na plataforma;
d) verificar a presença e o alcance de conteúdo desinformativo sobre os temas pesquisados.


Metodologia
A metodologia adotada para a realização deste trabalho foi a realização de uma pesquisa descritivo-exploratória, com recurso a uma abordagem que mescla dados quantitativos e análises qualitativas. Dadas as características de nosso objeto e os propósitos da investigação, aplicamos um método cruzado que mescla a Análise de Redes Sociais (Recuero, 2017) com a Análise do Discurso Digital (Paveau, 2018). Com isso, buscamos apresentar e analisar redes complexas em duas vias: através das interações estabelecidas entre páginas do Facebook; e por meio da observação das redes semânticas constituídas pela conversação pública em tal plataforma.

Para tanto, foram realizados três procedimentos metodológicos:

a) coleta de dados no Facebook por meio da busca de conteúdos referentes a “dengue” (e termos associados) e “vacina” (e termos relacionados) entre 01 de janeiro e 30 de abril de 2024;

b) processamento dos dados a fim de delinear as relações (1) entre perfis que publicaram conteúdos sobre os termos e (2) entre os termos utilizados nas publicações;

c) visualização de redes complexas para auxiliar na análise de atores e na análise da semântica ligada à coleta realizada na plataforma.


Resultados e Discussão
A coleta sobre “vacina” e “dengue” no Facebook no recorte temporal adotado confirmou uma hipótese de trabalho: tal plataforma continua tendo papel central na difusão de informação para o público brasileiro. Os termos vinculados a tais tópicos foram encontrados em mais de 300 mil postagens (mais do dobro do conteúdo publicado no Instagram segundo nosso levantamento), sendo 173.330 ligadas à “dengue” e 131.501 à “vacina”.

Uma percepção decorrente desses números é: a preocupação com a epidemia de dengue gerou uma intensa produção de conteúdos no período. Todavia, as postagens sobre questões concernentes a vacinas tiveram maior número total de interações (compartilhamentos, reações, comentários e reproduções de vídeo), somando mais de 6 milhões (contra os quase 5 milhões dos conteúdos sobre dengue). Isso se explica pelo fato de que o tema da vacinação foi fonte de controvérsias recentemente (como a obrigatoriedade da vacinação infantil contra covid e a aquisição de imunizantes contra a dengue).

Entrando mais diretamente na análise das redes, no que concerne às discussões sobre vacina, os grupos de atores mais relevantes foram: 1) atores da informação sobre vacinação; 2) atores de notícias políticas; 3) atores da vacinação animal; 4) atores da prevenção e saúde; 5) atores da disputa política. Entre as narrativas, destacam-se: a) as de campanha; b) as de informação sobre vacina; c) as noticiosas; d) as de serviço; e) as preventivas.

Os principais grupos de atores identificados no debate sobre dengue foram: 1) atores noticiosos; 2) atores da prevenção; 3) atores do combate à dengue; 4) atores da informação de casos; 5) atores institucionais. As narrativas mais difundidas foram: a) informativa; b) de prevenção; c) médicas; d) sobre campanha vacinal; e) sobre serviços.


Conclusões/Considerações finais
Em relação aos atores e narrativas mais populares na rede, a desinformação tem tido um impacto menor na esfera pública digital do que a informação íntegra. Contudo, a politização da saúde permanece uma questão urgente para instituições e organizações preocupadas com a saúde pública. Embora as informações e notícias sobre campanhas de vacinação e sobre dengue tenham predominado nos meses iniciais do ano, foi nítida a presença de controvérsias políticas no campo da saúde. Uma é a compra de vacinas da dengue pelo governo federal, o que gerou forte impacto público; a outra, sobre a obrigatoriedade da vacinação infantil no caso da covid, que resultou em intensa discussão no Facebook. É importante observar que a politização de tais questões tem ambiguidades que tendem a gerar desordem informacional, uma vez que atores similares exigem vacina de dengue e recusam a vacina de covid para crianças. Instituições e gestores precisam estar atentos à confusão resultante da questão vacinal.

Referências
GOLDENBERG, M. Vaccine Hesitancy: Public Trust, Expertise and the War on Science. Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 2021.

“Mais de 80% dos brasileiros acreditam que redes sociais influenciam muito a opinião das pessoas”. Senado. Institucional. DataSenado. 2019. Disponível em: https://abrir.link/gVtKr. Acessado em: 25 maio 2024.

OPAS. Entenda a infodemia e a desinformação na luta contra a COVID-19. Kit de ferramentas de transformação digital. Ferramentas de conhecimento; 9. 2020 Disponível em: https://iris.paho.org/handle/10665.2/52054. Acessado em: 28 maio 2024.

PAVEAU, M. A. L’analyse du discours numérique – dictionnaire des formes et des pratiques. Paris: Hermann, 2017.

RECUERO, R. Introdução à análise de redes sociais online. Salvador: Edufba, 2017.

VAN DIJCK, J.; POELL, T.; WAAL, M. de. The Platform Society: Public values in a connective world. New York: Oxford University Press, 2018.

Fonte(s) de financiamento: ICEPI - Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde


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