54157 - IMPACTO DA VACINAÇÃO CONTRA HPV NO SUS: ANÁLISE DA TENDÊNCIA DA DOENÇA E OS DESAFIOS DA SUBNOTIFICAÇÃO MATEUS DUARTE DUMONT DE MATOS - UFCA, ARTHUR HENRIQUE DE ALENCAR QUIRINO - UFC, JOÃO PEDRO DE OLIVEIRA GOUVEIA MARCOTTI - UFC, EDUARDO HIROSHI TIKAZAWA - USP
Apresentação/Introdução O HPV (Papilomavírus Humano) é um grupo de vírus que pode infectar a pele e as mucosas, sendo responsável pela maioria dos casos de câncer do colo do útero e uma das principais causas de mortalidade em mulheres mundialmente. A relação entre o HPV e o câncer cervical já foi bem estabelecida, com estudos demonstrando que parcela significativa dos casos de cânceres uterinos são causados por infecções persistentes de tipos oncogênicos do HPV, sobretudo o 16 e o 18. A criação da vacina contra o HPV foi um marco revolucionário na prevenção de tal doença e, no Brasil, a imunização começou a ser ofertada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 2014, primeiramente com o público-alvo composto por meninas de 9 a 14 anos. De início, houve certa desinformação em relação ao processo, mas, atualmente, consolidou-se como amplamente aceito, sendo considerado uma importante medida de saúde pública. Nesse sentido, uma década após o seu começo, torna-se essencial avaliar o impacto dessa estratégia na incidência de neoplasias no país e os seus resultados até o momento, pois ao refletir sobre o planejamento já realizado, pode-se otimizar a gestão e promover a melhora da qualidade de vida da população.
Objetivos Descrever a quantidade de internações por neoplasia maligna do colo de útero no Brasil no período de 2014 a 2022 e comparar esses dados com o montante aplicado da vacina contra papilomavírus humano 6, 11, 16 e 18 (recombinante).
Metodologia Estudo transversal, descritivo e quantitativo, mediante coleta de dados no Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) e nas Imunizações, vinculados ao DATASUS. As internações por neoplasia maligna do colo de útero foram analisadas de 2014 a 2022 no Brasil, segundo a variável do ano de atendimento. As doses aplicadas de imunobiológicos da vacina quadrivalente contra HPV no público feminino foram estudadas também no mesmo período, seguindo a divisão pela mesma variável. A coleta ocorreu no dia 31 de maio de 2024 e foi realizada com auxílio do Excel para organização dos dados tabulados. Não foi necessária a aprovação do Comitê de Ética, tendo em vista que os dados são de domínio público
Resultados e Discussão Entre 2014 e 2022, foram administradas 31.382.288 doses da vacina quadrivalente contra HPV em mulheres. O maior número de doses ocorreu em 2014, com 7.948.224, seguido de uma queda gradual: 5.857.290 em 2015, 2.372.551 em 2016, 3.252.310 em 2017, 2.459.311 em 2018, 2.380.529 em 2019, 2.647.551 em 2020, 2.241.123 em 2021 e 2.223.399 em 2022. Apesar da redução nas doses anuais, infere-se um aumento na vacinação devido à melhoria na cobertura e acesso ao longo dos anos. Nesse período, foram registradas 198.323 internações por neoplasia maligna do colo do útero: 20.369 em 2014, 20.313 em 2015, 20.177 em 2016, 21.234 em 2017, 22.135 em 2018, 24.045 em 2019, 22.204 em 2020, 23.499 em 2021 e 24.347 em 2022. Observa-se redução nas doses administradas e um aumento nas internações por câncer de colo do útero. Esse crescimento nas internações pode ser atribuído a fatores como o aumento dos diagnósticos, a redução do acompanhamento preventivo durante a pandemia, o aumento da sobrevida com as vacinas e, consequentemente, múltiplas reinternações, uma subnotificação anterior, que teria sido continuamente corrigida. A análise limita-se ao período de 2014 a 2022 devido à falta de dados consistentes anteriores a 2014, impossibilitando uma avaliação completa de uma década. Além disso, as campanhas de imunização não foram atualizadas até 2023, restringindo a avaliação de tendências mais recentes. A subnotificação pode mascarar a verdadeira dimensão dos problemas de saúde pública, uma vez que interfere diretamente no cotidiano do SUS e na tomada de decisões sobre políticas de saúde. É essencial intensificar os esforços para melhorar a cobertura vacinal e garantir o acompanhamento preventivo contínuo, visando reduzir a incidência de neoplasias malignas do colo do útero e suas internações.
Conclusões/Considerações finais O maior número de internações foi em 2022, evidenciando a importância contínua da vacinação para a prevenção do câncer do colo do útero. Essa linha de tendência de crescimento nas internações, mesmo com a disponibilidade da vacina, sugere a necessidade de que a gestão em saúde atue de forma a intensificar as campanhas de imunização e conscientização social, bem como a prevenção citopatológica. Esses processos são fundamentais para a prevenção a longo prazo do câncer do colo do útero, reduzindo as internações e a mortalidade associadas a essa doença. Portanto, é fundamental reforçar políticas públicas que garantam a ampla cobertura vacinal, visando a diminuição significativa das internações hospitalares relacionadas a neoplasias malignas do colo do útero.
Referências SALTON, M. C. T.; DANELUZ, L. B.; LUZ, G. DOS S. Análise da Taxa de Mortalidade geral no estado Paraná, 2014 a 2018/ Analysis of the general mortality rate In the State of Paraná, 2014 To 2018. Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 7, p. 75426–75437, 30 jul. 2021
BRUNI, Laia; ALBERO, Giulia; SERRANO, Belén; MENA, Maria; GÓMEZ, Daniela; MUÑOZ, Julia; BOSCH, F. Xavier; DE SANJOSÉ, Silvia. Human Papillomavirus and Related Diseases in Brazil. ICO/IARC Information Centre on HPV and Cancer (HPV Information Centre), 2019. Disponível em: https://hpvcentre.net/statistics/reports/BRA.pdf. Acesso em: 3 jun. 2024.
ILLA, L. L. et al. Prophylactic quadrivalent human papillomavirus (types 6, 11, 16, and 18) L1 virus-like particle vaccine in young women: a randomised double-blind placebo-controlled multicentre phase II efficacy trial. The Lancet Oncology, v. 6, n. 5, p. 271–278, maio 2005.
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