53067 - RESILIÊNCIA COLETIVA: UM NOVO CONCEITO PARA COMPREENDER O TRABALHO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE RAQUEL DE CASTRO ALVES NEPOMUCENO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, IVANA CRISTINA DE HOLANDA CUNHA BARRETO - FIOCRUZ CEARÁ
Apresentação/Introdução Resiliência é um constructo relativamente novo, ainda em desenvolvimento, que nos obriga a tomar um enorme cuidado com o uso da palavra. A pandemia da Covid-19 representou uma tempestade perfeita de fatores estressantes e eventos traumáticos que nos levaram a ajustar a nova adversidade. A Atenção Primária em Saúde (APS) desempenhou um papel central na mitigação dos efeitos da pandemia, bem coube abordar problemas oriundos do isolamento social prolongado e da precarização da vida social e econômica, como transtornos mentais, violência doméstica, alcoolismo e agudização ou desenvolvimento de agravos crônicos. Estudos apontam a descontinuidade do cuidado longitudinal na pandemia e aumento de complicações agudas, crônicas e mortalidade, certamente, o agravamento dos desafios da APS para a sobrevivência do SUS, entre eles: a desigualdade social, a baixa resolutividade e o subfinanciamento crônico da saúde. A Estratégia Saúde da Família (ESF) é prioritária para consolidação e ampliação da APS e tem como integrante fundamental o Agente Comunitário de Saúde (ACS), diante disso, surgiu o questionamento: Como os ACS se organizaram e retomaram seu trabalho para possíveis respostas a este evento traumático? Como profissionais e autoras da dissertação “O trabalho do ACS à luz da Teoria Comunidade de Práticas” (2019), vimos a necessidade de aprofundarmos sobre o conceito de resiliência
Objetivos Aprofundar os conhecimentos sobre o conceito de resiliência e fomentar a discussão sobre a Resiliência Coletiva como um novo conceito para compreender o trabalho na APS.
Metodologia Trata-se de um estudo qualitativo de revisão narrativa sobre o conceito de Resiliência. Buscou-se uma análise bibliográfica na base de dado BVS-Biblioteca Virtual em Saúde e leitura de livro, entre os meses outubro a dezembro de 2023. Foram empregados os termos de indexação ou descritores em Ciências da Saúde (DeCS) “Resiliência Psicológica” e “Formação de Conceito”, isolados ou de forma combinada, sem delimitar um intervalo de tempo. O critério utilizado para a inclusão das publicações era ter as expressões utilizadas nas buscas no título ou palavras-chave, ou ter explicito no resumo que o texto se relaciona sobre o conceito de resiliência. Foram considerados critérios de exclusão os artigos em língua estrangeira, não apresentavam o critério de inclusão estabelecido e/ou apresentavam duplicidade. Foram excluídas dissertações e teses. O resultado inicial da busca nas bases de dados resultou em 148 referencias. Para análise e compreensão do conteúdo dos artigos, foram aplicados os critérios de inclusão e exclusão, sendo selecionados 12 artigos. Também foi feita a leitura do Livro: “Resiliência: Como tirar leite de Pedra, autores Sandra Cabral e Boris CyrulniK.
Resultados e Discussão O conceito é originário da física e foi importado para psicologia e ecologia, onde foi usado para dar conta de processos de recuperação após acontecimentos traumáticos sobre pessoas e ecossistemas. Chegou depois às ciências sociais através da geografia e da economia, em estudos sobre a recuperação de comunidades locais e setores de atividade econômica após desastres ambientais. Diversos estudos que investigam resiliência trazem questões relativas às "habilidades individuais" com histórias de pessoas com trajetórias semelhantes; algumas conseguem superar e outras não. A visão heróica da resiliência quando se aplica o conceito em estudo sobre a pobreza, passa a ser um termo aplicado às situações em que indivíduos ou grupos conseguem “prosperar na adversidade”ou“transformar crises em oportunidades”. Versões que trazem problemas do ponto de vista sociológico, porque ignora o papel das instituições e estruturas sociais. Cabral(2015) refere-se ao conceito, às condições encontradas por sujeitos ou povos, de retomada de algum processo de desenvolvimento após ou em meio às situações ou ambientes traumáticos, avançando na direção de compreender, a partir de uma concepção ecológica, quais os ingredientes psicológicos, sociológicos, políticos e existenciais envolvidos nesse processo. O favorecimento a uma atitude resiliente teria então que se dirigir ao estabelecimento de recursos, produzidos pelo ambiente, de acolhimento, isto é, de negociação com as forças produzidas pela adversidade para a saída da imobilidade provocada pela dor, e consequente retorno a um estado de potência.Enfrentar um tecido social traumático exige um agenciamento coletivo de transformação subjetiva, um dispositivo de construção de novas posições diante do mundo, e não a superação de uma situação específica.
Conclusões/Considerações finais Este estudo nos convida a trazer a complexidade do conceito resiliência para a discussão na APS e procurar o conforto na empregabilidade, assim como renunciar a uma compreensão convencional sobre as possibilidades de reparação, reconstrução e de invenção de destinos. Faz-se necessário verificar as políticas do cotidiano que permitem construir o espaço de retomada do investimento na vida, para além da sobrevivência, aquilo que possibilita transformar uma violência sem sentido e sem resposta em uma reação amparada pela reinvenção dessa experiência. É preciso realizar estudos observacionais e de intervenção para compreender como um coletivo de trabalhadores da APS, em especial, os ACS, que se deparam cotidianamente com a situação de precariedade social e econômica em que se encontra boa parte da população, fundada em dois grandes traumas sociais: a colonização e a escravidão, criam configurações de existência, uma nova figuração de si, do mundo e das relações.
Referências CABRAL, S.S. Marcas de resiliência ou sobre como tirar leite de pedra. In: CABRAL, S.S. Resiliência: como tirar leite de pedra. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2015
Frota AC, Barreto IC de HC, Carvalho ALB de, Ouverney ALM, Andrade LOM de, Machado NM da S. Vínculo longitudinal da Estratégia Saúde da Família na linha de frente da pandemia da Covid-19. Saúde debate [Internet]. 6º de julho de 2022 [citado 12º de março de 2024];46(especial 1 mar):131-5. Disponível em: https://saudeemdebate.emnuvens.com.br/sed/article/view/5969
ESTEVÃO, P.; CALADO, A.; CAPUCHA, L. A construção de uma definição sociológica de resiliência: de uma noção heróica a um conceito crítico. In: Anais... Atas IX Congresso Portugues de Sociologia. Portugal, território de territórios. Universidade do Algarve, 2016.
Fonte(s) de financiamento: Própria
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