Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC10.4 - Novos horizontes em foco: Desafios de políticas e estratégias na construção de práticas de pesquisa e de cuidado na saúde coletiva

49128 - O ATO DE CRIAR NA PESQUISA EM SAÚDE COLETIVA: PENSAMENTOS INICIAIS AO PESQUISAR EM TERRITÓRIOS DESCENTRALIZADOS
RAILANE DO CARMO DA SILVA - UFPB


Apresentação/Introdução
As reflexões apresentadas neste resumo, surge impulsionadas a partir do ato de pesquisar em territórios descentralizados, e o modo criativo como emerge o processo, devido à escassez dos recursos, sejam eles de produções bibliográficas ou de materiais para ser utilizados como instrumentos de análises.
Enquanto residente, desenvolvi um trabalho voltado as práticas de saúde mental em um município do sertão pernambucano, ao iniciar a jornada como pesquisadora iniciante inserida no mestrado em Saúde Coletiva, busco problematizar a presença do acompanhante na produção do cuidado em um hospital regional localizado no litoral da Zona da Mata Sul de Pernambuco. A partir dessa pesquisa, identifico diferentes nuances criativas ao observar a construção das análises e sistematização dos dados no campo da Saúde Coletiva, utilizando diversos métodos de pesquisas, sendo eles: autoetnografia, diárias de campo físicos e virtuais, recursos da memória, observação participante e os/as próprios/as familiares como interlocutores/as.
Portanto, recorrer a esses métodos, não é uma tarefa fácil, mas atravessada por fatores da micropolítica e da macropolítica.


Objetivos
Apresentar discussões iniciais acerca do ato criativo que emerge ao fazer análises do uso de metodologias qualitativas na pesquisa em Saúde Coletiva em contextos descentralizados, enquanto um mecanismo facilitador para as elaborações da pesquisa.

Metodologia
A metodologia será um relato narrativo, apresentando reflexões que surgiram ao utilizar métodos qualitativos na pesquisa, como, por exemplo: o método de memória1 que foi sistematizado em diário de campo2, a autoetnografia3, que enquanto método não fornece respostas concretas, mas apresenta caminhos para analises e discussões e também as interlocutoras familiares4, compreendendo-as como pessoas que vivenciaram o ato de ser acompanhante, e forneceram a mim enquanto pesquisadora reflexões pertinentes acerca dos limites éticos em pesquisa, como também, proporcionaram um debate inicial, acerca do tema.

Resultados e Discussão
Ao se debruçar sobre uma questão de pesquisa, o/a pesquisador/a é impulsionado a seguir a construção dos dados para efetuar seu campo de análise. A partir disso, desafios surgem no decorrer do trabalho, sejam eles: dificuldade na entrada do campo, limites e/ou escassez de recursos para obtenção de dados, adequação dos métodos, entre outros.
Diante disso, recorri a uma diversidade de informações, sendo recursos documentais de instituições, ou caminhos construídos a partir da observação efetuada no campo, sendo atravessada de emoções e tentativas de envolvimento dos próprios agentes que estive pesquisando, provocando coalisões entre pesquisado/a ou pesquisador/a.
A linha de pesquisa que faço parte é política, gestão e cuidado, tenho como objeto de pesquisa a produção de cuidado efetuada pelo/a acompanhante, conto como campo de pesquisa o hospital regional de um município descentralizado de Pernambuco. Foi em meio a esse cenário, que imergir em diferentes formas de produção de dados, sistematizando memórias em diários de campo, revisões bibliográficas, interlocutoras familiares e os limites éticos, afinal, é difícil separar os momentos de pesquisa e pesquisado/a, onde Matheus Santos denomina a necessidade de equilíbrio triádico.5
Neste encontro de pesquisa e pesquisado, fui atravessada de várias formas, pelos contextos que o objeto me possibilitou, percebendo como os cenários descentralizados podem contar com políticas de saúde implantadas de forma verticalizada, como também, o cuidado desenvolvido pelas pessoas que são os atores locais. Além disso, pude compreender como aponta Mehry, as diferentes lógicas na produção do ato de cuidar6, as diferenças na implementação e a busca por serviços de saúde, e, criatividade dos/das usuários/as em meio a escassez de recursos de saúde.

Conclusões/Considerações finais
Ao fazer uso de métodos qualitativos na linha de pesquisa política, gestão e cuidado, notei como é difícil encarar o fim de cenário de uma pesquisa, devido, aos diferentes olhares que surgem durante a investigação, além disso, o desafio em sistematizar as criatividades que surgem durante a elaboração da pesquisa, e como, lidar com os insights advindos das leituras e construção dos dados feitas de formas individuais e coletivas.
É possível notar as contribuições que os métodos qualitativos proporcionam para desvelar diferentes cenários, provocando a ampliação de olhares a novas ideias, além disso, os atos criativos ocasionam o olhar diferenciado acerca dos posicionamentos dos/das pesquisadores/as nas diferentes análises.
Portanto, conforme ocorre discussões na saúde acerca do cuidado produzido no ato, é preciso começar a discussão acerca das construções de pesquisas em ato, encarando os diferentes cenários e os limites proporcionados na utilização de cada método.

Referências
1-Fabíola Gaspar das Dores. A memória como método de pesquisa. Cadernos de Campo: Revista de Ciências Sociais, n. 4, 1999.
2- MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
3-Gustavo Raimondi, Claudio Moreira, Aline Veras Brilhante, Nelson de Barros. A autoetnografia performática e a pesquisa qualitativa na Saúde Coletiva: (des) encontros método+ lógicos. Cadernos de Saúde Pública, v. 36, p. e00095320, 2020.
4- Ana Clara Sousa Damásio. Etnografia em Casa: entre parentes e aproximações. Pós-Revista Brasiliense de Pós-Graduação em Ciências Sociais, v. 16, n. 2, p. 1-32, 2021.
5- Silvio Matheus Alves Santos. O método da autoetnografia na pesquisa sociológica: atores, perspectivas e desafios. Plural: Revista de Ciências Sociais, v. 24, n. 1, p. 214-241, 2017.
6- Emerson Mehry. O ato de cuidar: a alma dos serviços de saúde? 2009.


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