51093 - PESQUISA SOBRE COVID-19 E INTERSECCIONALIDADE DE SEXO, GÊNERO E RAÇA/ETNIA: ANÁLISE DO FINANCIAMENTO NO BRASIL, 2020-2021. GIOVANNA OCAMPO CARDOSO - UNB, MICAELA ALEXANDRA DA SILVA PAULINO - MS, NATÁLIA SILVA ALVES - MS, ANTONIA ANGULO-TUESTA - UNB
Apresentação/Introdução A pesquisa em saúde desempenha papel central nas repostas às emergências de saúde pública e na geração de novos conhecimentos. Durante a pandemia de covid-19, evidências científicas demonstraram que o curso da infecção pelo SARS-CoV-2 e seus impactos varia de acordo com fatores biológicos, sociais e econômicos.
Nesse sentido, a integração de sexo (fatores biológicos), gênero (fatores socioculturais), raça e etnia na pesquisa em saúde são cruciais para melhorar a qualidade das evidências científicas e informar decisores políticos, profissionais e pesquisadores/as sobre potenciais desigualdades nos resultados de saúde e no acesso aos serviços de saúde para determinados grupos na sociedade.
Apesar do crescente reconhecimento da importância da interseccionalidade pela comunidade científica, o progresso na incorporação de sexo, gênero e raça/etnia nas pesquisas em saúde tem sido lento e desigual, e apresenta desafios quanto à integração nos desenhos e resultados.
Diante dos esforços realizados pela comunidade científica no Brasil, um dos 12 primeiros países com maior número de publicações sobre covid-19 em 2020, torna-se essencial conhecer se as evidências que demonstraram diferenças de sexo, gênero e raça no adoecimento por covid-19 influenciaram o interesse de pesquisadores/as na incorporação destas categorias nas pesquisas financiadas por órgãos governamentais e agências de fomento.
Objetivos Este estudo tem como objetivo analisar a incorporação das categorias sexo, gênero e raça/etnia nas pesquisas sobre covid-19 financiadas por órgãos governamentais e agências de fomento nacionais e estaduais no Brasil, 2020-2021. Especificamente, busca examinar as características de financiamento destas pesquisas segundo tipos de pesquisa, modalidade de fomento e instituições beneficiadas.
Metodologia Estudo descritivo e retrospectivo, parte da pesquisa “COVID-19: Análise do financiamento a investigação e elaboração de uma agenda de prioridades de pesquisa no Brasil”, aprovada pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), em 2023. A coleta global de dados aconteceu entre 2022 e o primeiro semestre de 2023 e identificou 864 pesquisas, das quais 618 continham resumos e valores de financiamento. Deste conjunto, realizou-se triagem, em março de 2024, utilizando os descritores: sexo, gênero, raça e etnia, o que resultou em 79 pesquisas. A inclusão foi realizada por revisão de pares a partir da leitura dos títulos e resumos. A amostra foi constituída de 56 pesquisas e foram estratificadas por: sexo, gênero, raça/etnia, número de projetos, valor financiado, modalidade de fomento (nacional, estadual, PPSUS) e instituição beneficiada. Ainda foram classificadas por tipo de pesquisa (biomédica, clínica, em serviços de saúde, em população e saúde pública). Os dados foram organizados em planilha Microsoft Excel 2016. Os valores financiados foram atualizados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo do IBGE (dezembro de 2021). Foi realizado o cálculo de frequências absolutas.
Resultados e Discussão Das 618 pesquisas identificadas sobre Covid-19 no Brasil entre 2020 e 2021, no valor de R$376,62 milhões, 56 pesquisas incorporaram sexo, gênero e raça/etnia (9,1%), no total de R$17,91 milhões (4,8%). Destas, a categoria sexo foi a mais usada, 69,6% (39) das pesquisas e R$12,66 milhões (70,7%). Pesquisas com intersecção de raça/etnia representaram 17,9% (10) e R$3,80 milhões (21,2%), com maior valor médio de financiamento (R$380.213) e maior desvio padrão (R$618.241), indicando maior dispersão dos valores de financiamento. Dois estudos (3,6%) incluíram gênero e R$ 0,22 milhões (1,2%). A interseccionalidade sexo e raça/etnia foi considerada em 8,9% (5) e R$1,22 milhões (6,8%).
Pesquisas sobre População e Saúde Pública (PPSP) receberam R$7,21 milhões (40,2%) em 50% (28) das pesquisas. Pesquisas biomédicas (PB) totalizaram R$3,35 milhões (18,7%) em 16,1% (9). O financiamento médio da classificação PPSP/PB foi o mais elevado (R$1.049.160), com desvio padrão de R$860.815, seguido por pesquisa clínica (PC)/PB (R$1.019.846), com desvio padrão de R$1.175.442, refletindo a distribuição desigual dos recursos.
Segundo as modalidades de fomento, editais nacionais financiaram 46,4% (26) das pesquisas, no valor de R$13,96 milhões (78%), com destaque para a Chamada MCTI/CNPq/CT-Saúde/MS/SECTICS/Decit/MS Nº 07/2020, que financiou 44,6% (25) no total de R13,30 milhões (74,3%). Editais estaduais e do PPSUS financiaram 19,6% (11) e 33,9% (19), com menor desvio padrão (R$ 72.524 e R$ 78.600 respectivamente).
Das 39 instituições beneficiadas cinco concentraram maior parcela de financiamento R$10,73 milhões (59,9%) e 30,4% (17) de pesquisas. Universidades Federais do Ceará (4), Pará (1), Piauí (2), Universidade de São Paulo (9) e Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (1).
Conclusões/Considerações finais Em um país marcado por iniquidades de sexo, gênero, raciais e sociais, torna-se ainda mais importante gerar respostas a emergências de saúde pública que não agravem desigualdades existentes nas regiões. Os resultados deste estudo demonstraram que ainda são necessários esforços a fim de promover interesse da comunidade científica na incorporação de sexo, gênero e raça/etnia nos estudos. Houve diferenças na distribuição do financiamento entre as categorias, tipos de pesquisa, modalidade de fomento e instituições beneficiadas. Ressaltando a importância de mapear e monitorar o financiamento de pesquisas para formular políticas que incentivem pesquisadores/as a incluir essas categorias, e fortalecer mecanismos de investimentos em instituições que reconheçam a interseccionalidade. É crucial aprimorar a coordenação do financiamento por meio de critérios e requisitos que possam gerar evidências científicas para minimizar as disparidades existentes e alcançar resultados em saúde equitativos.
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Fonte(s) de financiamento: Fundação de Apoio a Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
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