Roda de Conversa

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
RC7.1 - Redes sociais e comunicação: quais os debates sobre o SUS?

51004 - ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO PÚBLICA E DE DESINFORMAÇÃO EM TEMPOS DE PANDEMIA: ANÁLISE DO GOVERNO BRASILEIRO NO TWITTER.
NIVALDO CESAR DE SOUZA JUNIOR - UFMG, VANESSA VEIGA DE OLIVEIRA - UFMG


Apresentação/Introdução
Este trabalho analisou como se deu a comunicação pública desempenhada pelo Ministério da Saúde durante três momentos da pandemia da COVID-19 no Brasil. O objetivo foi observar e analisar, por meio da metodologia de análise de conteúdo, segundo Bardin (2016) e a partir das noções de comunicação pública e de desinformação, as manifestações do Ministério da Saúde e do ex-presidente da república, Jair Bolsonaro no antigo Twitter, sobre o enfrentamento da Covid-19.
Nos interessava entender como a comunicação pública é usada no contexto contemporâneo de desinformação, se como um agente importante de combate ou de disseminação de informações falsas. Logo, a pergunta norteadora deste trabalho é: como o Governo Federal, representado pelo Ministério da Saúde e pelo ex-presidente Bolsonaro, mobilizou a comunicação pública para lidar com a desinformação no contexto da pandemia da COVID-19? Existiram estratégias comunicativas específicas para o enfrentamento do problema?
Por fim, esclarecemos que a escolha da plataforma Twitter não foi aleatória, visto os indícios de que a rede se tornou uma arena de disputas, baseadas em todo tipo de informação, inclusive pelas fake news. O Twitter, mesmo antes de sua mudança para X, foi alvo da campanha #TwitterApoiaFakeNews, criada por usuários que entendiam que a rede não adotava as medidas necessárias para combater perfis que propagam desinformação.


Objetivos
Desejávamos constatar a existência ou não de desinformação no Twitter do ex-presidente Bolsonaro e do Ministério da Saúde, bem como caracterizar possíveis riscos da desinformação à saúde coletiva ao analisar estes perfis. Ademais, buscamos desenvolver o conceito de desinformação, à luz das discussões sobre comunicação pública; E por fim verificar a existência de estratégias comunicativas mobilizadas pelo Ministério da Saúde no Twitter, para lidar com o problema da desinformação.

Metodologia
Os tweets foram analisados pelo método de análise de conteúdo, segundo Bardin (2016) e recuperados utilizando os recursos da “busca avançada” do Twitter, por meio dos descritores: pandemia; medidas preventivas; prevenção; fake; mentira; falsa; desinformação; conteúdo falso; notícia falsa, falso; covid-19; coronavírus, covid, CPI e Comissão Parlamentar de Inquérito.
O corpus foi composto pelas postagens sobre medidas de enfrentamento à covid nos períodos: 1º momento: de 11 de março (quando a OMS decretou que que a crise era uma pandemia) até 11 de abril de 2020; 2º momento: entre os dias 17 de janeiro à 17 de fevereiro de 2021, o primeiros mês da campanha de vacinação contra a covid; e 3º momento: no período de 08 de julho a 08 de agosto de 2021, durante o último mês da CPI da covid no Senado.
Trabalhamos com dois eixos analíticos: i) as estratégias que demarcam a comunicação do Estado (WEBER, 2011) e ii) a presença de ou combate à desinformação.
Em relação ao teste de confiabilidade, considerando os índices alpha de Krippendorff e kappa de Cohen, os valores ultrapassam os 0.667 que é considerado suficiente para variáveis em experimentos (NEUENDORF, 2002, apud SAMPAIO, 2021).

Resultados e Discussão
Sobre as estratégias de comunicação do Ministério da Saúde, podemos destacar que nos três períodos o destaque foi para a divulgação de ações do governo para obter visibilidade. Foi marcante a divulgação de eventos com participação do ministro Queiroga, aparentemente o perfil tentou apresentá-lo como um gestor técnico e defensor da campanha de vacinação, após a gestão de Pazuello, que era muito criticado por sua falta de experiência nesta área e por seu perfil supostamente negacionista, como Bolsonaro.
Em relação ao ex-presidente, grande parte dos tweets foi para apresentar ações do governo nos três períodos analisados. O político também priorizou a divulgação da liberação de verbas para enfrentamento da covid-19, particularmente nos períodos 1 e 3.
Sobre o eixo II - desinformação, adaptamos as definições de Claire Wardle e Hossein Derakhshan (2019) para auxiliar na análise. Tínhamos a expectativa de observar uma atuação consistente do governo no sentido de enfrentar o problema, pois desde 2019 existia uma iniciativa do Ministério chamada “Saúde sem Fake News”. Contudo, identificamos poucos tweets com o slogan desta iniciativa sendo utilizado.
Todavia, o Ministério da Saúde foi menos negligente com o problema da desinformação do que o perfil de Bolsonaro, eventualmente fazia postagens sobre o tema. Cabe ressaltar que o Bolsonaro apostou no tratamento medicamentoso como forma de enfrentamento à covid-19, mesmo com indicativos da ineficácia dos mesmos, compartilhou links de vídeos com supostos resultados favoráveis, alguns dos quais foram removidos do Youtube por não atenderem às diretrizes da plataforma. A postura do ex-presidente possivelmente prejudicou o enfrentamento à covid, sendo ele um dos principais desmobilizadores das medidas necessárias para conter o coronavírus.


Conclusões/Considerações finais
Destacamos o papel central que a campanha de vacinação passou a ter na estratégia de comunicação do Ministério da Saúde, que praticamente não abordou outras medidas preventivas.
O Ministério da Saúde em relação à desinformação foi pouco incisivo, por quase não ter utilizado a iniciativa do Saúde Sem Fake News.
O eixo desinformação apresentou um desafio que nos impede de cravar que as afirmações de Bolsonaro em que não identificamos informação incorreta ou descontextualizada, de fato tratam-se de afirmações verdadeiras.
Ademais, ressaltamos a importância do enfrentamento à desinformação por parte de perfis governamentais em redes sociais. Estudos futuros poderão trazer mais contribuições sobre a desinformação político-governamental observada no perfil de Bolsonaro, em consonância com seus conhecidos proferimentos públicos diante de apoiadores. Assim como esperamos que as assessorias de comunicação de órgãos do Estado abarquem como atividades essenciais o combate à desinformação.


Referências
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. 2016.
BOLSONARO, J. A Hidroxicloroquina cada vez mais demonstra sua eficácia em portadores do COVID-19. [...]. 29 mar. 2020. Twitter:
BRANDÃO, E P. Conceito de Comunicação Pública. 2007
DUARTE, J. Comunicação Pública. 2007.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Agora é hora da vacinação! No RJ, Ministro Queiroga aplica a vacina #Covid19 em moradores. [...]. 22 jul. 2021. Twitter: @minsaude.
RECUERO, R; Soares, F. B.; Vinhas, O.; Volcan, T.; Zago, G.; Stumpf, E. M.; Viegas, P.; Hüttner, L. G.; Bonoto, C.; Silva, G.; Passos, I.; Salgueiro, I.; Sodré, G.. Desinformação, Mídia Social e Covid-19 no Brasil: Relatório, resultados e estratégias de combate. Relatório de Pesquisa. 2020.
WARDLE, C.; DERAKHSHAN, H. Reflexão Sobre a “Desordem da Informação”: Formatos da Informação Incorreta, Desinformação e Má-Informação. 2019.
WEBER, M. H. Estratégias da comunicação de Estado e a disputa por visibilidade e opinião.. 2011.

Fonte(s) de financiamento: não se aplica


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