04/11/2024 - 17:20 - 18:50
RC10.2 - Novas perspectivas em ciência e tecnologias para produção de políticas e serviços que ecoem as necessidades de saúde concretas da população |
53539 - AGENDAMENTOS DE CONSULTAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: SÍNTESE DE EVIDÊNCIAS PARA APOIO À DECISÃO DA GESTÃO
SANNI SILVINO PARENTE - PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTOS, MARITSA CARLA DE BORTOLI - INSTITUTO DE SAÚDE
Apresentação/Introdução
O acesso na atenção primária se refere à qualidade do cuidado prestado e deve suprir as demandas programadas e espontâneas em tempo oportuno e privilegiando acontinuidade do cuidado. Existem três modelos descritos de organização da agenda (tradicional, carve-out e acesso avançado), definidos a partir do percentual de vagas destinadas à oferta de atendimentos do dia e modelos de processos de trabalho. Entretanto, em todos eles há a possibilidade de se implementar estratégias de melhoria do acesso. Essas iniciativas são descritas na literatura nacional há mais de uma década, porém ainda se constata um modelo de agendamento excludente, com formação de filas de espera e sem garantia de oferta de cuidados em tempo oportuno, apontando para outra barreira que é a baixa utilização das evidências de estudos na tomada de decisão prática por gestores e profissionais de saúde. Diante do desafio do agendamento de consulta na atenção primária à saúde, verifica-se a oportunidade de apresentar aos tomadores de decisão estratégias da literatura científica, adequadas para implementação em diferentes contextos.
Objetivos
Identificar na literatura científica as estratégias capazes de melhorar o processo de agendamento de consultas em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) com a finalidade de ampliar o acesso, contextualizando-as à realidade da APS
Metodologia
Foi elaborada uma Síntese de Evidências para Informar Políticas, e realizado um Diálogo Deliberativo com a participação de atores sociais relevantes para o problema para a troca de experiências sobre os achados. Uma busca foi realizada em dez bases de dados da literatura científica e em uma base de literatura cinzenta. Os estudos passaram pelas etapas de triagem, elegibilidade e extração, realizadas por duas revisoras independentes. Os resultados dos estudos foram agrupados segundo similaridade e descritos na síntese, com foco no apoio aos tomadores de decisão e com linguagem acessível aos diversos interessados. Em seguida, foi realizado um Diálogo Deliberativo com a participação de atores sociais, buscando discutir aspectos relacionados à implementação e equidade das estratégias. A avaliação do conteúdo resultante do diálogo foi realizada por análise temática.
Resultados e Discussão
As buscas resultaram em 1.190 títulos, que após triagem e seleção restaram 40 estudos para a etapa de elegibilidade. Após a leitura na íntegra, 14 revisões sistemáticas foram incluídas para extração. Os resultados foram classificados em seis opções, descritas em ordem decrescente de quantidade de estudos que as descrevem: 1) Ampliação da oferta de consultas do dia; 2) Monitoramento por equipes multidisciplinares; 3) Aumento da capacidade; 4) Pacotes de intervenção; 5) Intervenções prévias ao agendamento da consulta; 6) Regulação entre os níveis de atenção. As considerações sobre implementação e equidade de todas as opções foram levantadas em estudos nacionais por meio de nova busca, e a partir dos resultados do diálogo de políticas. Evidenciou-se que essas opções podem ser implementadas de forma parcial ou completa, associadas ou não. Levantou-se barreiras e facilitadores para a implementação de cada uma delas em relação à quatro níveis: usuários do serviço, profissionais, organização dos serviços e sistemas de saúde. Nota-se que a ampliação da oferta de consultas destinadas à demandas que surgem no dia está amplamente presente na literatura. Além disso, a literatura evidencia a reorganização dos processos de trabalho e incentivo ao intercâmbio de informações e decisões entre os profissionais de saúde e preveem ampliação na capacidade de atendimento. Várias dessas opções incluem a incorporação de tecnologias e ferramentas de comunicação entre profissionais e pacientes. O diálogo contribuiu com evidências locais relevantes para a implementação de cada uma das opções.
Conclusões/Considerações finais
A síntese oferece o embasamento teórico para a implementação de diversas estratégias de agendamento de consultas na atenção primária, com a finalidade de melhorar o acesso, como subsídio para a tomada de decisão por gestores e profissionais de saúde. O diálogo contribuiu positivamente agregando evidências locais relevantes que devem ser consideradas durante a implementação e abordou aspectos relevantes no âmbito das iniquidades em saúde, potencialmente agravadas ou atenuadas com a implementação de cada uma das opções. Entretanto, em virtude de limitações na metodologia, principalmente relacionadas aos locais de publicação dos estudos primários e secundários utilizados e à qualidade criticamente baixa das evidências encontradas, os resultados precisam ser considerados com cautela.
Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde. Departamento de Ciência e Tecnologia. Diretriz Metodológica: síntese de evidências para políticas [Internet]. 1o ed. Brasilia; 2020.
Canuto LE, Silva AFL da, Pinheiro LSP, Canuto Júnior JCA, Santos NLP dos. Estudo da demanda de uma equipe da Estratégia Saúde da Família que utiliza o acesso avançado como modelo de organização da agenda. Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. 2021 Apr 5;16(43):2378.
Postal L, Celuppi IC, Lima G dos S, Felisberto M, Lacerda TC, Wazlawick RS, et al. Sistema de agendamento online: uma ferramenta do PEC e-SUS APS para facilitar o acesso à Atenção Primária no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva. 2021 Jun;26(6):2023–34.
Vidal TB, Rocha SA, Harzheim E, Hauser L, Tesser CD. Modelos de agendamento e qualidade da atenção primária: estudo transversal multinível. Ver Saude Publica. 2019; 53:38.
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