49103 - ERGUENDO A ESCRITA: UMA EXPERIÊNCIA DE CONSTRUÇÃO A PARTIR DE OUTRAS LINGUAGENS BIANCA MORAES ASSUCENA - IMS/UERJ, TATIANA WARGAS DE FARIA BAPTISTA - IFF/FIOCRUZ, ANDRÉ LUIS DE OLIVEIRA MENDONÇA - IMS/UERJ
Contextualização Normalmente aprendemos que escrever é um ato de apresentar, contar, uma forma de transmitir a alguém o que se pensa, aprende, sendo a escrita científica um exercício da crítica através do diálogo entre autores, apresentando contrapontos e referencial teórico articulado com o que se pretende estudar. Aprendi com alguém que perpassou meu caminho por alguns bons anos, professor Ruben Mattos, que o ato de escrever é sim argumentar, exercer nossa capacidade crítica, mas é antes de tudo uma conversa, que envolve e abraça quem escreve.
Erguer a Escrita foi uma disciplina eletiva do Programa de Pós graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Medicina Social (IMS)/UERJ, tendo como docentes os professores: André Mendonça, do IMS e Tatiana Wargas do Instituto Fernandes Figueira da Fiocruz. Contamos com uma professora convidada em um encontro. Foi uma turma grande com alunos oriundos de diferentes programas de pós graduação, inclusive alunos ouvintes. Foram oito encontros que nos proporcionaram encorpar o que trazíamos de potencial criativo e de resistência dentro de nós. Foi disciplina sentida e preenchida de afetos. Um momento de reflexão e acolhida da semana para todes. Difícil faltar alguém nos encontros.
Descrição da Experiência Falamos de nossas emoções, dificuldades, conversamos no bosque, lemos e discutimos textos de pessoa insurgentes hoje como Ailton Krenak, Conceição Evaristo, Nego Bispo e outres. Cantamos e dançamos, colorimos a sala, em dinâmicas fizemos poesia, escrevemos bilhetes, biodanzamos, ofertas nossa criatividade ao coletivo. Uma turma de quase quarenta alunos, posso dizer que em unanimidade, foi disciplina cheia de afetos. Um momento de reflexão e acolhida da semana para todes.
Dentre nossas atividades tivemos, conversas sobre textos, saraula, dinâmicas, aula no bosque, ciranda e atividade pedagógica externa. Fomos ao Circuito da Pequena África e Casa Escrevivência de Conceição Evaristo.
A provocação de que todos podemos criar e nos mobilizar pelos nossos afetos fez desse espaço extremamente rico, onde foram apresentados como ofertas pelos discentes: vídeos de músicas, textos, cartas, podcasts, esquete, rap, bordado, lanchinhos, quadros, história de vida, poesias. Um potencial de extrapolação de cada um. A minha oferta ao coletivo foi um texto à minha escritora em descoberta.
Objetivo e período de Realização
A disciplina teve como objetivo propor liberdade e valorização da escrita a partir da subjetividade e vivências de cada um. Foi realizada no primeiro semestre de 2024 no IMS/ UERJ.
Resultados À minha escritora em descoberta,
Foi carta, Poesia, Conto, agora só um amontoado de palavras de confusos significados a disputar sentidos em uma escrita despretensiosa. Brotamos em cores, danças, conversas, cantos. Poemizamos em palavras desencontradas que nos lançou a convocação da arte e da liberdade. Bailamos na sombra da árvore, envolvides pelos galhos raízes, sentindo o chão e nos conectando às forças natureza. Vimos seres que nos convidam a nos expressar. Animais das árvores, do chão, dos céus. Rodamos, escrevemos, bilheteamos a alguém. Erguemos a escrita. Erguemos a voz, como nos convoca Bell.
Me expresso em tons ora de liberdade, ora de necessidade, por vezes amontoados de receios. Escrevo para mim, pois liberta a alma, faz perceber o que está invisível ao corpo. Escrevo para me encontrar, pesquiso para me construir. Aqui somos rede de afeto, de mãos dadas com Tatianas, Magdas e Andrés. Ergo a minha escrita em aprendimento, aprendizado com despreendimento, que de dentro da sala do espaço acadêmico nos convidamos a um outro pesquisar preenchido de sentipensar. Estamos reconectando esse espaço a outra forma de fazer ciência. Estamos em uma urgência. Vamos sem nos perder.
Aprendizado e Análise Crítica A experiência de intensidade de trazer para fora quem está dentro da gente que a disciplina Erguer a Escrita nos proporcionou, destravou. A mim possibilitou avançar. Talvez seja por aqui alguns dos caminhos de enfrentarmos o Horrores metodológicos que Mary Jane Spink nos chama atenção, talvez diante da trava e da nossa incapacidade de seguir em dado momento em nossas escritas de nossos trabalhos acadêmicos, pausar pode ser um caminho, tentar outras linguagens, olhar o que está a volta, escrever e somente escrever, ou dançar, ou admirar algo. A mim, escrever sobre vida destrava, me ajuda a voltar e me relocar no meu texto. Sem dúvida, faz toda diferença estar juntes de pessoas que possam respeitar nossos momentos de vida, travas e valorizar nossos conhecimentos. Escrever é antes de tudo para nós mesmos e para produção de vida em diálogo com o que somos e onde estamos no mundo.
A disciplina me ajudou a me enxergar como autora dos meus textos, a trazer voz para minhas letras. Voltando àquele amigo que falei no início desse texto, Ruben Mattos, ele me disse que o ato de escrever é como jogar garrafas ao mar, ao serem lançadas, não sabemos aonde irão parar e quem as abrirão e como interpretarão o que vão encontrar dentro dela. Desta forma, lanço meu experienciar de uma disciplina que propôs desconstrução em garrafas ao mar a quem quer seja.
Referências HOOKS, B. Tudo sobre o amor: novas perspectivas. São Paulo: Elefante, 2021
KRENAK, A. Ideias para Adiar o Fim do Mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2020
MATTOS, R. A. Sobre o ato de escrever, 2008 . Não publicado
SANTOS, A.B. A terra dá, A terra quer. São Paulo: Ubu Editora/Piseagrama, 2023.
SPINK, M. J.P.; MENEGON, V. M. A pesquisa como prática discursive: superando os horrores metodológicos. In SPINK, M. J.P (org.) Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e metodológicas. São Paulo: Cortez, 2000, p. 63 – 92.
Fonte(s) de financiamento: Própria
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