Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC10.3 - Problematizando epistemologias e insurgências em saúde coletiva na atualidade

51917 - MAMOGRAFIA NA REDE PÚBLICA DE SAÚDE: DISPARIDADE NO ACESSO ENTRE MULHERES NEGRAS E BRANCAS
NAÃ SOUSA ROCHA - UFC, GABRIEL RODRIGUES DE LIMA BENTO - UFC, LARISSE HOLANDA MARTINS - UFC, MARIA EDUARDA MEDEIROS NUNES - UFC, KELEN GOMES RIBEIRO - UFC


Apresentação/Introdução
Apesar de abolida há mais de um século, a escravização de pessoas negras, que ocorreu em solo brasileiro por anos de colonização, perpetua suas mazelas na sociedade brasileira contemporânea, manifestando-se, inclusive, no que diz respeito ao acesso à saúde por parte da população negra brasileira. Nesse sentido, mulheres negras encontram dificuldade de acesso pleno ao direito básico da saúde, a julgar que essas mulheres não são amplamente assistidas em relação à prevenção do câncer de mama (tipo de neoplasia que mais mata mulheres no país). Esse fato é perceptível ao se observar a discrepância estatística do acesso à mamografia entre a parcela feminina negra brasileira em comparação com a branca. Assim, o presente trabalho organiza, analisa e discute dados disponibilizados por entidades nacionais, como o Ministério da Igualdade Racial e Ministério da Saúde, a fim de questionar e averiguar a igualdade de acesso a um método de prevenção do câncer de mama – a mamografia – e comparar entre a população de mulheres brasileiras. A investigação aqui feita considera recorte racial, uma vez que, nos dados observados, há uma diferença significativa entre o acesso de mulheres negras e brancas à mamografia – quadro que motivou a realização desse estudo. Visto essa conjuntura, destaca-se a necessidade do planejamento de políticas em saúde que contornem ativamente tal defasagem sanitária.

Objetivos
Analisar os dados de acesso ao principal método de diagnóstico e de rastreio do câncer de mama por parte das mulheres brasileiras, baseado em suas raças, no sistema público de saúde do país. A partir disso, é possível averiguar a influência que determinantes sociais, como a raça, exercem sobre a distribuição equitativa da realização da mamografia entre indivíduos do sexo feminino, bem como oferecer subsídio na elaboração de ações que visem atenuar a situação.

Metodologia
Para a realização da coleta dos dados, foi usado a plataforma DataSus, que disponibiliza uma fonte online de dados em saúde, chamada “TabNet”. Acessou-se um sistema de contabilização de informações a respeito do câncer no Brasil, o “SisCan”, o qual disponibiliza dados epidemiológicos acerca do câncer de mama, bem como das mamografias feitas, em nível nacional. Com a utilização dos filtros que a plataforma oferece, foi viabilizada a realização de uma análise direcionada, usando-se os dados dos anos de 2020 a 2023, de pacientes do sexo feminino, sendo esses agrupados por raça. A partir dos números vistos, foram calculadas as porcentagens de mulheres submetidas ao exame por grupo racial. É importante salientar que, no estudo, foram consideradas mulheres pretas e pardas como negras, assim como estabelece o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, para viabilizar a comparação dessas estatísticas com a demografia brasileira, foi estudado um informe de monitoramento e avaliação de mulheres negras, elaborado pelo Ministério da Igualdade Racial, publicado em 2023, com base no último censo feito pelo IBGE.

Resultados e Discussão
A partir dos dados analisados, foi constatado que a porcentagem de mulheres negras (pretas e pardas) que se submeteram ao exame de mamografia no período selecionado apresenta uma discrepância percentual, quando comparado à porcentagem de mulheres brancas também submetidas ao mesmo exame no mesmo período. Enquanto as mulheres brancas representam 44,8% das mulheres submetidas ao exame, as negras representam 21,7%, o que significa uma diferença de 23,1 pontos percentuais entre os dois grupos analisados. Feita essa primeira investigação, observou-se que esses dados se contrapõem com o padrão demográfico das mulheres brasileiras, isso porque as mulheres negras são maioria populacional feminina (55,3%), mas minoria na realização da mamografia (21,7%); enquanto as brancas compõem uma parcela demográfica menor que a negra (43,3%), mas predominam na realização do exame preventivo (44,8%). Além disso, analisando os números sob outra perspectiva, percebe-se que apenas 2,9% do total de mulheres negras brasileiras se submeteram ao exame, contra 7,76% do total de mulheres brancas. Assim, por meio dos dados apresentados e da perceptível contradição entre eles e a demografia feminina brasileira, infere-se que há um acesso deficiente por parte das mulheres negras aos serviços de diagnóstico do câncer de mama no sistema de saúde público brasileiro, visto que, mesmo sendo maioria entre as mulheres, constituem um menor número percentual de exames realizados. Tal conjuntura reafirma o quadro de desigualdade social presente no país, haja vista que uma população negra feminina, historicamente prejudicada tanto pelo racismo estrutural quanto pelo machismo, continua a enfrentar uma situação de vulnerabilidade: uma atenção em saúde pública que não acolhe numa perspectiva equitativa.

Conclusões/Considerações finais
Portanto, mulheres negras são minoria entre as mulheres que realizam mamografia, embora sejam maioria numérica entre a população feminina brasileira. Logo, reafirma-se a necessidade do planejamento de políticas públicas significativas voltadas para a ampliação do acesso de mulheres negras ao diagnóstico de neoplasias de mama com a finalidade de corrigir a falha apresentada. Essa ampliação deve ser planejada com o objetivo de equiparar os dados relativos ao total de mulheres que realizaram o exame preventivo em cada grupo racial, ou seja torná-los mais lineares, evitando a discrepância analisada como foco deste trabalho. Tal medida pode ser executada com a ampliação dos serviços de saúde pública com acesso à mamografia em áreas cuja população é majoritariamente negra a fim de atingir de forma efetiva essa parcela populacional que já coabita com tantas outras vulnerabilidades.

Referências
Ministério da Saúde. DATASUS. Tabnet. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2024. Disponível em: https://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude-tabnet/. Acesso em: 25 maio. 2024
Informe MIR - Monitoramento e avaliação - nº 2 - Edição Mulheres Negras. Brasília-DF - Setembro de 2023


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