52554 - APROXIMAÇÕES SOBRE A CAPACIDADE RESILIENTE DE SISTEMAS COMPLEXOS E O CUIDADO COMO AÇÃO POLÍTICA DAS MULHERES BÁRBARA BULHÕES LOPES DE ANDRADE - CEE/FIOCRUZ, ROSENI PINHEIRO - IMS/UERJ, ALESSANDRO JATOBÁ - CEE/FIOCRUZ, PAULO VICTOR RODRIGUES DE CARVALHO - INSTITUTO DE ENGENHARIA NUCLEAR/CNEN, IEN
Apresentação/Introdução A elaboração de respostas a emergências de saúde pública perpassa situações de adversidade que não são estáticas, mudam e requerem mudanças para aprimoramento de soluções. Com isto a noção de resiliência em sistemas de saúde tem sido estimada como a capacidade organizacional de recuperar as condições sanitárias da população após lidar com uma perturbação sistêmica (JATOBÁ et CARVALHO, 2024). Sendo este um processo dinâmico e interligado de fatores de risco e de proteção que considera tanto a mulher, como suas redes de apoio nas mudanças necessárias para o aprimoramento de sistemas funcionais (RODRIGUES, 2010). Neste sentido, as redes de ativistas que reivindicam direito ao cuidado na pandemia de COVID-19 desdobram o funcionamento habitual prescrito pelos sistemas de saúde e de assistência social. Encorajando por meio de suas ações o reconhecimento dos territórios em que vivem como sistemas complexos (Morin, 2007). O conceito de resiliência requer um entendimento dinâmico e interligado dos fatores de risco e de proteção, considerando a variabilidade dos sistemas e a pluralidade dos sujeitos que buscam compor soluções as crises e a comportamentos desafiadores. Constituindo uma habilidade valiosa aos usuários de sistemas de saúde que fomentam o pensamento crítico articulado a produção um cuidado como valor- ético-político dos territórios (PINHEIRO, 2007).
Objetivos O estudo buscou identificar elementos sobre a capacidade resiliente de sistemas complexos no relato das mulheres ativistas que participaram do Ciclo de Debates Mulheres Territórios de Luta (PACS, 2020) que reivindicaram o direito ao cuidado durante a pandemia de COVID-19. Vislumbrando compreender os fatores de proteção que colaboram para organizar as funções essenciais do Sistema Único de Saúde e fortalecer sua a capacidade resiliente transformação e superação de crises.
Metodologia A metodologia da pesquisa procurou agregar a abordagem da resiliência em saúde ao estudo sobre “como as mulheres em ação se articulam para reivindicar o direito ao cuidado em meio à pandemia de COVID-19 no Brasil” (BULHOES,2022). Considerando o conceito de resiliência aplicada aos sistemas de saúde como aquele que organiza as funções essenciais dos sistemas de saúde de acordo com o seu potencial de ativação dentro do ciclo do choque. Desta forma, busca como orientado pelo Gabinete regional da OMS para a Europa e a comissão de estados da saúde da União Europeia, vincular a resiliência ao ciclo do choque. Isto permite identificar vários estágios de oportunidades e quando necessário se adaptar para garantir a qualidade do cuidado mesmo durante crises sistêmicas (JATOBÁ,CARVALHO,2024). No caso em questão, tendo em vista o momento pandêmico da COVID-19, buscou-se verificar os elementos do ciclo do choque relacionado ao “impacto e gestão” a partir da ação das mulheres que reivindicam cuidados em seus territórios de luta. Para a revisão narrativa o estudo contou com as palavras chaves: resiliência em saúde, reivindicação de direitos, redes comunitárias, integralidade em saúde e mulheres.
Resultados e Discussão As considerações das ativistas em relação à temática do cuidado transbordam a fragmentação do conceito com relações dicotômicas entre cuidado na saúde, cuidado na educação, cuidado na economia e cuidado com si. Para elas, a centralidade do termo está na costura que cria liga entre as diferentes temáticas, possibilitando qualificar o cuidado como construtor de pontes para uma ação integral de direitos humanos em realidades complexas. Tal formulação evidencia o entusiasmo das ativistas em dialogar e produzir mais interlocução para sua própria coesão no que se refere ao cuidado. Com isto, as experiências relatadas pelas atividades da campanha mulheres territórios de luta do PACS mostram que o choque da pandemia impactou o sistema de saúde e a sociedade em geral. No entanto, a resposta das ativistas, dentro do campo mais tradicional da resiliência conseguiu absorver, adaptar e transformar o impacto e a gestão do choque. Tendo em vista principalmente que estas estavam articuladas em uma rede complexa de reivindicação de cuidados que permeava não só o SUS como outros sistemas em crise. Com isto, sofreram o impacto do pandemônio, mas tiveram uma resposta de gestão da crise oportuna, mesmo forjada no cenário de vulnerabilidades. Ampliando a capacidade de resiliência das ações de reivindicação que agregavam maior carga de trabalho (principalmente relacionada ao cuidado), ações de solidariedade e de educação popular nos territórios. Como admite Hillenkamp et al, quando relata que o protagonismo das mulheres na capacidade de resposta da agroecologia às contingências da Covid-19 ousa uma reorganização do trabalho. Contendo tanto um potencial de renegociação da divisão desse trabalho, quanto um risco de agravamento das desigualdades de gênero, raça e classe (HILLENKAMP et al, 2021).
Conclusões/Considerações finais Ao cultivar diálogo com as mulheres em territórios de vulnerabilidade como sujeitos ativos de mudança social, o estudo procura agregar os saberes e práticas destas na busca por cuidado. Ainda que a questão dos cuidados seja historicamente pautada nas principais reivindicações de igualdade de direitos, hoje se torna central na garantia de cidadania plena das mulheres brasileiras. Sobretudo pelo conjunto choques que abarcam a crise da organização social do cuidado que a pandemia ajudou a avultar junto as dificuldades para se desenvolver o cuidado integral em saúde nos territórios. Mote que reforça a centralidade do usuário no julgamento da qualidade da saúde de seu território (PINHEIRO,SILVA-JUNIOR, 2011). Assim, o estudo salienta que há necessidade de ampliar as reflexões sobre as relações da resiliência com as ações reivindicatórias por direitos ao cuidado das ativistas, visando a melhoria da capacidade resiliente do SUS e a transformação do modelo hegemônico de cuidados, em crise.
Referências JATOBÁ, A. CARVALHO, P. A resiliência na saúde pública. Rio de Janeiro: CEBES, 2024.
MORIN, E. Introdução ao Pensamento Complexo. Porto Alegre: Sulina, 2007.
PACS, O Ciclo de Debates #MulheresTerritóriosdeLuta. PACS.org.br. 2020a.
PINHEIRO, R. Cuidado como valor: um ensaio sobre o (re)pensar a ação na construção de práticas eficazes de integralidade em saúde. Razões públicas para a integralidade em saúde: o cuidado como valor. CEPESC – IMS/UERJ – ABRASCO. 2007.
PINHEIRO, R. ; SILVA-JUNIOR, A. G. A centralidade do usuário na avaliação em saúde: outras abordagens. in Avaliação em saúde na perspectiva do usuário: abordagem multicêntrica / Rio de Janeiro: CEPESC / IMS- UERJ; Recife: Editora Universitária UEPE; São Paulo: ABRASCO, 2011.
RODRIGUES, Raquel Fonseca. Sacode a poeira e dá a volta por cima: resiliência em mulheres que vivenciaram violência sexual / Dissertação. UERJ, 2010.
Fonte(s) de financiamento: CAPES
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